|
Eucalipto em défice na floresta portuguesa
Clonagem pode ser solução
O Presidente da República, Jorge Sampaio, vai
promover nos próximos dias uma presidência aberta dedicada às
florestas, segundo fonte da organização do seminário "O
Eucalipto na Floresta Portuguesa e do Sul da Europa", que decorreu
na Figueira da Foz na última terça-feira, 8.
As vicissitudes e fragilidades com que se depara a produção de
eucalipto, ainda insuficiente para abastecer o mercado nacional, o
futuro previsível da floresta portuguesa e a relação entre produtores
e industriais de celuloses, foram alguns dos temas em debate.
As conclusões acabaram por não ser muito positivas, nem para uns, nem
para outros. A realidade esboçada pelos intervenientes tornou patente
que a ideia negativa que se desenvolveu em torno do eucalipto, como
opção de cultura, insiste em manter-se na sociedade portuguesa.
A indústria portuguesa do sector continua fortemente dependente do
mercado exterior, dado existir um acentuado défice de eucalipto a
nível nacional.
Todos os anos, as indústrias de celuloses consomem (ou transformam)
entre quatro a cinco milhões de metros cúbicos de eucaliptos. Parte
deste consumo, designadamente 800 mil metros cúbicos, é garantido pela
importação.
"É um facto que existe aumento de procura. É também um dado do
conhecimento geral de que temos capacidades tecnológicas e mercado, mas
infelizmente temos de recorrer às importações, o que acarreta custos
acrescidos", sublinhou o presidente da Comissão Executiva da
Aliança Florestal, Rogério Freire.
Mais competitividade para baixar os custos
Um problema que, segundo os especialistas
presentes no seminário, tende a manter-se, dado que as previsões
apontam para que o consumo continue a delinear uma tendência de alta.
Uma das alternativas suscitadas no seminário para suprir tal défice de
produção foi a da utilização de clones de eucaliptos, técnica já
utilizada pela Soporcel e Portucel.
A Aliança Florestal (AF), empresa criada na passada semana para gerir o
património florestal da Portucel e Soporcel, está a desenvolver um
programa dirigido aos proprietários privados, que inclui não só a
venda de clones de eucaliptos, como também o apoio ao nível das novas
tecnologias, já aplicadas pela indústria.
Segundo Oliveira Martins, da Soporcel, a ideia é levar os pequenos
produtores a utilizarem as técnicas detidas pela indústria, o que lhes
permitirá aumentar a produtividade sem acréscimo de custos.
A luta por uma maior competitividade, tendo em conta que competitividade
consiste na capacidade de produzir madeira ao mais baixo custo, foi uma
das metas mais alegadas no seminário. Para tal, defendeu Gonçalves
Ferreira, da RAIZ, "é necessário fazer uma gestão sustentada da
floresta".
Pequenos produtores mostram-se insatisfeitos
E é precisamente este o objectivo da Federação
dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP), que no próximo mês vai
lançar no terreno um projecto, orçado em 138 mil contos, para analisar
o nível da gestão florestal e os seu impacto nos custos dos produtores.
O projecto, comparticipado em 70 por cento pelo programa comunitário
PAMAF, irá abranger todo o território continental, designadamente as
sete zonas agrárias.
Apesar de terem sido anunciadas várias iniciativas para melhorar e
maximizar a produção florestal, os pequenos produtores florestais,
mostraram-se insatisfeitos, acusando as grandes empresas de estar a
criar uma concentração ao nível da produção e do abastecimento.
"O sector florestal começa a ser liderado por duas ou três
grandes grupos e as organizações a montante da indústria estão a
ficar sem poder negocial", acusou um dos participantes, referindo-se
à recente criação da Aliança Florestal.
Em resposta, Rogério Freire, admitiu, de facto, a existência de uma
concentração nas celuloses, deixou claro que a AF foi criada apenas
para gerir o património das duas empresas-mãe e lançou aos produtores
queixosos a proposta de também eles optarem por se concentrar.
|
|