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A utilização de animais no circo vai ficando cada vez mais obsoleta

As "feras" do circo

A outrora considerada "arte nobre do entretenimento" vive hoje dias de agonia. As digressões são cada vez mais raras e as companhias circenses perderam grande parte do brilho e da grandiosidade com que inundavam cidades, vilas e aldeias. Sinais dos tempos que não escondem a decadência e não disfarçam as dificuldades de quem do circo ainda faz forma de vida. Exemplo chocante deste estado de coisas são as condições em que vivem os animais ditos "selvagens". Leões, tigres, agora até hipopótamos, vegetam meio inanimados em camiões transformados em jaulas. Apertados, sujos e desorientados. Antigamente não seria melhor, é certo. Mas se também não o é hoje em dia, pelo menos que algumas das associações de defesa dos animais e da natureza levantassem a questão. De uma forma séria e capaz de encontrar soluções que agradassem a todas as partes. Principalmente aos bichos, mas também aos artistas, cujos objectivos principais não são, com toda a certeza, maltratar os animais. Só que, num mundo em que a televisão e os seus conteúdos tendem, tantas vezes, a alterar nas crianças a noção da realidade, olhar para feras adormecidas em tranquilizantes pode ser, só por si, um factor irreversível de descrédito. Ou seja, será que uma criança (ou um adulto) prefere ir ao circo ver "feras" que mais parecem mortas que vivas, ou escolhe ficar em casa a ver um espectáculo televisionado em que os animais são, de facto, assustadores e os domadores verdadeiramente destemidos?

NC / Urbi et Orbi


Regulamentar a actividade circense em Portugal ganha urgência
O fim da "família tribo"

Que o circo já não é o que era é uma conclusão fácil de tirar. Como tudo, também a arte circense tem que se adaptar aos novos tempos. Se não o fizer, corre o risco de se tornar obsoleta e desaparecer. Mas se noutros países essa adaptação já tem vindo a acontecer, em Portugal o circo permanece arreigado a velhos valores, que de dia para dia o fazem perigar. Um deles é o uso de animais nos espectáculos.

Animais apáticos, sem espaço, subnutridos, ... eis o retrato do outro lado da magia circence. Um retrato descrito num relatório da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais (LPDA), a que o "Público" teve acesso. Dados perturbadores, resultantes da falta de regulamentação e de inspecção, apesar das suspeitas de violência existentes, nomeadamente no que concerne a métodos de amestramento e às condições em que os animais são mantidos.
A Direcção-Geral de Veterinária (DGV), entidade responsável pela saúde e bem-estar animal, declara que, quando entre 1997 e 98 visitou todos os circos portugueses, não detectou irregularidades maiores. No entanto, declara estar a trabalhar num projecto de decreto-lei que, pela primeira vez, se propõe regular a actividade dos circos.

Sobreviver sem apoios

Mas para os empresários circenses, proibir a exibição de animais é matar o espectáculo. Um espectáculo que, dizem, tem vindo a esmorecer também devido à falta de apoio governamental. A sobrevivência só vai sendo possível com as receitas da venda de bilhetes, mas o dinheiro que daí resulta não permite dar as condições ideais nem a artistas nem a animais.
É também neste sentido que a LPDA sublinha a importância da renovação e da descoberta de novas formas de arte. Isso passa "inevitavelmente" por abandonar a visão utilitária que temos em relação aos animais, "pois eles não existem para nos divertir".
Fora de Portugal há circos fixos, com hotéis, parques temáticos, restaurantes e sem animais. Circos que procuraram novas formas de expressão e souberam crescer com o público, adaptar-se a ele e às suas necessidades. Se a "família tribo" portuguesa não se consciencializar da necessidade de mudar em função dos novos públicos de hoje, é provável que o circo tenha mesmo os dias contados.






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