Após seis anos de desactivação
Espaços industriais dão lugar
a turismo, cultura e desporto

 Por Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi

Pousada da Juventude, Turismo de Aldeia e Centro de Desportos Radicais são algumas das infra-estruturas que vão nascer no Rio. O projecto custa meio milhão de contos e deve estar pronto em 2007.

O Couto Mineiro de Rio, no Cabeço do Pião, Panasqueira, vai transformar-se numa nova aldeia já a partir de Junho. Uma Pousada da Juventude e o Centro de Desportos Radicais "MinAventura" são os primeiros passos de um projecto que engloba variadas áreas. Integrado pela Associação de Desenvolvimento Pinus Verde, Junta de Freguesia de Silvares, Câmara Municipal do Fundão, Beiralt Tin, proprietária das Minas e outras entidades públicas, privadas, nacionais e comunitárias, o Projecto "Rio" foi apresentado no sábado, 31 de Março, no edifício da antiga Lavaria.
Composto por duas fases, a primeira está prevista arrancar ainda este ano, o MinAventura começa a funcionar em Junho e a Pousada entre em obras no final de 2001 e abre em 2003. Turismo de Aldeia, Centro de Documentação, Escola Digital, Museu, Pavilhão Multiusos e o Restaurante Temático "Cantina do Mineiro", seguem o mote, numa iniciativa que "vem recuperar toda a memória desta terra mineira", diz Paulo Fernandes, director executivo da Pinus Verde e coordenador geral do projecto. Contudo, para estas avançarem falta, ainda, "terminar a candidatura, candidatá-las e prosseguir, aos poucos, os trabalhos num projecto muito ambicioso", afirma José Maria Fortunato, presidente da autarquia fundanense, uma das quatro entidades do conselho de promotores. Coordenado fundamentalmente pela Pinus Verde, o plano, que está inserido na Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) do Pinhal Interior, no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio, deu o pontapé de saída num percurso que vai durar cinco anos. "Esta foi a melhor maneira de iniciarmos a AIBT nas freguesias do concelho do Fundão, com a apresentação do Rio", salienta, confiante, o autarca.
Apoiado por verbas comunitárias, o "Rio" pode ascender a alguns milhões de contos. Segundo Paulo Fernandes, a primeira fase ronda os 200 mil e, em 2007, data prevista para terminar, ascenderá a mais de meio milhão. Isto, acrescenta o responsável, "sem contar com as reaplicações e efeitos multiplicadores que um projecto desta natureza tem, podendo elevar-se a milhões". O responsável refere-se a outras vertentes que os promotores pretendem atingir, a longo prazo. A "Preparação do Pós-Mina" é um exemplo, dado o actual funcionamento da Barroca Grande e da Panasqueira, que engloba três concelhos: Fundão, Covilhã e Pampilhosa da Serra. "A gestão ambiental e do património são questões que têm que ser pensadas com alguma antecipação", acrescenta Paulo Fernandes.

Jovens apadrinham iniciativa

O primeiro dia de uma "longa caminhada", foi acarinhado por mais de uma centena de jovens de várias localidades do Centro do País: Coimbra, Tondela, Caldas da Rainha, Oliveira do Bairro, Gouveia, Guarda, Covilhã, Fundão, entre outras. Inseridos num projecto promovido pelo Instituto das Comunidades Educativas (ICE) e pela ANIMAR, do qual fazem parte associações culturais e de desenvolvimento, entre elas a Pinus Verde, os jovens verificaram a riqueza da região e apadrinharam o "Rio".
Durante todo o dia, as actividades incidiram sobre a temática do meio rural. De manhã, a atenção recaiu sobre espaços do Couto Mineiro que, desde 1996, estão desactivados. Uma visita guiada por antigos mineiros fez relembrar o percurso do volfrâmio, cobre e outros, desde a mina ao destino final. À tarde, decorreram atelier's e lojas com temas ligados, sempre, à ruralidade: ambiente, património, educação, lazer e desportos radicais. "Inforum" é o nome do encontro que, desta vez, aconteceu na antiga Lavaria, cujos parâmetros incidem no "intercâmbio, debate e reflexão entre iniciativas juvenis em meio rural do Centro do País". Paulo Fernandes justifica a escolha da aldeia do Rio: "Trouxémo-los para aqui para verem e incorporarem as iniciativas e, a partir daqui, interagirem no seu território e, nesta estrutura, para lhe voltar a dar um rosto humano".
Mas não foram só os visitantes que participaram na iniciativa. Das 40 pessoas que vivem no Rio (onde já se contaram mais de mil), "não há uma que não esteja a participar. Estão todas envolvidas", diz Paulo Fernandes. Uma situação que se deve à própria filosofia da Pinus Verde: "Queremos criar elos de autonomia e projectos de vida nas pessoas que vivem no local para integrarem os projectos".

Apresentação em grande

Se durante o dia a afluência de participantes foi numerosa, à noite não foi menor. Depois de um churrasco comunitário nos antigos Armazéns Gerais, o rés-do-chão da Lavaria encheu-se para o espectáculo que enriqueceu o primeiro dia de uma nova vida de Rio.
Num cenário industrial e "completamente inédito", subiram ao palco três peças de teatro: "Se chovesse vocês estragavam-se todos", do grupo ACERT de Tondela, e "Desertificação" e "Retalhos da Vida de Uma Mina" dos alunos do 6ºA da Escola EB 2/3 de Silvares. Momentos em que os mais velhos reviveram os dias de trabalho e os mais novos o processo mineiro, desde 1898 até um futuro ainda longínquo. Seguiu-se a curta-metragem "Rio - Um olhar atento sobre o Couto Mineiro", musicado ao vivo por Greg Moore, que compôs uma partitura especial para o evento, e o spot do lançamento do projecto, animado por malabaristas e exibicionistas de futuros desportos radicais. "Queremos tornar isto o mais interactivo possível e tirar partido deste e outros sítios, agora abandonados", sublinha o coordenador, satisfeito com o resultado. E acrescenta: "A curva de degradação desta zona das Minas inicia hoje um novo ciclo".

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