Van Gogh
 

          

  O fascínio de  

Se me pedissem para mostrar através de quadros quem sou, escolheria: "A Planície de la Crau", "Os Ciprestes" e "Os Comedores de batatas".
No quadro "A Planície de la Crau", vejo campos que se estendem a perder de vista, casas, gente e o amarelo das searas por todo o lado. Ao longe, montes azulados recortam-se num céu sem nuvens.
"Os ciprestes "são sombrios, o céu tem uma aparência convulsiva de tempestade. Este quadro é um ponto de interrogação atormentado. Sinto necessidade de voltar a vê-lo, "ouvi-lo" outra vez e "responder-lhe".
Os olhares fixos de "Os comedores de batatas", os rostos vincados, as mãos nodosas, a posição dos corpos transmitem um cansaço muito antigo. Os tons escuros e sombrios, contrastando com a luz do candeeiro, comunicam desalento e resignação.
Quando eu tinha seis anos, nas tardes de Verão, via as árvores, as manchas das searas em linhas onduladas e trémulas.
Depois, descobri as noites escuras da aldeia e o céu estrelado. Pela noite dentro, chegava o tempo de contar histórias. Mouras encantadas, tesouros escondidos no fundo dum poço, lobisomens, a princesa magalona e o touro azul, quebravam o feitiço que os prendia e vinham, com o seu universo imaginário, povoar a noite. Diante de mim abria-se mais uma porta e eu descobria o encantamento da vida: o mundo maravilhoso da magia.
Tempos depois fiz outra descoberta, a arte e a magia são a mesma coisa, as duas inventam, recriam a vida, dão-lhe cor e sentido. A arte, qualquer forma de arte, é a reinvenção da realidade, o esconjuro contra o tédio, contra o desgaste da repetição. É o resultado da necessidade de fazer a vida diferente, sempre nova como era no princípio.

por Mariana Morais

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