Jorge Jacinto, presidente da AAUBI, ao Urbi
"Queremos unificar as duas cidades"

Presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) desde Maio, Jorge Jacinto faz connosco uma viagem pelos últimos seis meses. Dos objectivos traçados aos projectos concretizados. Das polémicas à acção que exigem. Sem meias palavras. Diagnósticos e soluções apresentadas por uma Associação que se quer expor cada vez mais, promovendo a ligação à comunidade local e unificando definitivamente a cidade universitária e a cidade da Covilhã.

 Por Cristina Marques

 

 

Jorge Jacinto, depois de meio ano na presidência da AAUBI, faz planos para o futuro

Urbi @ Orbi - "Associação para a Cidade" tem sido sempre anunciado como projecto prioritário da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI), desde que foi eleito presidente, em 23 de Maio de 2000. O que significa exactamente essa ideia e o que tem sido feito para a concretizar?

Jorge Jacinto - Um dos grandes projectos que acalentamos actualmente é a dinamização e divulgação da sede da AAUBI. O programa da Recepção ao Caloiro foi inclusivamente criado a pensar nisso, pois é nosso objectivo acabar de uma vez por todas com a existência das duas cidades, a cidade universitária e a cidade da Covilhã sugerindo uma interligação entre ambas. No entanto, sentimos que não conseguimos. Decidimos então apostar no projecto "Associação para a Cidade", que conta com alguns passos ainda não concretizáveis, pois envolvem grandes fatias de dinheiro. Neste âmbito, pensámos em distribuir panfletos pelas caixas do correio, dando informações importantes sobre acontecimentos na AAUBI. Estamos também a contactar vários grupos de Teatro Infantil com o intuito de apresentar algumas peças às Escolas Primárias da Covilhã. Por outro lado, queremos organizar um torneio desportivo entre as várias associações da cidade e vamos promover o Fórum Associativismo.

U@O - De que forma a realização deste Fórum se relaciona com os vossos objectivos?

JJ - O Fórum Associativismo tem sido organizado pela Câmara Municipal da Covilhã. No entanto, este ano a AAUBI pretende fazê-lo, mais uma vez com o objectivo de interligar as duas cidades. O Fórum reúne convidados ilustres. Ainda não posso avançar nomes, pois muitos não estão confirmados, mas contamos ter presente o Secretário de Estado da Juventude.

U@O - Outro Fórum que organizam é o da Acção Social…

JJ - Sim. Mas esse é diferente. O Fórum da Acção Social não é mais que reuniões de trabalho realizadas a nível nacional, onde estão presentes várias Associações de Estudantes. Na mesa esteve agora a discussão sobre o Apoio ao Estudante, embora não se tenha decidido nada. Acaba por ser uma incógnita para muita gente e para nós também. A próxima reunião será marcada em Janeiro.

"Este Campeonato é muito prestigiante para a UBI"

U@O - Uma das grandes polémicas dos últimos tempos está relacionada com o Campeonato Mundial Universitário de Andebol, devido à não divulgação atempada da necessidade de retirar os alunos das Residências Universitárias. Qual a posição da AAUBI a esse respeito?

JJ - Há três anos atrás, a AAUBI candidatou-se à organização deste Mundial de Andebol. No entanto, acabou sendo uma outra comissão a responsável pelo mesmo. Perante a grande falta de informação que tem havido, a AAUBI tem apelado ao diálogo. Já tiveram lugar várias reuniões com a presente Organização e com várias comissões de residentes, estando este problema completamente sanado. Claro que é necessário apelar à compreensão dos alunos, para que aceitem mudar de um sítio para outro durante o período de duração do evento. Mas é muito prestigiante para a Universidade da Beira Interior (UBI) ser palco de um Campeonato do Mundo!

U@O - Também actual e relacionada com as Residências está a questão da criação de uma taxa sobre cada electrodoméstico utilizado pelo aluno. A AAUBI já se posicionou sobre o assunto?

JJ - Como é óbvio, estamos em completo desacordo! Aliás, não quero deixar de dar os parabéns a alguém com tanta imaginação como o autor da ideia!
No dia em que soubemos deste caso, foi-nos dito que se tratava apenas de um levantamento de informação por parte dos Serviços de Acção Social, quando pelos o objectivo era outro. Mas está fora de questão a criação dessa taxa. Se alguém tem de dar o braço a torcer, não seremos nós com certeza.

"Qualquer dia temos ensino privado em vez de ensino público"

U@O - Permanecendo na actualidade, surgem algumas questões. Uma delas remete para as eleições para os Órgãos da Universidade. Qual o balanço?

JJ - É positivo. As eleições decorreram com normalidade mas este ano a adesão foi superior. Tivemos 939 votos, o que é muito bom comparado com anos anteriores.

U@O - A discussão sobre a alteração do Código de Praxe também marcou este primeiro trimestre lectivo…

JJ - Sempre fui a favor da remodelação do Código de Praxe, no sentido de haver uma passagem de um vazio total para a existência real de um Código. No entanto, ainda não sei se este será o ideal. A AAUBI assume o compromisso de distribuir cópias do novo Código de Praxe a todos os colegas no próximo ano, esperando que isso simbolize o início de um novo ciclo em matéria de praxes.

U@O - Outra das questões mencionadas prende-se com controvérsia gerada pela aplicação do novo calendário escolar. Qual a posição assumida pela AAUBI?

JJ - No início do ano, fomos todos apanhados de surpresa com o novo Calendário, mas prefiro não me pronunciar ainda acerca do assunto. O melhor é esperar para ver se funciona ou não. No entanto, continua a dividir opiniões: as Engenharias e as Ciências Exactas estão a favor, as Artes e Letras e as Ciências Sociais e Humanas estão contra.

U@O - Não tão actual mas incontornável é o problema das propinas, que tem sido tema de muitas das faixas negras que a AAUBI tem erguido na instituição. A luta continua?

JJ - Sempre! Mas esta questão merece factos: o aluno é chamado a pagar as propinas e cumpre a lei ao fazê-lo. Logo, o Estado deveria investir este dinheiro na qualidade do ensino, mas isto não é cumprido. No ano em que as propinas entraram em vigor, o Estado fez um investimento inferior a 10 milhões de contos, o correspondente ao dinheiro das propinas. Não me venham dizer que o Estado está a cumprir a lei! Isto é uma aberração, qualquer dia temos um ensino privado em vez do ensino público!

"As coisas na Covilhã vivem-se de quatro em quatro anos"

U@O - Este ano está marcado por um decréscimo no número de alunos inscritos na UBI. A que pensa poder atribuir-se essa tendência?

JJ - Este problema passa essencialmente pela pouca informação ou falta de publicidade, que é algo que na verdade não temos. Mas também devemos responsabilizar as políticas do Ministério da Educação, pois tem havido um claro desinvestimento. O Secretário de Estado só pode estar a brincar connosco! Os cursos de Português / Espanhol e Português / Inglês estavam previstos para a UBI, que investiu nisso, e depois vão abrir a Castelo Branco? Mas, infelizmente, não é tudo. Os acessos para a Covilhã são péssimos e continuamos à espera do túnel, que nunca mais é acabado. Algo incompreensível se tivermos em conta que o corpo de ministros é maioritariamente natural da Covilhã. Já nem se pedem favores por motivos como a região ou a amizade, apenas justiça. É triste mas as coisas na Covilhã vivem-se de quatro em quatro anos…

U@O - Diagnosticadas as causas, quais as soluções? Ou seja, que pode ser feito para incentivar os jovens a vir estudar para a UBI?

JJ - Este incentivo passa obrigatoriamente por disponibilizar mais e melhor informação. É preciso levantar algumas bandeiras, sendo a primeira a da qualidade do ensino. Há cerca de três anos atrás, a Engenharia Civil da UBI não era reconhecida. Chegava mesmo a ler-se nos jornais "Necessitam-se Engenheiros Civis, excepto UBI". Recentemente, o Bastonário da Ordem dos Engenheiros afirma que "se frequentasse agora o curso de Engenharia Civil, fá-lo-ia na UBI". Ou seja, passámos de "zeros à esquerda" a primeiros. Os cursos de Física Aplicada e Engenharia Aeronáutica são referências a nível nacional e nos cursos de ensino não há ninguém no desemprego. E há também que sublinhar que estudar na UBI implica ter uma qualidade de vida superior à média, pois não temos o stress e a poluição das grandes cidades.

  

Jorge Jacinto de fora nas próximas eleições

 

U@O - Como tem sido estar à frente da AAUBI?

JJ - Não é fácil mas também não me assusta. Temos trabalhado muito e continuamos a pensar vários projectos, que esperamos ver concretizados. O grande problema com que nos debatemos são mesmo as verbas.

U@O - O facto de ter integrado a secção financeira da anterior direcção faz com que tivesse perfeita consciência do estado da AAUBI no momento em que assumiu a presidência, há seis meses atrás. O que mudou?

JJ - Encontrei esta casa com um passivo de 12 mil contos e muito trabalho pela frente. Um dos objectivos imediatos foi diminuir esse passivo, o que tem sido através de alguns negócios, nomeadamente com a Imobiliária Amorim, que vai apoiar-nos com 2 mil contos. Também a Salvador Caetano contribuiu com uma viatura, o que ajuda muito pois neste momento a AAUBI tem duas carrinhas degradadas: uma está para venda e outra está na oficina.

U@O - E conseguiram reduzir o passivo?

JJ - Conseguimos acabar com o passivo mensal. Isto significa que os gastos mensais não estão a ultrapassar as verbas que nos são dadas. Gastamos em média 500 mil escudos por mês, para os quais tanto contribui a AAUBI como os 26 núcleos dos cursos da UBI.
Os lucros que tivemos tanto com a Recepção ao Caloiro como com o Art'UBI ajudaram muito. A primeira deu-nos 2 mil e trezentos contos, o segundo 300 mil escudos.

U@O - Pretende manter-se na lista às próximas eleições?

JJ - Não. A AAUBI é viciante, esta vida é muito envolvente, podia continuar por mais 20 anos… mas tenho um curso para acabar.

 

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