Sena da Silva


Por Francisco Paiva

António Sena da Silva deixou-nos o Centro Português de Design (www.cpd.pt), do qual foi o primeiro director, concertando esforços para a construção do edifício sede e iniciando a publicação do periódico Cadernos de Design, a par da tradução e edição de diversos títulos de referência.
A imprensa referiu com insistência o seu decesso, e o Expresso havia-lhe publicado recentemente uma longa entrevista e homenagem(http://semanal.expresso.pt/revista/artigos/interior.asp?edicao=1510&id_artigo=ES38251).
Cito alguns excertos do seu editorial, no nº2 dos Cadernos, sobre o ensino do design em Portugal, porque ouvir é a melhor forma de respeitar um crítico.

"O MODELO PORTUGUÊS para o ensino do design está -felizmente- por definir. As escolas de design que há em Portugal, neste ano de 1992, são aquelas que podemos ter.(...)Temos na Europa um número apreciável de instituições de ensino (algumas de grande prestígio), onde cada uma procura explorar o melhor que pode atributos que oscilam entre as estruturas de base fortes em tecnologia e tradições sólidas de ensino artístico(...)Noutros casos, como o da Glasgow School of Art ou a Academia de Rietveld, a simples evocação dos seus "heróis" e a Cultura impregnada nas paredes dos seus edifícios permitem abordar as actividades projectuais a partir de uma tradição de exploração artística, assumida como estímulo para a definição de cenários de futuro, em que o "state of the art" tecnológico não é o limite, mas sim o ponto de partida.(...) a Domus Academy (de Milão) propõe um espaço de investigação, de reflexão teórica e de práticas projectuais, onde intervêm representantes das mais diversas especialidades e dos mais diversos quadrantes de opinião.(...)Outro aspecto a destacar na Domus Academy é uma actividade editorial que não se limita a publicar as ementas dos cursos que tem para vender, a promover as virtudes dos seus planos de estudos, a celebridade do seu "staff" ou o êxito que têm no mercado de trabalho os designers com o diploma da Domus(...) procurando atingir vários grupos de leitores para quem o entendimento do design no contexto dos fenómenos sociais pode ser importante(...)As escolas de design portuguesas (tal como a maioria das escolas estrangeiras que acabamos de referir) raramente poderão oferecer aquilo que prometem (...)Há sempre carências de recursos, que obrigam ao ajustamento dos programas e das práticas (...)Não consideramos que este aspecto seja preocupante. Preocupante será insistir em agarrar modelos errados, irreproduzíveis ou alheios à realidade da sociedade que somos.(...)"