Clique aqui para regressar à Primeira Página

      

Opinião       



 

 
Pedro Homero
 

Devorados por ondas hertzianas

Ultimamente tem-se assistido a um reavivar das discussões relativas à guerra das audiências e, portanto, ao modo como é tratado o espectador pelos media.
Não nos iludamos: nós estamos numa economia neo-liberal de mercado (do género abocanha-o-que-puderes, em bom vernáculo) onde as empresas são máquinas devoradoras de dinheiro, muitas das quais multinacionais e interessadas num só objectivo: a multiplicação dos lucros dos seus accionistas. É assim. Ponto final.
Nesta lógica de mercado canibal, é natural que sobrem vítimas, pedaços de carne deixados ao relento e que sustentam a grande roda financeira, seja sob a forma de trabalhador de 2º e 3º mundo explorado seja sob a capa de 'participante activo', como gostam de fazer parecer que os espectadores são.
As televisões não são Santas Casas da Misericórdia. Também não são associações para o desenvolvimento cultural e social das populações. São empresas como a Lever, por exemplo. Esta vende detergentes, aquelas anúncios. Por forma a ter mais clientes, um hipermercado faz promoções ou baixa os preços de produtos-chave. As televisões oferecem aos seus clientes, isto é, as empresas que nelas anunciam, programas que atraem o maior número de potenciais compradores para os produtos dessas mesmas empresas. Assim se percebe que não são os anúncios que intervalam os programas, mas exactamente o contrário. Os programas só existem para conseguirmos ter pessoas a olhar para aquela caixa idiota e fazê-los comprar os nossos produtos.
Quando um país chega a um nível de 'desenvolvimento' - prefiro chamar-lhe antropofagia de mercado - onde já se perdeu toda a vergonha na cara, atinge-se o nadir da psicologia colectiva, com Ratinhos, Big Brothers, etc., a face mais visível de um problema que atinge toda a programação.
Uma ex-deputada que - plim! - volta a ser jornalista e que é de novo imparcial (!), uma recolocação dos programas conforme a grelha sempre mutante da concorrência, um desrespeito já não disfarçado no contacto com o público, como na resposta à revista Premiere, dada pela TVI, acerca do horário (ou da falta dele) da série Seinfeld, etc., etc. É assim meus amigos. É assim e boca fechada e é se querem e acabou. Que isto de elevar o sentido de cidadania e de tornar-nos melhores humanos já era. Agora somos gráficos de barras e estatísticas valiosas, portanto, pouca bulha!

 [ PRIMEIRA PÁGINA ]