José Geraldes

Interior e avaliação das escolas

As provas aí estão. A divulgação dos dados sobre as escolas mostra à saciedade o estado medíocre do ensino secundário. Já se sabia que as coisas não andavam bem. Agora tirou-se a prova dos nove.
A decisão do ministro Júlio Pedrosa merece elogios, pois não teve medo da transparência que deve ser apanágio da Administração Pública. Custa a perceber a atitude dos sindicatos que eram contra a divulgação dos dados. Mas a transparência só dignifica o exercício da vida democrática. Por isso, esta divulgação, como já foi dito nos jornais de referência, é um acontecimento histórico.
E não haja medo das comparações das escolas. Os dados vindos a lume são um instrumento valioso para reflexão dos professores, associações de pais e do próprio Ministério da Educação e dos sindicatos. Haja, agora, coragem para tirar as ilações que obviamente se impõem.
Numa análise global, regista-se uma série de factores a evidenciar. O primeiro refere-se à nítida discrepância entre o Litoral e o Interior. Os melhores resultados situam-se claramente no Litoral com predominância para Lisboa e Porto. O Interior sai penalizado com raras excepções como o caso do Externato de Manteigas que consegue o melhor resultado a Português B.
No domínio do ensino, também, é preciso pensar que o Interior não pode continuar a ser brindado com discursos de retórica. Se às escolas do Interior
forem dadas condições convenientes, os resultados podem melhorar. Tenhamos a certeza disso. E desapareçam os complexos que porventura ainda possam existir a este respeito.
Outro factor a salientar tem a ver com os critérios usados nas escolas para o êxito dos resultados. O rigor e a exigência surgem no topo destes critérios. Ou seja, comprova-se que o facilitismo bastas vezes aqui denunciado não leva a lado nenhum. Aliás, Elisabete Martins, professora no Externato de Manteigas, explica os bons resultados no Português B na aplicação destes critérios.
A estabilidade dos professores explica o segredo do sucesso. O acompanhamento dos alunos desde a pré-primária, com o seu necessário conhecimento, dá aos professores elementos fundamentais para um progresso consistente na aprendizagem. É a aplicação do velho princípio : "Para ensinar o John, é preciso conhecê-lo primeiro." A isto acresce a proximidade com os alunos. Aqui entram em jogo os afectos de que tanto se fala. Afectos que valorizam os aspectos positivos de cada aluno.
Todos os responsáveis das escolas mais cotadas insistem nesta valorização. Dizer ao aluno que não tem possibilidades de progredir só pelo facto de apresentar notas negativas é uma condenação gratuita. Não se trata de facilitar mas de conferir ao ensino um toque de humanismo. A proximidade significa acompanhamento, em todos os aspectos, com relevância para uma efectiva ligação à família.
Quanto às disciplinas, o caso da Matemática assume foros de tragédia. É uma verdade que não pode ser iludida. Também aqui o Interior figura nos lugares da lanterna vermelha. Se a nível nacional tem que se desencadear uma verdadeira revolução, no Interior é uma guerra permanente a manter.
A Matemática não pode continuar a ser o papão dos alunos. Professores com criatividade alcançam autênticos milagres.
O caso do Português é outra batalha a vencer. Não se pode admitir que alunos entrem no Ensino Superior a darem erros de palmatória e concluam uma licenciatura a continuarem quase analfabetos na língua portuguesa e incapazes de redigirem um relatório em termos correctos.
Com razão já se notou que hoje os alunos aprendem na universidade o que antigamente se aprendia na Quarta-Classe. Veja-se como falam os pivôs das televisões e locutores das rádios. A língua portuguesa é assassinada por estes senhores.
A divulgação da avaliação das escolas exige a correcção de todos estes dislates. Por este motivo, o ministro Júlio Pedrosa prestou um notável serviço ao País.
Os responsáveis educativos têm agora nas mãos um instrumento para que a educação deixe de ser um eterno problema adiado em Portugal.