UBI mantém alunos em casa
Noite da Covilhã perde magia

As pessoas saem cada vez menos à noite. As queixas partem dos proprietários dos bares e discotecas da cidade. Uns apontam o decréscimo do poder de compra e a política pedagógica da Universidade da Beira Interior. Outros falam em "degradação" da vida nocturna, a que não é alheia a corrida ao álcool mais barato das "tascas"

 Por Alexandre S. Silva
e Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi

 

As promoções de bebidas são uma das armas mais utilizadas pelos bares para chamar clientes

A noite da Covilhã já não é o que era. A opinião, quer dos proprietários dos bares e discotecas quer dos clientes parece ser unânime: "Antigamente, há três ou quatro anos atrás, havia mais gente na rua do que hoje em dia". As causas apontadas para o decréscimo de clientela nocturna são muitas e passam, essencialmente, por factores de ordem económica. Uma diminuição do poder de compra é indicada, pela grande maioria dos empresários, como o principal entrave à saída dos jovens. Um problema que afecta sobretudo os estudantes universitários. Um sector de mercado extremamente importante e vital para a indústria da noite que, só aos fins-de-semana, pode contar com outro tipo de clientela, constituída, essencialmente, pelos adolescentes covilhanenses.
Outro dos motivos mais advogados para a inibição dos estudantes é a nova política pedagógica da Universidade da Beira Interior. "O novo sistema de calendarização de exames e prescrições da UBI também contribuem para que os alunos não saiam tanto à noite porque têm que se aplicar", explica Guilherme Carreira, proprietário do "Lá em cima bar". "Há uns anos atrás a universidade facilitava mais do que hoje em dia e os alunos andavam mais na borga", afirma António Almeida, sócio gerente do Rosa Negro e da discoteca Ex-Libris. Hoje a mentalidade é outra. Chegados de vários pontos do País, os alunos empenham-se mais no estudo e em acabar o curso no menor espaço de tempo possível. "A tendêcia, de alguns anos a esta parte, é para os universitários ficarem mais tempo em casa". acrescenta Pedro Figueiredo, dono da discoteca "& Companhia". E continua: "A preocupação agora, é estudarem para não deixar cadeiras para trás, o que é bom. Estão a acabar aqueles que chegam às oito ou nove matrículas e isso reflecte-se na assiduidade da noite". De qualquer modo o empresário acredita que a noite da Covilhã continua a ser "frequentada" pelo mesmo número de pessoas. "O que se passa é que, há uns anos atrás havia um grupo de uma ou duas centenas de boémios que saíam todas as noites. Hoje esse grupo é muito diminuto e dá a impressão que há menos gente na rua mas, o resto do pessoal continua a saír aos dias do costume". Mas se os dias do costume antes eram as terças e quintas-feiras, para os universitários, e os fins-de-semana para os residentes da Covilhã e arredores, hoje ficam-se pelo quinto dia da semana e pelo sábado. Segundo Mário Diogo, funcionário do Rosa Negro, são estas as noites "mais complicadas". "As pessoas escolhem dias muito específicos para saír. Se umas vezes os bares estão quase vazios, outras estão na lotação máxima porque as pessoas aparecem em doses maciças e tornam mais difícil o trabalho dos funcionários".
Quem parece não ter razões de queixa é Jorge Pinto, gerente do bar do PC. "Há dias de maior e menor afluência mas, fora a época de exames, a casa costuma estar sempre cheia". O segredo, afirma, "não é apenas o facto de ser mais barata, mas a simpatia que se tem para com o cliente".

A guerra da cerveja

Ainda não se pode falar em crise do sector. Se assim fosse, reitera José Pinto, dono do "Fora d'Horas", mais valia fechar. De qualquer modo, os bares passam hoje por dificuldades inexistentes há meia dúzia de anos. Os elevados impostos pagos pelos empresários para a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), Finanças e pela concessão de alvará estão a reduzir cada vez mais a margem de lucro. Mas o problema, queixa-se a maioria, não reside no imposto em si. "São os cafés e os bares de associações que estão a dificultar a vida dos bares", esclarece Marco Leão, proprietário do "Forum". "Passa tudo por uma questão de horários. Esses estabelecimentos não têm que pagar os impostos que nós pagamos e podem estar abertos até à mesma hora que nós e até vender as bebidas a um preço muito inferior. A anarquia reina e ninguém faz nada para proteger os investimentos que fazemos. Devia distinguir-se, de uma vez por todas, os bares dos cafés".
Por outro lado, revelam off the record alguns proprietários, "há uma espécie de guerra entre as duas mais conhecidas cervejeiras portuguesas que se estende a alguns bares dos quais são fornecedoras". Uma situação que se reflecte nas promoções utilizadas para cativar clientes e que passam, na maior parte das vezes, pela diminuição do preço da imperial. "Um incentivo ao consumo abusivo do álcool", avisa Marco Leão. Mas o dono do Fórum aponta outras causas para o decréscimo de clientes e fala mesmo em "degradação da noite". "Antes havia algo de místico quando se saía à noite. Procurava-se algo e não se sabia como e onde se ia acabar. Hoje, pelo contrário, as pessoas saem predestinadas. Procuram o álcool e vão onde ele é mais barato. As associações" (ver caixa ao lado). Pedro Figueiredo, não vê as coisas da mesma forma. "É natural que os donos dos bares se sintam prejudicados, mas as tascas, os bares de associações, são necessários. Não pagam tantos impostos, são mais baratos e, claro, são mais procurados porque o estudante universitário não tem muito dinheiro". Quanto ao facto de os clientes procurarem nas associações o álcool mais barato em vez da qualidade de outros bares, Figueiredo é peremptório: "Ninguém está no negócio da noite para vender leite".

  

Títulos relacionados

Segurança
"Lei está a ser cumprida"

O outro lado da noite
"Município continua calmo e seguro"

Inquérito
A cidade está bem servida a nível de diversão nocturna?

 

Clique aqui para regressar à primeira página