Por Raquel Fragata


O júri das primeiras provas de doutoramento em Civil pela UBI aprovou, por unanimidade, tese defendida por Victor Cavaleiro

Victor Cavaleiro é desde dia 17 o primeiro doutorado em Engenharia Civil pela UBI. A interpretação das "Condicionantes Geotécnicas à Expansão do Núcleo Urbano da Covilhã" valeu-lhe a aprovação por unanimidade do júri constituído por Jorge Barata (associado da UBI), José Alcino Rodrigues Carvalho (associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa), Fernando Ladeira (associado da Universidade de Aveiro), Lázaro Zuquette (associado da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo), Francisco Ferreira Martins (associado da Escola de Engenharia da Universidade do Minho), Luís Ferreira Gomes (associado da UBI), Isabel Moutinho de Almeida (auxiliar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e João Paulo Castro Gomes (auxiliar da UBI).
Luís Carrilho, vice-reitor da UBI, presidiu às provas. No final manifestou satisfação pelo nível de qualidade: "A Engenharia Civil irá constituir-se no futuro como uma das áreas de excelência" do ensino na UBI. "Esta foi a melhor tese que já me apareceu pela frente, talvez pelos meios de que dispôs, mas também pela dedicação do candidato", afirmou Fernando Ladeiro.
Com esta investigação, Victor Cavaleiro elaborou uma carta geotécnica da região envolvente à Covilhã, que passa a ser a primeira cidade do Interior dotada de uma cartografia deste tipo. Este documento tem apenas um carácter orientador e define as características dos terrenos e as áreas preferenciais para construção. O trabalho, desenvolvido com o auxílio das ferramentas do Laboratório de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), foi depois inserido numa base de dados georeferenciada da área adstrita ao plano de urbanização da Covilhã. Para tal, o docente da UBI desenvolveu uma análise de toda a área, entre a vertente setentrional da Serra da Estrela, a Cova da Beira e o eixo estruturante Teixoso-Covilhã-Tortosendo. As diferentes características do solo, que varia entre os 450 metros de cota e os 1400 nas zonas das Ribeiras, foram identificadas com vista a um estudo de base ao planeamento local das edificações. Na construção civil factores como a presença de água nos solos, a sismicidade, a erosão, a sua constituição, o tipo de fundações aconselháveis ou a resistência dos taludes devem ser estudados para o planeamento urbano.

Autarquia deve adoptar estudos

Os avaliadores reconheceram neste trabalho uma tese vasta, resultante da aplicação de vários métodos e sondagens com meios informáticos modernos e apropriados (DPSH, SPT, etc.). A metodologia, originalidade e conteúdo foram elementos debatidos na argumentação que o júri levou a cabo.
O "interesse prático" e o "cariz científico" foram reconhecidos por todos os elementos do júri. A criação da carta geotécnica de aptidão à construção deve, na opinião dos especialistas presentes, servir de modelo ao desenvolvimento de outros documentos na região.
Rodrigues de Carvalho referiu que este deve ser um documento orientador da revisão do Plano Director Municipal (PDM) da Covilhã. "Acredito que [esta investigação] vai fazer com que a Cova da Beira e municípios à volta tenham o planeamento necessário para o seu desenvolvimento", refere.
Nesta pesquisa, o investigador identificou diversos problemas urbanísticos na cidade: a construção em altura, a construção em terrenos de declives acentuados e a construção nas zonas envolventes às ribeiras, e acredita que algumas construções representam mesmo risco para os munícipes.
Na opinião de Victor Cavaleiro a autarquia covilhanense deve preocupar-se com a inclusão destes estudos sobre os solos no seu Plano Director Municipal (PDM), documento que define todas as orientações sobre as urbanizações do território. "Frisei que o PDM da Covilhã era um dos muitos PDMs do País que não tinham integrados quaisquer elementos de geotécnia. É indispensável e impreterível que a próxima revisão [do Plano da Covilhã] tenha estes elementos, senão é um PDM que não adianta existir", assevera o docente.
A utilização dos resultados deste estudo devem mesmo, na opinião de Francisco Ferreira Martins, abrir caminho para a definição de um mapa de risco da zona já edificada, criando-se um sistema de alerta para agir em situações de risco iminente. Castro Gomes defende também que esta investigação "deve ser mostrada (...) à cidade e à população, contrapondo-a com um mapa da construção já edificada".






 

Segurança exige estudos e plano de risco
UBI pode avaliar vulnerabilidade dos terrenos

Durante o trabalho de investigação desenvolvido, Victor Cavaleiro pôde observar que a área urbanizada da Covilhã apresenta riscos de segurança. E alerta: "Há riscos e são elevados". As situações de maior alarme são os muros de suporte e as construções em terrenos resultantes de antigos deslizamentos e em terrenos de aterro.
Durante o período analisado foi possível identificar mais de uma dezena de casos, que, "por falta de medidas cautelares", puseram em risco vidas humanas. Para que essas medidas sejam previstas pelos responsáveis autárquicos, o docente defende que a "Câmara deve pedir à UBI um levantamento da vulnerabilidade desta região". E alerta: "Antes de se começarem a construir vias era necessário haver um plano de risco".
A UBI poderá vir a ceder os estudos feitos até aqui à autarquia. No entanto, ressalva: "Esta carta, agora publicada, tem um cariz orientador, não evita, portanto, a realização de estudos particulares".
Na cartografia apresentada estão definidas três diferentes áreas com características de urbanização diversas: uma zona verde - onde é possível construir sem qualquer problema, uma zona vermelha - zona proibitiva, onde devem ser evitadas as construções, quer pela natureza e segurança dos solos, quer pelos custos inerentes, e uma zona laranja - onde é possível construir de forma condicionada.
Com base nesta carta "prevê-se que no futuro próximo a autarquia esteja sensibilizada e possa avançar para cartas deste género".
A cartografia aponta a zona do vale como a área ideal para construir, exceptuando as zonas inundáveis pelos leitos dos rios. Aqui, afirma o investigador, é possível construir com "mais segurança e com custos mais baixos".

Torre de Santo António está segura

Um dos edifícios sondados para a investigação foi a torre de Santo António. Victor Cavaleiro efectuou várias sondagens no terreno e pôde observar que o edifício está bem implantado e não apresenta problemas. "Verifiquei que as fundações para aquele sítio e para aquela torre podem ser as aplicadas", garante.
O docente refere mesmo que a construção é segura e que em termos de fundações o solo apresenta características favoráveis. "Não tem fissuras. Quanto à parte estrutural não me compete a mim avaliar, apenas avalio geotecnicamente", afirma.
Relativamente à grua ali existente o docente aponta para o risco de degradação decorrente da falta de manutenção e que pode ameaçar a segurança pública. Ao edifício, defende, "restam duas hipóteses: revitalizá-lo ou implodi-lo".
Apesar de não ter sido possível obter mais informações sobre o processo da obra junto do vereador municipal responsável pelo pelouro do urbanismo, o Urbi et Orbi sabe que esta não se encontra embargada e que já foi pedida renovação da licença de construção. No entanto essa prorrogação voltou a caducar em Janeiro deste ano.