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Um filme de
Pedro Almodóvar


tudo sobre a minha
MÃE

POR PEDRO JESUS

Tal como já o fora Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, um dos filmes de Pedro Almodovar que maior aceitação reuniu internacionalmente, Tudo Sobre a Minha Mãe é um filme eminentemente feminino. Aqui os homens têm um papel reduzido, dando-se maior ênfase às vivências de várias personagens que nascerem mulheres ou se assumem como tal.
Ainda assim, o acontecimento que dá origem ao desenrolar da acção, e que acaba por se traduzir na convivência destas personagens, é protagonizado pelo filho de Manuela. Precisamente no dia que este completa o seu 18º aniversário, mãe e filho decidem comemorar a data, porém a tragédia abraça estas personagens. Manuela compreende então que só poderá exorcizar a sua dor ao encontrar o pai do seu filho, um travesti que "reúne em si o pior dos homens e das mulheres". A missão não se revela fácil e Manuela empreende uma busca, ao mesmo tempo que, enquanto ser humano, se despoja dos requisitos necessários a uma vida confortável.
Mas paralelamente à viagem física, Manuela desce ao fundo de si própria, da sua juventude - há muito deixada no baú das memórias distantes - e daquilo que lhe é humanamente possível suportar nos outros. Trava conhecimento com a delirante Agrado, uma prostituta transexual com uma curiosa filosofia de vida, com a Irmã Rosa, um freira infectada com HIV, e também com Huma, a consagrada actriz que vive um conturbado relacionamento com sua parceira profissional e amorosa, viciada em drogas duras.
Mas não se pense que este é "apenas" um desfile de personagens bizarras. O filme é na realidade um melodrama com capacidade de angustiar o espectador, muito por causa de Manuela, personagem interpretada por uma excelente Cecilia Roth, que mediante a "cruz" que carrega, consegue uma prestação de uma sobriedade verdadeiramente incomum.
Os fantasmas habituais na obra do realizador estão todos presentes: as sexualidades "paralelas" e as personagens, que embora pouco convencionais, parecem mover-se num mundo em que estão perfeitamente integradas, como se não existissem quaisquer tipos de preconceitos. Contudo, o trunfo de Almovodar, para além de um apuramento técnico cada vez mais notório, consiste em conferir às personagens motivações para cada um dos seus actos, algo que não era tão evidente em filmes do realizador como Negros Hábitos, uma película com um leque de personagens perfeitamente inenarrável.
Li algures que com esta película Pedro Almodovar consegue finalmente cimentar a importância do seu cinema. Pessoalmente acredito que Tudo Sobre a Minha Mãe, mais que uma revelação, é antes a confirmação do talento do homem que já nos tinha oferecido retratos humanos fortíssimos em peliculas como Kika, Saltos Altos ou Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
Para o fim, fica a referência à carreira verdadeiramente invejável que o filme tem alcançado, recolhendo prémios em todos os festivais de cinema por onde passa, desde Cannes, onde arrecadou o prémio referente à melhor realização até aos césares do cinema francês e aos óscares de Hollywood, cerimónias onde alcançou a distinção de melhor filme de língua estrangeira.

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