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Opinião       


 


Pedro Homero

Autoritarismo na Academia

Um novo ano lectivo começa e com ele retorna uma praga que parece assolar a nossa Academia, bem como quase todas as outras neste país, por esta altura, e que responde pelo nome de praxe.
Tal mal académico grassa pela UBI nos primeiros meses de cada ano lectivo e no entanto parece ser tolerado abertamente por quase toda a gente. Quase toda.
Existe uma enorme pressão na camada estudantil, e sei disso porque já fui cá estudante, para que te 'integres', ou melhor, para que pies fino e não vás contra o status quo instituído. Isto é, que sejas carneirinho nas tuas escolhas, que faças o que os outros te dizem, para que mais tarde possas ser tu a mandar outros fazer o que tu queres.
Este tipo de acção é claramente de teor autoritário, assente em grande medida no medo que os recém-chegados têm de vir a perder oportunidades académicas, como a partilha de cadernos, a participação na latada, etc., ou que sejam ostracizados. No entanto, a verdade é bastante diferente - aqueles que praxam são, em boa parte dos casos, aqueles que depois esquecerão aos praxados. Existem excepções, como em tudo, mas o problema, creio, está na base da questão: uma figura que se julga com poder, exerce coacção sobre outra. Mesmo que as intenções sejam boas, seja lá isso o que for, só demonstra incapacidade do praxante de integrar o praxado sem ser por esse mesmo meio absurdo - a praxe.
Os argumentos da tradição e do espirito académico, espécie de bandeira tímida que os praxantes gostam de abanar quando se mostra a natureza das suas acções, são facilmente abanáveis. Uma tradição importada da Coimbra pré Maio de 68, onde as praxes serviam para aniquilar qualquer espírito inconformista e anti-fascista só poderá ser considerada como aberrante num Estado de Direito e que se quer Democrático como o nosso. Por outro lado, o espírito académico vê-se na luta pelos direitos estudantis e não pelo vinho que se emborca.
Uma situação que foi sempre silenciada, mas que está, creio, mais 'leve', é a respeitante ao que se passa nas Residências Académicas. Verdadeiro palco de praxe, as residências, sobretudo as masculinas, tiveram, ao longo da história ubiana, um rol de abusos a serem cometidos diarimente durante os primeiros três meses de cada ano lectivo. Privação de sono, jogos de humilhação e espírito geral de caserna de infantaria definiram, durante muito tempo, o teor autoritário e militarista que lá se vivia, em que os 'sargentos' domavam os 'magalas'. Desconheço se ainda será assim, mas se o ambiente for tão coercivo como era 'no meu tempo', então a Academia continuará alegremente a fazer vista grossa desses abusos. E os estudantes a clamarem por justiça no orçamento e por mais respeito pelos seus direitos, quando entre eles existem muitos que, com 'poder' nas mãos, fazem exactamente o mesmo que o Ministério da Educação com eles. Mas claro, quando somos nós a oprimir não é opção, é integração, certo?

 

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