Combate ao sofrimento
Unidade da Dor acolhe 100 terminais por ano

É uma "gota no oceano", mas significa o céu para quem a procura no desespero do sofrimento. São cerca de 100 todos os anos. Pessoas a quem o cancro rouba a força da vida e que, no Fundão, encontram paz e uma mão amiga.

 Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi

Perante uma plateia atenta, Lourenço Marques demonstrou que "para ajudar o próximo é preciso agir"

"Façam-me um favor, não me dêem alta. Aqui encontrei o céu". Nos últimos oito anos, os profissionais da Unidade da Dor (UD) do Hospital do Fundão habituaram-se a ouvir estes pedidos e a partilhar o sofrimento e a dor de quem os faz. Doentes do foro oncológico, em estado terminal, tomados pela maleita que os afecta e não os deixa morrer em paz. Apesar das dificuldades registadas a nível das instalações e dos equipamentos, é para minimizar essa dor, para a tornar mais suportável, que enfermeiros, médicos, psicólogos e assistentes sociais se mantêm à cabeceira dos pacientes, lhes dão uma palavra amiga e lhes seguram a mão.
Quase uma década depois da abertura, António Lourenço Marques, director da UD fundanense, aproveitou a visita de cerca de 50 enfermeiras da Associação Católica dos Enfermeiros e Profissionais da Saúde de Braga, e, na sexta-feira, 23, apresentou um balanço do trabalho desenvolvido, com especial incidência no ano 2000. Uma iniciativa que impressionou as convidadas e as motivou a avançar para um projecto semelhante, como demonstram as palavras da vice-presidente da Associação, Esperança Gago: "Em Braga temos sentido a necessidade de acompanhar doentes em situação terminal, mas debatemo-nos com problemas estruturais e organizacionais. No Fundão constatamos, essencialmente, que para ultrapassar essas limitações é necessário este empenho profissional e uma vontade muito grande de ajudar o próximo".

Serviço domiciliário em desenvolvimento

A Unidade da Dor do Fundão é um dos três serviços que, em Portugal, se ocupam do tratamento da dor crónica e acompanhamento de casos terminais que envolvem sofrimento agudo. A maioria dos internamentos, 753 desde a abertura em 1992, é relativa a indivíduos oriundos do Fundão e Castelo Branco. No entanto, também há os que vêm de Idanha-a-Nova, Penamacor e da Zona do Pinhal.
O ano 2000 registou 134 internamentos de 114 doentes com os mais variados tipos de tumores malignos. 63 faleceram na instituição. No topo estão os casos de cancros do aparelho digestivo, mas também há registos de cancros da mama, do pulmão, da boca, dos lábios ou da faringe. Segundo adianta Lourenço Marques, "a esmagadora maioria dos doentes tem entre os 45 e os 75 anos e representam uma ínfima parte dos cerca de 500 que, todos os anos, morrem de cancro no distrito". Levados pela família, ou recomendados pelos médicos que os acompanham, os pacientes terminais encontram no Fundão "para além de uma mão amiga e uma palavra de conforto, o sulfato de morfina, que lhes alivia a dor e lhes permite esperar pelo fim com mais dignidade".
Actualmente a funcionar com dez camas, sete enfermeiros, um médico, uma psicóloga clinica e uma assistente social, a Unidade da Dor, espera por um papel de maior relevo no Centro Hospitalar da Cova da Beira. Lourenço Marques garante que conhece a intenção da Comissão Instaladora de valorizar o serviço, mas desconhece, até agora, quais os projectos a implementar. Para já, uma coisa é certa, a prioridade passa pelo desenvolvimento do Serviço Domiciliário (criado em 1996) com a afectação de um médico. Uma medida que, sublinha o director, "seria extremamente benéfica para os casos que recebem assistência nas suas próprias casas e que, só no ano passado se traduzem em mais de 780 visitas, para 17 doentes".

  

Protocolo desenvolve "musico-terapia"

Hoje, terça-feira, 6, na Covilhã, o Centro Hospitalar da Cova da Beira e a Santa Casa da Misericórdia do Fundão assinam um protocolo de cooperação com contornos inovadores. O documento pretende, através da actuação concertada da Academia de Música e Dança (instituição educativa da Santa Casa), fazer da música mais um elemento de alívio para os doentes terminais.
A "musico-terapia", afirma o director da Unidade da Dor do Hospital do Fundão, António Lourenço Marques, "é uma técnica muito utilizada nos Estados Unidos da América e com bons resultados". Pretende-se, assim, com recurso a actividades lúdicas e formativas, dar um contributo para uma maior humanização nos serviços prestados pela Unidade.

 

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