José Geraldes

A Covilhã na vanguarda das cidades médias


As comemorações de mais um aniversário da Covilhã-cidade constituem uma ocasião importante para nos interrogarmos sobre a Covilhã e a sua projecção no futuro. Cícero dizia que uma cidade "não é formada por pedras mas pelos cidadãos. "S. Alberto Magno acrescentava mais tarde que a "cidade se define como uma comunidade urbana e fraterna".
Na Antiguidade Clássica, Platão imaginou uma cidade ideal de plano circular. Plutarco proclama a urbis ludimus - a cidade divertida - como o melhor ambiente de instrução onde a educação se identifica com o ócio infantil. A polis grega implicava a participação de todos em ordem ao bem comum.
No séc. IV, S. Agostinho imaginou a "cidade de Deus" habitada por anjos e homens onde a única regra seria a justiça. No séc. XVI, Thomas Moore redige a Utopia. Aí descreve uma ilha com 54 cidades onde deviam imperar as leis justas.
Afinal, as cidades nascem por imperativo de os homens serem felizes na vida em conjunto. E pela necessidade de utilizarem os territórios como lugar de progresso para o bem de todos. Esta era a ideia dos filósofos.
Que são, hoje, as cidades? Muitas vezes, apenas, aglomerados de pessoas que mal se conhecem. Isto devido ao seu mau planeamento. E onde surgem problemas de violência e desadaptações de toda a ordem. Mas onde, também, se constroem laços de amizade e se inventa o futuro. E se faz comunidade. E se procura a verdadeira felicidade. E as gentes se fixam.
Uma cidade impõe-se pelo dinamismo dos homens e mulheres que lá vivem. Toda a história das cidades é marcada pela visão aberta e rasgada de um punhado de pessoas que souberam descobrir, no tempo oportuno, horizontes novos para o seu progresso.
A Covilhã teve a sorte de nos anos 70 ver despertar um grupo de seus filhos pensar a cidade, em termos de futuro, com base na educação e no conhecimento. E de tal forma que a Covilhã deu um salto de gigante no domínio do ensino.
Com as fábricas de lanifícios em doença crónica, a Covilhã caminhava a passos largos para o aniquilamento da tradicional mono-indústria. Os títulos dos jornais da época não deixavam margens para dúvidas: "A Covilhã, cidade fantasma". E era exactamente isto que se previa. Mas as profecias da desgraça não se cumpriram para bem de todos nós. Mesmo com as potencialidades turísticas nunca devidamente exploradas. E a Covilhã venceu.
Hoje a Covilhã é uma cidade de média dimensão com imensas possibilidade de futuro apesar de sofrer da interioridade e de erros cometidos em várias das suas urbanizações. O Ensino Superior, o turismo e a qualidade dos seus tecidos exportados para todo o mundo são pilares que, em consonância com o futuro Parque de Tecnologia e Ciência, constituem as bases de uma cidade promissora.
Há problemas ainda por resolver. O principal tem um nome: a fixação de quadros especializados e o estancamento da população. Importa, por isso, criar as condições para, como dizem os especialistas, atrair as pessoas ao território. Isto não se consegue em dois ou três anos. E deve ser uma tarefa de convergência. Ou seja, um trabalho de todos.
Um outro problema passa pela maior dinamização de todas as actividades económicas, culturais e pelo máximo aproveitamento da Serra da Estrela. Se há coisas que estão no bom caminho, há outras que precisam de um empurrão. Mas sem estar à espera do Estado nem da subsídio-dependência, a grande pecha dos portugueses.
Com as acessiblidades completas daqui a alguns anos para Espanha e Coimbra, a Covilhã pode ocupar um lugar de vanguarda entre as cidades médias portuguesas. É o que todos esperamos e desejamos na comemoração de mais um aniversário.