Mário Frota lança críticas no Dia Mundial dos Direitos do Consumidor
"Somos um País de terceiro mundo"

O presidente da Associação Portuguesa de Direito de Consumo (APDC), Mário Frota, esteve no dia 15 de Março na Biblioteca Municipal da Covilhã para falar nos direitos e deveres do consumidor. Mário Frota apelou às pessoas para que deixem os egoísmos de lado e voltem a pensar nos outros, através de um maior envolvimento nas estruturas dos consumidores.

 Por Nélia Sousa

Mário Frota atribui culpas
ao Estado e aos media
pela pouca formação do
consumidor português

"Falar dos direitos dos consumidores é falar do primeiro e universal direito que é o acesso aos bens e direitos essenciais", defendeu Mário Frota na conferência comemorativa do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, realizada na Biblioteca Municipal da Covilhã.
Os Direitos e as Estruturas da Defesa do Consumidor foi o tema abordado por Mário Frota, que iniciou o seu discurso criticando os serviços públicos de telecomunicações. De acordo com o dirigente da APDC, "a Portugal Telecom enriquece injustamente à custa do nosso empobrecimento". No seu entender isto acontece porque as pessoas não sabem os direitos que têm e os perigos a que se expõem. A culpa por esta falta de informação atribui-a ao Estado, porque "não cumpre a sua obrigação de educar e formar o consumidor", e aos meios de comunicação social, por estarem pouco interessados em dar voz a este tipo de iniciativas. "As nossas propostas de elaboração de programas, para informar as pessoas, tem conhecido o caixote do lixo e nem sequer se dão ao trabalho de responder", refere Mário Frota.

O boicote é a arma

De acordo com o presidente da APDC, os portugueses são uma sociedade de brandos costumes. "É preciso que as pessoas se envolvam nas estruturas de consumidores não convencidas de que vão tirar partido para si mesmas mas como forma de serviço à comunidade", explica, adiantando que "é fundamental que as pessoas deixem de lado o egoísmo e a falta de solidariedade que caracteriza actualmente a sociedade portuguesa e voltem a pensar nos outros".
Referindo-se ao caso das linhas eróticas, Mário Frota é da opinião que a única forma de acabar com este tipo de comércio é derrubando o Governo porque "um Governo que visa a exploração dos sentimentos mais primários de pessoas desequilibradas é um Governo desprezível".
As linhas eróticas, existentes desde 1994, são, no entender de Mário Frota, uma situação própria de um país de terceiro mundo. "Nós somos um País de terceiro mundo que admitimos tudo e perdemos muitas vezes a dignidade", refere.
Não visualizando sinais de que esta e outras situações possam vir a alterar-se, o presidente da APDC vê como única solução o recurso ao boicote. "O boicote é a arma do consumidor. Se o consumidor usar o boicote, o poder político cede".

O vício da verdade

A APDC é uma associação sediada em Coimbra e tem por objectivo a formação, informação e protecção dos consumidores. Recentemente, criou a Associação de Consumidores de Portugal (ACOP), destinada a prestar assistência a pessoas carenciadas.
Mário Frota adianta que se "existisse na Covilhã uma estrutura regional da ACOP, os covilhanenses teriam de certo uma protecção mais adequada"
Durante o seu discurso, o dirigente da APDC lançou críticas ao poder político que beneficiou a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), ao atribuir-lhe mais de 400 mil contos. A DECO é uma empresa ligada a uma multinacional belga e que, segundo Mário Frota, tem por objectivo o lucro. "É uma autêntica vergonha nacional porque as associações verdadeiras não foram contempladas", desabafa.
Para Mário Frota, a APDC e ACOP estão a ser vítimas de discriminação e isto porque "a nossa voz é incómoda". "Somos considerados uma associação de malfeitores por termos o vício de dizer a verdade", conclui.
No final deixou um conselho aos cidadãos presentes para que continuem a viver longe das associações de criminosos que vão começando a marcar terreno. "O consumidor não pode correr emocionalmente aos primeiros apelos. Antes deve informar-se porque consumidor prevenido vale por dois".

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