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Editorial        



 
António Fidalgo

Ainda a UBI e a Covilhã

Publica esta semana o Urbi um artigo de opinião de Pedro Guedes que, dos Estados Unidos da América, responde ao artigo de António Soares "Porque as cidades são eternas", publicado no Urbi da semana passada, que, por sua vez, reagia ao meu editorial de há 3 semanas, aquando do dia da cidade, intitulado "Para uma Covilhã universitária". Esta série de reflexões sobre a ligação da UBI e da Covilhã ganha ainda maior acuidade com a recente acusação de Vítor Pereira, feita destaque de primeira página no último número (03.11.00) do Jornal do Fundão, de que "A Câmara da Covilhã faz guerrilha à universidade".
É inegável que as as relações entre a UBI e a Covilhã poderiam e deveriam ser muito melhores, para bem quer de uma quer de outra. O difícil relacionamento vem de longe, e cito como exemplo o discurso do presidente da Câmara Municipal da Covilhã em 30 de Abril de 1992 na Assembleia Municipal em que faz um relato pormenorizado dos muitos e mútuos gravames entre a UBI e a CMC. Cito da acta da sessão um pequeníssimo passo desse discurso, mas que exprime bem, a meu ver, o seu teor: "Todos nós nos orgulhamos da Universidade, mas o seu percurso não coincide com o nosso Concelho e cidade. (…) Não nascemos há seis anos com a criação da Universidade. Nem nasceu na década de 70, quando o Instituto Politécnico foi criado. É preciso que se diga isto, para que uma certa grandeza, um novo riquismo de números à volta da instituição, nos permita ter uma noção que somos uma cidade industrial, de que temos 8000 operários, centenas de quadros médios e técnicos, de que temos um corpo estudantil e docente no ensino secundário que nada tem a ver com a Universidade, que já existia." O reitor era à altura o Prof. Passos Morgado e o presidente da CMC era o Sr. Carlos Pinto, no seu primeiro mandato. Não importa aqui atribuir culpas, importa apenas referir que as crispações vêm de longe. Olhando para o excelente relacionamento que tem havido entre o Politécnico de Castelo Branco e a respectiva autarquia, de que dá conta um artigo publicado no último número do Ensino Magazine, não só tais crispações são de lamentar, como se torna crucial ultrapassá-las.
Concordo com António Soares quando afirma que "uma universidade é muito mais do que uma grande empresa", e que o seu valor tem de ir muito além dos milhões de contos que o Governo Central injecta na economia local, já que, caso contrário, não se destrinçaria "de uma fábrica de automóveis, de uma qualquer disneylandia ou de uma unidade militar". Tenho também a "humildade de reconhecer que a UBI, como tantas outras universidades por esse país, estão transformadas em fábricas de licenciados e que dificilmente encontraremos uma referência nos media a um produto de investigação com aplicação relevante numa indústria localizada nas suas áreas". Comungo ainda da sua opinião de que, por exemplo, não foi capaz de "trazer um novo fôlego aos têxteis de lã, motivando a fixação de novas empresas e empresários, desenvolvendo métodos e técnicas que, valorizando o potencial da mão da obra residente e de excelente qualidade, com um saber de experiência feito ao longo de gerações, tornassem igualmente rentável e atractiva uma actividade industrial agora reconvertida tecnologicamente". Considero pois que a cidade teve e tem legítimas expectativas face à universidade que esta não soube satisfazer. E mais, acho que a Covilhã deverá ser exigente com a universidade, exigir que seja uma boa universidade e não se limite a viver do estatuto de um útil veículo governamental de intervenção económica numa região desfavorecida.
Não concordo, porém, que as cidades sejam eternas (apelido que só a Roma cabe, e meramente em sentido religioso!). Sem ir a casos fora, olhe-se para Idanha a Velha, outrora sede da diocese egitaniense. Claro que a Covilhã persistiria sem a universidade, mas com que dimensão e estatuto? Não diz ainda a cantiga que Castelo Branco é vila e Penamacor é cidade? Isso foi verdade em tempos, mas o caminho de ferro e a perda de importância das fortalezas de fronteira alteraram radicalmente a relação. Sem a UBI a Covilhã não teria, nem de longe, o peso cultural, social e político que actualmente possui no eixo Castelo Branco-Guarda.
Mas as universidades também não são eternas. O drama da falta de alunos, que atinge sobretudo a UBI, é um sério aviso à sua sobrevivência. A diminuição de alunos a nível nacional, em cerca de trinta e cinco por cento, que se verifica actualmente do ensino secundário para o preparatório, terá sobretudo reflexos numa universidade pequena e periférica como é a UBI e com uma base demográfica muito fraca. Ora este drama é também, ou deveria ser também, partilhado e enfrentado pela cidade da Covilhã e pela sua autarquia. Sem estudantes não há universidade, e sem universidade a cidade verá comprometido o seu futuro.
Diz o Evangelho que uma casa dividida não subsistirá, oxalá na Covilhã universidade e autarquia tenham ouvidos para entender tão sábias palavras.

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