Wim Mertens concedeu ao público covilhanense um espectáculo único
Wim Mertens em concerto no Teatro-Cine
A queda de um anjo

A presença do pianista belga Wim Mertens encheu o Teatro-Cine da Covilhã na noite de sábado para um concerto invulgar, que fez história no recinto e na cidade.

Por Catarina Moura

A plateia silenciou pouco depois das 22 horas e, na escuridão, aguardou expectante a entrada de Wim Mertens. Subitamente, um barulho forte no palco indicou não só a entrada como a queda do intérprete, que tropeçou na cortina que divide o palco dos bastidores e, de acordo com a organização, se magoou no joelho. Minutos depois, acalmado o burburinho entretanto provocado pela suave agitação do público em função da inusitada situação, Wim Mertens entra e enfrenta a plateia com um sorriso tímido, dirigindo-se ao piano. Um piano que protagonizou as duas horas seguintes, a par de uma voz fina, angelical e penetrante. Juntos, piano e voz conquistaram progressivamente os presentes, transformando as tímidas ovações iniciais em dois encores exigidos de pé, a que o pianista correspondeu com uma entrega a que ninguém ficou alheio.
Perna cruzada, balouçando no banco como uma criança entretida com o seu brinquedo, Wim Mertens partiu do seu último álbum - "Der Heisse Brei" - para uma viagem pelo seu extenso repertório de obras para piano e voz, construindo um recital envolvente e fazendo esquecer o frio e a chuva que caía copiosa no exterior.
Pouco familiarizada com a obra do pianista, a audiência, onde se misturavam as mais diversas gerações, deixou-se envolver pelo arrepiante lirismo dos falsetes do pianista, rendendo-se por completo quando Mertens interpreta um dos temas de "Maximizing the Audience", o mais conhecido dos seus álbuns entre o público português.
Este concerto é o segundo que Wim Mertens dá em Portugal no espaço de seis meses, tendo o primeiro decorrido a 9 de Dezembro no Centro Cultural de Belém, encerrando a quarta edição do Festival Outono de Lisboa. Esta segunda vinda a Portugal em tão curto espaço de tempo coloca a Covilhã numa posição privilegiada no panorama cultural nacional. Uma aposta certeira do Cine Clube da Beira Interior (CCBI), responsável pela organização da agenda do Teatro-Cine desde Abril último.