Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi


O secretário de Estado da Administração Interna, Carlos Zorrinho, baptiza o novo auto-tanque dos Voluntários, acompanhado pelo comandante José Flávio

Os Bombeiros Voluntários têm luz verde da Câmara Municipal para a formação de um Corpo Permanente de primeira intervenção. Um desejo alimentado durante muitos anos e que o presidente da autarquia, Carlos Pinto, quer ver concretizado a partir do dia 1 de Janeiro de 2002.
O anúncio teve lugar durante o almoço que, no domingo, 24, assinalou o encerramento das comemorações dos 126 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Covilhã (AHBVC) e provocou uma enorme "onda" de satisfação em todo o corpo activo. Carlos Pinto autorizou a direcção e o comando a iniciar as diligências para o recrutamento e a formação de, no máximo, 12 homens e, "caso o Estado não comparticipe parte do investimento necessário", comprometeu-se a assumir todos os encargos. "Hoje, é absolutamente fundamental que a Covilhã dê um passo em frente no que respeita à segurança. O papel do Governo é, nesse sentido, imprescindível. No entanto, garanto que, se não nos derem o mesmo estatuto que concederam a outras cidades, nomeadamente a Castelo Branco, para a constituição de grupos permanentes, não vamos ficar parados e avançamos com os nossos próprios meios", sublinha o autarca.
"Não temos horários de trabalho,
temos horários de sacrificio"


O recado do presidente da edilidade é dirigido aos responsáveis governamentais e plenamente corroborado pelo comandante da corporação, José Flávio, e pelo presidente da direcção, Marques Malaca.
O descontentamento com o Poder Central é grande e estende-se à área dos equipamentos. E nem a presença do secretário de Estado da Administração Interna, Carlos Zorrinho, nas comemorações e a bênção de quatro novas viaturas (um auto-tanque, duas ambulâncias e um veículo para transporte e assistência a deficientes) arrefeceu os ânimos. Os Bombeiros serranos querem uma nova escada "Magirus" para uma actuação eficaz nos edifícios mais altos e não se conformam terem sido "passados para trás", quando, recentemente, material semelhante foi entregue a Castelo Branco, ao Fundão e à Guarda. Carlos Pinto não tem dúvidas: "Há aqui discriminação partidária. Não compreendo, nem aceito estas opções que prejudicam quem precisa e premeiam quem não precisa, apenas porque está politicamente mais próximo". Zorrinho, por sua vez, justifica o facto com "critérios técnicos" e assegura que "todas as reivindicações dos Bombeiros para 2002 serão alvo de análise cuidada".
Apostados em levar uma nova imagem da corporação à população, os responsáveis máximos da instituição não se esqueceram de, neste aniversário, tecer rasgados elogios ao corpo activo. Aos homens que, apesar da sua vida profissional e familiar normal, se "obrigam" a dar parte das suas vidas à causa nobre do salvamento de vidas e haveres. O comandante José Flávio pede, por isso, um maior reconhecimento por parte dos cidadãos e lembra que os Bombeiros covilhanenses são "a primeira corporação do concelho, do distrito e da Zona Centro, a sexta do País a nível do voluntariado e a 16ª no ranking de todos os bombeiros do País, voluntários e sapadores". "Nos Bombeiros da Covilhã não há horários de trabalho, há horários de sacrifício. É por isso que não somos melhores nem piores que os outros, somos diferentes", lembrou um comandante emocionado e convicto de que "há homens de grande valor nesta instituição, capazes de dar mais segurança a uma cidade e um concelho que estão em pleno crescimento e que exigem, hoje, medidas compatíveis com o desenvolvimento dos próximos 30 anos".





  Simulacro acaba com bombeiro ferido

Os 126 anos dos Bombeiros Voluntários da Covilhã ficam marcados por várias actividades, mas também por um acidente de contornos graves. Durante o simulacro realizado no sábado, 23, um elemento da corporação, João Carrola, 65 anos, viu uma bomba de Carnaval, utilizada para atear o fogo no local da simulação, rebentar-lhe na mão. Transportado de imediato ao Hospital da Cova da Beira, o bombeiro foi submetido a uma bem sucedida intervenção cirúrgica para reconstituição de três dedos e encontra-se a recuperar.
Uma simulação que acabou, assim, por se tornar demasiado real e reavivou a certeza do perigo constante que define a vida de um bombeiro. Perigo que ceifou já a vida a vários membros do corpo, homenageados no domingo, 24, com a inauguração de uma placa na entrada do quartel. Na inscrição constam os nomes de Sebastião Santos Júlio, antigo comandante desaparecido em 1931 na sequência de um acidente com um Pronto Socorro na curva da Nova Penteação, Manuel Dias Tarouca, bombeiro de 3ª classe, falecido num incêndio que, em 1936, afectou a Fábrica Manuel Lino Roseta, no Sineirinho, e ainda dos três homens mortos na queda de um helicóptero em 1996 - Fernando Xistra, António Vaz Marques e Ricardo Jesus Cardona.
Ainda no campo das homenagens, foram vários os voluntários agraciados com promoções e condecorações. Uma cerimónia que contou com a presença do presidente do Serviço Nacional de Bombeiros, Joaquim Marinho. No final, o responsável deixou uma garantia ao comandante José Flávio: "Sempre que tenham nesta zona uma situação de grande dificuldade podem contar com a disponibilização de meios nacionais, como os aviões e helicópteros pesados".