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A universidade e o sucesso escolar

No dia 10 de Fevereiro último o Prof. António Tomé colocou na ubi-list um texto retirado do Sunday Times de 6 de Fevereiro acerca da chantagem de alunos sobre professores na atribuição de notas. Escrevia o Prof. Tomé: "Após as últimas jornadas pedagógicas realizadas pelos estudantes, e também em face de muitas afirmações proferidas por entidades responsáveis desta casa, talvez seja a altura de nos debruçarmos sobre textos como o que agora vos envio". Infelizmente ninguém, mas mesmo ninguém, comentou o texto, ou reagiu de qualquer forma ao e-mail do Prof. Tomé. Abulia que em nada abona a favor dos docentes da UBI.

O insucesso escolar é um problema, claro que é. Mas tentar resolvê-lo com medidas de cariz administrativo, é mau. Dantes o insucesso era sobretudo de quem chumbava, agora parece ser de quem chumba. As universidades portuguesas tentam enfrentar o problema mediante um conjunto de medidas, que invariavelmente comportam uma sobrecarga absurda de tarefas administrativo-pedagógicas dos docentes. O texto de opinião do Prof. Moisés Martins (catedrático da Universidade do Minho, e que já foi docente da UBI) nesta edição do Urbi et Orbi constitui uma crítica a essas medidas. Cito um passo desse texto: "Para dar conta do seu comportamento no mercado, da sua eficácia, a Universidade entendeu mergulhar em intrincados processos de auto-avaliação interna e externa. (...) Aos docentes obriga-os, de forma organizada e sistemática, a dar conta de um sem número de empecilhos académicos, que a supervisão pedagógica justifica. (...) Aos alunos pede-lhes o controlo do desempenho dos seus professores, não vão estes abrandarem no interesse pelo pedagogismo e pelo didactismo, em benefício da actividade crítica e científica".

Com tanta avaliação e tantas medidas de implementação de sucesso escolar, os universitários correm o risco de não ter tempo para fazer aquilo que é suposto ser avaliado: o ensino e a investigação. Quem quiser ensinar bem e fazer investigação a sério não dispõe de tempo, nem de espírito, para formulários e formulários que em nada ajudam os alunos, mas apenas servem às estatísticas de serviços burocráticos.
Se há algo que mais motiva um aluno isso é um professor, verdadeiro scholar, conhecedor da matéria que ensina, reconhecido pela comunidade científica. Só assim os alunos poderão corresponder - e nesse caso até correspondem! - às exigências do estudo universitário. Não há medidas pedagógicas, por melhor que sejam, que possam substituir a ciência crua e dura que se traduz na investigação feita. Como pode um aluno corresponder, e, quando caso disso, fazer das tripas coração, com docentes que repetem anos a fio os mesmos programas e matérias, que não escrevem livros ou artigos, que não apresentam comunicações nos congressos científicos? O sucesso escolar deve passar pela exigência científica dos docentes e dos alunos. E tudo o mais vem por acréscimo.

António Fidalgo


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