Mercado de trabalho
Sociólogos da UBI bem sucedidos

Por Nélia Sousa

Sociologia foi a opção de Catarina e Amílcar. Ambos se licenciaram na UBI mas seguiram caminhos diferentes. Numa coisa estão de acordo: perseverança e força de vontade são as palavras para o sucesso.

Catarina Rocha entrou a UBI em 1990. Quatro anos depois concluiu a licenciatura em Sociologia. O seu percurso profissional não foi fácil. Teve de se esforçar para conseguir atingir os objectivos propostos. Em 1994 a falta de emprego era elevada. "Não havia muita informação por parte das empresas acerca do papel dos sociólogos", explica. Depois de alguns meses a aplicar inquéritos por telefone, Catarina Rocha conseguiu arranjar estágio na Associação Industrial Portuense onde iniciou a carreira profissional na área de recursos humanos. Mais tarde ingressou em empresas de Consultoria o que lhe permitiu adquirir "uma visão crítica sobre as coisas". Actualmente trabalha no Centro Educativo do Mondego, na Guarda, como Técnica Superior de Reinserção Social. A sua tarefa "é criar indicadores de análise das crianças delinquentes de forma a construir estratégias de reinserção", sublinha Catarina Rocha.
Convidada pelo núcleo de estudantes de Sociologia, no âmbito da conferência sobre os sociólogos no mercado de trabalho, Catarina Rocha deu um conselho aos alunos presentes nesta conferência: "Os sociólogos não devem ficar parados. Mesmo que não consigam arranjar emprego na área pretendida devem tentar outras saídas profissionais. É importante, a nível curricular, que a pessoa já tenha trabalhado nalguma coisa porque permite às empresas perceberem que o candidato ao emprego já esteve em contexto de trabalho". Daí que esta socióloga defenda a criação de estágios permanentes ao longo do curso de forma a facilitarem aos alunos maior experiência. No seu entender os alunos devem também envolver-se em actividades extracurriculares.
Amílcar Moreira é também um caso bem sucedido no mundo da Sociologia. Após a conclusão do curso, há três anos atrás, Amílcar optou pela área da investigação tendo tirado um mestrado em Sociologia Económica em Lisboa. Voltou depois à Covilhã para trabalhar na Associação de Desenvolvimento Rural na Beira Serra. Entretanto a instituição onde tirou o mestrado atribuiu-lhe uma bolsa de investigação.
Actualmente exerce a profissão de auxiliar de investigação e está a tirar o doutoramento em Política Social. Segundo Amílcar Moreira, existem ainda alguns entraves à investigação para os jovens licenciados. "O início de carreira é muito precário. Estamos dependentes da existência de bolsas e financiamentos. Enquanto não se está agregado a uma universidade é muito difícil fazer investigação por conta própria. O facto de se estar em início de carreira é sempre difícil para quem se quer impor no mercado de investigação", refere.


Qualificar a UBI

A Universidade da Beira Interior (UBI) é ainda, no entender destes sociólogos, uma universidade pouco conhecida que precisa de encontrar soluções para se afirmar exteriormente.
Para Amílcar Moreira o facto da universidade ser desconhecida criou-lhe algumas dificuldades. Apostar na especialização deverá ser o objectivo principal da UBI. "O caminho do ensino superior deve ser a aposta em grau de especialização, qualificação e pós-graduação. É a maneira para se penetrar num mundo de trabalho cada vez mais duro de entrar".
Também Catarina Rocha é da opinião de que se deve promover mais a UBI porque "se houver uma melhor imagem da universidade nós somos melhor vistos lá fora". No entanto defende que o curso de Sociologia da UBI está ao nível das grandes universidades do país já que "oferece um conjunto de métodos e técnicas abrangentes que permite às pessoas adaptarem-se a cada uma das situações que lhes passa pela frente". Segundo esta socióloga as pessoas não têm ideia do que é a UBI nem onde é. "É pena porque temos aqui uma universidade grande, apetrechada de meios técnicos e as pessoas não conhecem", refere.
O facto da UBI se encontrar no interior pode ser considerado um obstáculo ao seu desenvolvimento. Segundo Catarina Rocha muitas das verbas para investigação acabam por ir para Lisboa ou Porto. O interior acaba por ser esquecido. "Como não há fundos também não há investigação, o que não atrai professores pois a investigação é importante para eles", conclui Catarina.
Já Amílcar Moreira considera que a grande falha da UBI é a falta de articulação com outros actores locais o que permitiria o crescimento da universidade e do meio ambiente onde ela circunda. "A universidade tem que passar por uma lógica do crescimento, pela qualidade. A UBI deve qualificar o seu corpo docente e deixar de lado a ideia de ter mais alunos para poder obter mais financiamento", refere este sociólogo.
Com as grandes mutações que ocorrem nas sociedades modernas o papel do sociólogo começa a ser cada vez mais imprescindível, o que contribui para o reconhecimento da Sociologia enquanto ciência social.