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Opinião      


 


José Geraldes

Políticos e santos

Os políticos já têm um santo padroeiro. Trata-se de Thomas More, nascido em 1450 (séc. XV), primeiro-ministro de Henrique VIII de Inglaterra, canonizado em 1935 pela Igreja Católica. No calendário litúrgico da Igreja Anglicana, separada de Roma, é venerado como mártir.
A proposta de Thomas More para padroeiro dos políticos foi apresentada ao Papa João Paulo II por chefes de estado e personalidades de vários quadrantes do mundo inteiro, já que não crentes se revêem no seu humanismo.
A petição justifica que "a santidade de Thomas More se apresenta como uma lição fundamental para os homens de Governo: a lição de fuga ao êxito e aos consensos fáceis quando estes violam a fidelidade a princípios irrenunciáveis dos quais dependem a dignidade do homem e a justiça da ordem civil". Thomas More - sublinha o documento - "demonstrou ser inimigo absoluto dos favoritismos e dos privilegiados do poder, professando um exemplar desprendimento das honras e dos cargos e, simultaneamente, vivendo com simplicidade e humildade a sua condição de altíssimo servidor do Rei".
Na aceitação da proposta, João Paulo II acentua que "é útil voltar a Thomas More que se distinguiu por uma constante fidelidade às autoridades e às legítimas instituições porque nelas não queria servir o poder mas o supremo ideal de justiça".
Na história das ideias políticas, Thomas More ocupa um lugar importante como autor do célebre livro A Utopia. Livro em que sobressaem os valores da lealdade intelectual, firmeza de carácter, e independência de espírito e sentido de fraternidade. Amigo de Erasmo de Roterdão, Thomas More advoga já a tolerância e a liberdade de consciência. Na Utopia, expulsa da ilha imaginária um cristão que se mostra radicalmente fundamentalista.
Influenciado por Platão e pela mística de Santo Agostinho da Cidade de Deus, o novo santo padroeiro idealiza o povo da Utopia, como "um povo de amigos". E onde "tudo entre amigos deve ser comunitário".
A firmeza do seu carácter, a fidelidade aos princípios e a sua independência de espírito é que o levaram ao cadafalso. Todos os manuais de história registam o acontecimento.
Henrique VIII, Rei de Inglaterra, pretendia anular o casamento com Catarina de Aragão, por não lhe dar herdeiro masculino. E, como era viúva do seu irmão, Henrique III utilizou o argumento de incesto para conseguir os seus intentos. Thomas More que também era advogado, considerou o casamento válido e sem qualquer razão, para ser declarado nulo, tal como o Papa. E respondeu ao Rei o célebre non possumus (não podemos). Henrique VIII casou com Ana Bolena. Mas Thomas More recusa assistir e sancionar o acto. Preso, foi acusado de traidor, julgado e condenado à morte. "Morro como um bom servidor do Rei mas antes de mais como servo de Deus" foram as suas últimas palavras que ficaram na história. Na véspera da morte, Thomas More conservou intacto o espírito de humor que o caracterizou ao longo da vida. É considerado, por isso, o santo do bom humor.
A actualidade de Thomas More leva naturalmente à comparação com a prática política dos tempos modernos. Fossem os políticos tão íntegros como o novo padroeiro e passariam a ser considerados em alta pelos cidadãos.
Aliás o exemplo de Thomas More mostra que é possível aliar política e santidade. Mas só com a fidelidade a princípios e valores.
Vejamos o que se passa entre nós. As conclusões são fáceis de tirar. Precisamos de novos Thomas More!

* NC / Urbi et Orbi

 

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