Manuel Santos Silva entrega a João Malaca Casteleiro a placa
da Universidade da Beira Interior
Dicionário da Academia apresentado na UBI
Novas palavras para a Língua Portuguesa

Foram precisos doze anos e um investimento na ordem dos 450 mil contos para a Academia das Ciências de Lisboa ver editado o seu "dicionário padrão". Depois de Lisboa, foi a vez da Covilhã ver apresentado o "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea", elaborado por uma vasta equipa dirigida por João Malaca Casteleiro, professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e professor convidado do Departamento de Letras na Universidade da Beira Interior. Para comprar este dicionário os falantes da Língua portuguesa terão de desembolsar 25 mil escudos.

Por Marisa Miranda

Na sessão de apresentação do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea que se realizou no passado dia 18 de Maio, no anfiteatro 7.21 da UBI, estiveram presentes entre outros o Reitor da UBI, Manuel Santos Silva, que aproveitou a ocasião para felicitar o lexicógrafo pela sua "obra de extrema importância para a comunidade de Língua Portuguesa". Coube ao Prof. António Fidalgo, docente da UBI, fazer a apresentação de João Malaca Casteleiro. António Fidalgo não poupou elogios a este "verdadeiro homem de letras". "Pessoa de mais fino trato pessoal como podem comprovar todos os que o têm como colega ou professor", salientou. No final da sua intervenção, António Fidalgo sublinhou que "num período em que Portugal atravessa uma crise de facilitismo, esta obra é um exemplo".
João Malaca Casteleiro iniciou a sua intervenção comovido com as palavras dos anteriores intervenientes e rapidamente se considerou "um modesto obreiro da Língua Portuguesa e do trabalho universitário". Ao publicar esta obra a Academia das Ciências de Lisboa vê cumprido um velho desígnio de 222 anos. Fundada em 1779, a Academia propôs-se logo "criar um dicionário que pusesse em destaque a riqueza e pujança da Língua Portuguesa". A partir de agora os 200 milhões de falantes desta língua têm ao seu dispor uma "obra ímpar na lexicografia portuguesa".
Uma vasta equipa coordenada durante 12 anos pelo Prof. Doutor Malaca Casteleiro, sediada no Instituto de Lexicografia e Lexicologia da Academia, conseguiu pôr de pé esta obra com dois densos volumes que totalizam cerca de quatro mil páginas, publicado pela Editorial Verbo. O resultado deste trabalho foi apresentado no dia 26 de Abril em sessão solene da Academia das Ciências de Lisboa, presidida pelo Presidente da República, Jorge Sampaio. "Foi um trabalho árduo para terminarmos um obra em que poucos acreditaram", desabafa Malaca Casteleiro. A primeira edição contou apenas com 10 mil exemplares, ao contrário da indicação inicial do dicionarista que apontava para os 20 mil exemplares. Neste momento o dicionário já esgotou e os interessados terão que esperar até ao próximo mês para adquirir esta obra.

Estrangeirismos causam polémica

Com cerca de 74 mil entradas lexicais, mais de 33 mil abonações linguístico-literárias de autores contemporâneos e cerca de 170 mil acepções ou definições de significados, este dicionário "visa constituir um instrumento de trabalho e de consulta sobre a Língua Portuguesa contemporânea que abrange os séculos XIX e XX", explica o autor. Superados os problemas da falta de recursos humanos e a inviabilidade de ocupar as instalações durante 24 horas por dia, sete dias por semana, a obra ficaria concluída só no dia 25 de Outubro de 2000.
Uma das novidades deste dicionário é a "oficialização" da grafia de um grande número de estrangeirismos correntes, bem como a inclusão de vocabulário gerado fora de Portugal, nomeadamente seis mil brasileirismos, um milhar de africanismos e 150 asiaticismos. Esta mudança tem provocado algumas reacções polémicas, que não surpreendem Malaca Casteleiro. "Quando substituímos lobby pela palavra lóbi, as pessoas reagem porque têm gravada na mente uma imagem gráfica do inglês", explica.
Também se têm ouvido muitas vozes críticas contra o avultado investimento que este dicionário representa. Malaca Casteleiro responde a estas reacções. "O investimento deste dicionário não chega a representar o custo de meio quilómetro de auto-estrada", ironiza.
Aos 65 anos, Malaca Casteleiro mostra-se incansável e já arregaça as mangas para futuros trabalhos. Neste momento, no âmbito do Instituto de Lexicografia e Lexicologia da Academia, a equipa de Malaca Cateleiro está a trabalhar na adaptação à norma portuguesa de um dicionário brasileiro. A criação de um dicionário escolar de um só volume com cerca de 35 mil entradas lexicais, um dicionário de sinónimos e os dicionários da Língua Portuguesa Clássica e Medieval são as próximas metas deste dicionarista.