António Fidalgo

 

 

 

 


O ser e o parecer da UBI

Voltemos à avaliação das universidades feita pelo Diário de Notícias. Tenho para mim que, à excepção da Universidade de Aveiro, considerada por aquele jornal a melhor universidade portuguesa, a UBI foi a universidade que mais lucrou com a avaliação efectuada. Durante os 10 dias o jornal referiu muito a UBI, sendo mesmo uma das mais referidas, e considerou-a como a universidade com a melhor qualidade de vida para os estudantes. E verificou-se que também noutros aspectos a UBI mantinha o passo no pelotão das universidades.
Os problemas referidos, o facto de ser a universidade menos procurada e de nela os estudantes demorarem mais tempo a concluírem os seus cursos, não lhe podem ser assacados sem ter em conta os condicionalismos da sua localização e da fraca mobilidade dos estudantes portugueses. É preciso reter que o espaço temporal de análise foram os anos de 95 a 99 e que nessa altura muitos alunos entraram ou já tinham entrado no ensino superior com zero a matemática e a física. O que seria de espantar seria que, com tão má preparação, pudessem terminar num prazo normal o seu curso. Repito o que escrevi a semana passada: a UBI não é responsável pela qualidade dos alunos que entram, mas sim dos que saem licenciados. Ora se, por razões de localização, pela juventude, pela desertificação do interior, a UBI tem poucos candidatos, é normal que a sua preparação não seja tão boa como a dos estudantes das universidades mais concorridas e que, portanto, levem mais tempo a acabar os cursos.
E convém também referir a falta de mobilidade dos nossos estudantes. À boa maneira latina preferem ficar dentro do lar paternal, a gozar dos mimos das mamãs, do que enfrentar o desconhecido de uma cidade de província. Sabido é que a larguíssima maioria dos estudantes universitários estão nos grandes centros e lá querem ficar com as famílias. Acrescente-se ainda a atracção que os grandes centros exercem sobre a juventude. A Universidade de Aveiro foi considerada a melhor universidade e, no entanto, os seus cursos têm muito menos procura que os das universidades de Lisboa e do Porto. Houve até um curso que ficou na primeira fase com as vagas todas por preencher.
A UBI pode orgulhar-se no que conseguiu em tão poucos anos de vida. Não conheço ninguém que, tendo-a visitado, não tenha ficado surpreendido com o que viu. As expectativas são em regra enormemente superadas pela realidade. Quem entra como estranho pela UBI dentro e vê a excelência de instalações, laboratórios, gabinetes, equipamento, nem quer acreditar que se encontra no interior profundo de Portugal. E, no entanto, é nesse Portugal de péssimas acessibilidades que a UBI se fez e continua a fazer apesar das adversidades.
Num mundo em que, muitas vezes, se dá primazia ao parecer sobre o ser é preciso afirmar que mais vale ser que parecer. É reconfortante trabalhar numa universidade em que manifestamente o ser supera o parecer.

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