José Geraldes
José Geraldes

 

 

 

 


Mais um aniversário

A credibilidade é a condição irrecusável da relação de confiança de um jornal com os seus leitores. E, para ser credível, o jornal deve obedecer aos critérios de rigor, de isenção e de independência nas notícias que publica. E deve ser plural nos comentários e opiniões que difunde.
Enganar os leitores, vender-lhes "gato por lebre", eis uma atitude que deita por terra a credibilidade de um jornal. Atitude que vai contra todos os princípios da deontologia e da ética jornalística.
Nos tempos que correm a deontologia e a ética, outrora apanágio de grandes jornalistas, deixam muito a desejar. Os atropelos às regras clássicas do jornalismo sucedem-se nas televisões e rádios. E jornais há também que não escapam a esta destruição que nos empobrece a todos. Quem fica a perder são os leitores e a qualidade da informação difundida.
Em vez da prática da deontologia e da ética, vemos nascer um tipo de jornalismo meramente comercial, sob a capa de informação. Não se nega que as notícias se tornaram uma indústria. Mas há uma lógica de princípios a respeitar na sua confecção e na sua difusão.
As audiências, nas televisões, são disputadas ao milímetro. E tudo vale para se alcançarem as receitas financeiras previstas nos orçamentos. Onde vamos parar com esta cavalgada comercial?
Quão longe estamos dos princípios orientadores do diário americano Washington Post que fez cair o Presidente Nixon! Em sete pontos este diário resume as funções de um jornal: "1. A primeira missão de um jornal é dizer a verdade, tanto quanto a verdade possa ser determinada; 2. O jornal deverá dizer toda a verdade tanto quanto a possa determinar, sobre todos os assuntos importantes que digam respeito à América e ao mundo; 3. No seu papel de disseminador de notícias, o jornal deve observar a mesma decência que é de esperar de um cavalheiro; 4. Tudo aquilo que o jornal imprime deve ser uma leitura adequada para os jovens, assim como para os idosos; 5. O jornal só tem deveres para com os seus leitores e para com o público em geral e não para com os interesses particulares do seu proprietário; 6. O jornal deve estar preparado para sacrificar as suas fortunas na prossecução da verdade, se isso for necessário para o bem público; 7. O jornal não será aliado de nenhum interesse particular e será justo, livre e íntegro na sua visão das questões públicas e dos homens públicos".
Outro facto que se verifica actualmente, são as concentrações de jornais, rádios e televisões. Ora é dos livros que a concentração da imprensa ameaça o pluralismo. E a concentração já chegou à imprensa regional. E também é dos livros que a concentração tem um objectivo último: a captação de toda a publicidade possível. Portanto, o que importa é o lucro e as receitas.
O novo regime de porte-pago vai ter consequências, quer no número de jornais, quer na sua qualidade. Há uma certeza: a informação sairá mais cara aos leitores. O mercado publicitário apresenta-se muito reduzido. Logo, as assinaturas e o preço de venda forçosamente têm de ser aumentados.
A imprensa regional distingue-se pela proximidade dos problemas locais dos leitores. Um estudo da Marktest mostra que, em todo o País, a média de leitura dos semanários regionais é de 30 por cento contra 11 por cento dos diários. E no Interior Norte chega aos 56 por cento!
Estes dados comprovam a força da imprensa regional que um estudo da União Europeia considerou ser uma forte componente da coesão social. Compreende-se o apetite de grandes grupos de comunicação por esta imprensa.
Mas a imprensa regional tem que dar um salto em frente. Hoje a velocidade das tecnologias perfila-se como um desafio.
A este propósito, Marluce observa que, até atingir 50 milhões de unidades, a Internet demorou apenas quatro anos, os telemóveis levaram, 12 anos, a televisão 13, a rádio 35 e o telefone fixo 75. As diferenças são notórias.
É neste contexto que o Notícias da Covilhã perfaz 88 anos de vida. Sem medo do futuro e dos novos desafios que se apresentam. Ao longo destes 88 anos, foi sempre a ética que presidiu à sua orientação. Em 1918, ainda com o nome A Democracia, afrontou atentados bombistas. Suspenso alguns meses, reapareceu com o actual nome que orgulhosamente ostenta no cabeçalho. Sempre ao serviço da verdade e dos seus leitores.

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