Pedro Homero

 

 

 

 


Dicas para Professores


Parece que cada vez há mais informação a circular. Óptimo.
Não me parece que a informação circule lá muito bem entre estudantes e professores. Era assim quando era estudante e parece continuar a ser assim agora.
Como tal, e pelo poder investido em mim pela minha mania de mandar opiniões sobre tudo (!), venho deixar aqui umas quantas 'dicas' para professores, isto é, um conjunto de sugestões (que são para ser vistas apenas como tal) que podem não fazer de si, docente que as lê e reflecte sobre elas, um melhor professor, mas ao menos fazem-no tentar uma nova abordagem à sua tarefa, o que me parece uma boa ideia.
Não veja isto como uma perseguição - conto pedir de novo meia dúzia de bytes em disco, no próximo urbi, para voltar a fazer sugestões, dessa feita aos estudantes - afinal de contas uma melhor escola é tarefa de todos.
Assim sendo, cá vai:

* Uma aula, tal como uma conferência, não deve ser lida. Convenhamos, caro docente: uma aula resumida a uma leitura a ritmo constante dos apontamentos é remédio santo para as insónias e faz com que a atenção do mais interessado dos alunos se disperse ou que acabe por ouvir cabeças a cairem na mesa - ou ambos. Prepare bem a lição em casa e exponha a matéria oralmente numa viagem cérebro-língua e não olhos-língua. Vai ver que a taxa de adormecimento começa a decair em sentido inverso à de interesse.
Além disso presume-se que os seus alunos saibam ler e escrever, logo se vai dar aulas assim mais vale entregar-lhes o texto - eles fotocopiam e lêem em casa, pois dormir por dormir mais vale fazê-lo no conforto do lar.

* Na aula, como em muitas outras situações, devemos colocar toda a paixão que nos move. Como é, docente, está a dar aulas porque não arranjou um trabalho melhor, porque o ordenado seduz ou porque a(s) matéria(s) o apaixona(m)? Não pode pedir interesse por parte das pessoas que tem à sua frente se eles/as não virem esse interesse estampado no seu rosto. A paixão é contagiante e não conseguirá grandes frutos se não adubar convenientemente o pomar. A matemática mais árida pode tornar-se uma aventura e o marketing mais vistoso pode ser uma 'valente seca' - depende, em grande medida, de si.

* Seja justo no modo como enfrenta críticas. Por outras palavras: CRESÇA! Pois é, pode parecer incrível, mas existem docentes que demonstram comportamentos infanto-juvenis do género 'criticou-me na aula, nunca mais passa à minha cadeira', 'fez queixa de mim aos meus superiores, há-de cá andar com a cadeira pendurada enquanto for eu a dá-la', etc, etc. Por favor, caro docente: se enfia a carapuça, destape-se - o verão está quase a chegar e não vai querer ficar 'esquentado' perante tamanha mesquinhez. Se os seus alunos tiveram a coragem de lhe mostrar um erro seu ou de lhe fazer ver que discordam do modo como você age em determinada situação regozije-se em vez de se vingar - se eles lhe apontaram o erro têm verdadeiro respeito por si (e não medo) e como tal isso merece respeito na resposta. Se por acaso foram incorrectos na forma como o criticaram, ou se estão errados no conteúdo da crítica discuta abertamente e questão com eles - vai ver que depois vai ter umas folhas de avaliação muito favoráveis no fim do ano.

* Não aceite dar matérias que não domina. Não só está a cometer um erro a nível da formação dos seus alunos, como está a pôr em causa a sua carreira e o bom nome do curso/departamento/universidade. Quem sabe, um dia ainda poderá a vir a ser muito famoso na sua área e uma mácula no passado é como mancha de sangue em camisa branca - dificilmente sai.

* Responsabilize-se pela formação dos seus alunos enquanto tal. Ser docente, tal como ser qualquer outra coisa, implica que se tenha uma consciência clara das responsabilidades da carreira. Como tal, não se desculpe com a velha (mas verdadeira) cantiga que diz 'eles vêm sem bases nenhumas' e aplique-se na formação dos seus alunos. Não sabem escrever? Ensine-lhes. Não sabem demonstar fórmulas? Demonstre-lhes! Como quer que eles cumpram os 'mínimos' se não trazem pedalada suficiente de trás?

* Partindo do pressuposto que já cumpre as sugestões anteriores, exija mais dos seus alunos. Há obviamente excepções, mas regra geral está tudo habituado à boa vida do pegar-nos-apontamentos-2-dias-antes-e-toca-a-marrar-isto-para-passar. Não deixe que isso aconteça - torne a cadeira mais prática, com a realização de trabalhos que puxem pela reflexão e capacidade de análise e por testes que repitam essa fórmula. Não tem piada fazer testes 'copy-paste', muito menos corrigir as mesmas respostas, uma e outra vez.

Se acha que cumpre tudo isto (ou que estas sugestões são um perfeito disparate), imagino que tenha perdido o seu tempo. Se não, e é do género de pessoa que procura colocar a mão na consciência e analisar as suas acções (pertence a um grupo restrito de humanos, digo-lhe já), então reflicta sobre o seu trabalho, enquanto docente, e minore as hipóteses de apanhar uma alcunha maldosa.

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