Problemas e desafios
Mulheres continuam a ser discriminadas

A desigualdade entre homens e mulheres continua a provocar sérias discussões e a ser tema de muitos debates. Apostar numa educação sexual disciplinada poderá ser a solução adequada no combate à discriminação.

 Por Nélia Sousa

Odete Santos esteve na Covilhã a convite da União de Sindicatos de Castelo Branco para debater a condição social da mulher

"A luta pela igualdade é inseparável da luta do povo pela democracia". A afirmação foi proferida por Odete Santos, deputada da Assembleia da República pelo Partido Comunista Português (PCP), que esteve na passada sexta-feira na Covilhã, no colóquio intitulado Novos Tempos, Novas Mentalidades - Igualdade de Oportunidades. O evento realizou-se na sede do Grupo Oriental de São Martinho e contou, entre outros, com a presença de Graciete Cruz da Comissão Executiva da CGTP e Maria do Céu Cunha Rego, presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE).
Ao longo do seu discurso Odete Santos fez questão de salientar a importância da democracia como um factor fundamental para a obtenção de direitos. "A democracia é a maior amiga das mulheres porque é através da democracia que se conquistam os direitos", referiu a deputada do PCP.
Contudo, e apesar da situação das mulheres ter melhorado após o 25 de Abril, a desigualdade em Portugal continua a ter os seus reflexos. O trabalho, a família, os salários são as áreas onde a discriminação é mais visível.
Segundo Odete Santos, a discriminação começou já há alguns séculos quando a mulher foi remetida para a esfera privada da sua casa e o homem para a esfera pública. Hoje, essa distinção não tem qualquer sentido e a mulher deve lutar pela dignidade dos direitos humanos e pelo direito à felicidade. A própria sociedade é apontada por esta militante do PCP como um motor que alimenta a desigualdade. "As letras da música pimba ou programas como o Big Brother são verdadeiras ofensas à dignidade das mulheres", considera.
Apostar na educação sexual nas escolas poderá ser o primeiro passo no sentido da mudança. "É ao Estado que compete dar a educação sexual. Isso faz parte da educação integral e isso é importante para alterar as mentalidades, porque pertencerá à educação sexual orientar a maneira como as pessoas se devem tratar e devem conviver", refere.
A sua intervenção foi ainda enriquecida com a alusão aos poetas António Gedeão e Sophia de Mello Breyner Andresen, poetas que, no seu entender, chamaram muito a atenção para a importância dos homens e das mulheres na transformação do mundo.

Defender os direitos humanos

Criado em 1979 o CITE é uma entidade que pretende combater a discriminação e promover a igualdade de oportunidades e de tratamento entre mulheres e homens no trabalho, no emprego e na formação profissional.
Para Maria do Céu Cunha Rego, presidente do CITE, um dos objectivos da organização é desenvolver projectos de formação que sensibilizem as pessoas para a igualdade nas relações laborais. No seu entender a diminuição da discriminação passa por uma partilha mais equilibrada entre homens e mulheres na vida profissional e na vida privada. "Muita da discriminação que existe relativamente às mulheres no mercado de trabalho tem uma contrapartida que é a discriminação dos homens na vida privada", refere., acrescentando que "é necessário que os homens e as mulheres partilhem igualmente essas duas esferas".
Na Covilhã a desigualdade também se faz sentir sendo mais visível no sector da indústria têxtil. De acordo com Luís Garra, do Sindicato dos Trabalhadores dos Têxteis da Beira Baixa, a discriminação não existe legalmente mas verifica-se na prática. A grande maioria dos trabalhadores deste sector são mulheres mas nenhuma assume o cargo de chefia. Também a nível salarial existe discriminação. "As categorias profissionais mais mal remuneradas são onde se concentram o maior número de trabalhadoras", esclarece o dirigente sindical. No seu entender "esta é uma luta que não se ganha através do confronto entre homens e mulheres mas quando ambos os sexos estiverem de braços dados no combate por uma sociedade mais justa e solidária. Uma sociedade mais realizadora daquilo que são as aspirações do ser humano". Enquanto isso não acontece a realização de debates pretendem ser uma forma de chamar a atenção para a realidade das mulheres trabalhadoras no nosso País.

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