Perspectivas XXI convida Carvalho Rodrigues
Partilhar e comunicar o conhecimento científico

Para perspectivar o futuro, Carvalho Rodrigues, cientista, professor, teórico e pensador, falou da necessidade de entender o que comunica a ciência, e propôs uma ampla reflexão sobre a importância do tempo na comunicação entre os homens.

 Por Patrícia Caetano

O Professor Fernando Carvalho Rodrigues foi o orador convidado de mais uma conferência "Século XXI - Perspectivas"

O Salão Nobre dos Paços do concelho da Covilhã foi, na passada sexta-feira, 20 de Abril, o palco escolhido para a conferência "Ciência e Comunicação" integrada no ciclo "Século XXI - Perspectivas", uma organização da Câmara Municipal. O convidado, Fernando Carvalho Rodrigues, o 'pai' do satélite português PO-SAT 1 e um dos primeiros doutores honoris causa da Universidade da Beira Interior, falou da importância de comunicar a ciência e de homens partilharem esse conhecimento. As crescentes exigências sociais e profissionais têm conduzido o Homem no sentido de uma sociedade em que a comunicação se processa cada vez mais à distância. Um telefonema, um fax, ou um e-mail tornaram-se frequentes enquanto formas de comunicação com os outros. Carvalho Rodrigues, professor e investigador, salienta a sua preocupação com a perda da importância do tempo: "Hoje em dia encontramo-nos no circuito das telecomunicações sem nos tocar".
Segundo Carvalho Rodrigues, o Homem conquistou algo da natureza através da ciência. No entanto, esta conquista implicou "a perda da simetria", da harmonia entre os homens: "Fomos encarando a possibilidade de nos auto-destruirmos apesar de sermos os únicos que conhecemos o Bem", alerta o cientista.
Carvalho Rodrigues realça que "é um erro acreditar que os humanos mudem por causa da tecnologia". Deste modo torna-se necessário adaptar a ciência aos homens, fazer com que seja partilhada, comunicada, entendida. Usar um telefone é fácil porque basta carregar no botão. Também a tecnologia do multibanco se encontra adaptada aos seres humanos. Por exemplo, para nos certificarmos do dinheiro que temos recorremos frequentemente ao talão do multibanco: "Nos últimos 10 anos, todos passámos a acreditar que é possível sermos pagos em electrões", comenta.
O mundo, visto pela profundidade do olhar deste pensador, tem um céu que reside sobretudo na América do Norte e na Europa. O primeiro dom que Deus nos oferece é a vida, sendo a tecnologia o segundo. Deste modo, todos somos capazes de aprender ciência e tecnologia. Se pudéssemos observar o planeta Terra do espaço, concluiríamos que as fontes de comunicação e a energia iluminam estas zonas do planeta. No entanto, a falta de harmonia é bem patente. "Fome, peste e guerra, são os três Cavaleiros do Apocalipse que se situam em zonas onde não estão as fontes de comunicação e o consumo de energia", lamenta Carvalho Rodrigues.

"As sete idades do Homem"

A idade da humanidade, o tempo que por nós passa, as memórias dos nossos avós são fundamentais. Carvalho Rodrigues expôs uma filosofia que revela o que se faz do tempo, as vivências que ele nos oferece e a sabedoria que existe para além da ciência. Tudo o que fazemos é, segundo o orador, "o produto de nos alimentarmos do tempo". Deste modo, em 10 anos educamo-nos, podemos começar uma família. Em política uma década é o limite da previsibilidade. Em 100 anos, alimentamo-nos das memórias dos nossos avós, das histórias e saberes que nos transmitem. Num milénio, pode-se construir uma língua, uma cultura, uma moeda.
Há 100 mil anos atrás, as ideias do Homem eram plásticas, a sua comunicação passava pela criação de pinturas rupestres. Há um milhão de anos os seres humanos começaram a ter consciência da morte, a venerar os antepassados, a descobrir que tínhamos avós. "Há um milhão de anos inventámos o futuro, quando descobrimos que tínhamos avós", esclarece Carvalho Rodrigues. "Daqui a 10 mil anos o Homem estará espalhado por galáxias", prevê o cientista.
Assim se compreende o fio condutor do pensamento deste investigador: a necessidade de nos alimentarmos do tempo, do saber dos nossos avós, que foi transportado de geração em geração. "Quem não se alimentar do tempo e quiser fazer engenharia com os seres humanos, cometerá enormes erros se não souber integrar todo o conhecimento da humanidade", alerta o professor.
A ciência só se justifica quando é partilhada, comunicada. Só é objecto de ciência aquilo que é possível que todos sejam capazes de comprovar.
Foi deste modo simples, e com algum humor, que Carvalho Rodrigues comunicou o seu saber científico, enriquecendo os que viveram o tempo desta palestra e a aplaudiram de pé.

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