Paulo Lopes, director da Casa do Menino Jesus
Centro de Intervenção Social e Psicopedagógica
Em prol da integração social

O insucesso escolar é a nova preocupação da Casa do Menino Jesus. A integração de crianças e adolescentes na sociedade preenche o lugar de destaque. A inauguração do Centro de Intervenção Social e Psicopedagógica prevê-se para o último dia deste mês, mas é já esta semana que os alunos têm contacto com as instalações e a equipa técnica.


Por Ana Filipa Silva


Nalguns casos, o insucesso escolar provoca a exclusão social. Torna-se mais evidente em relação aos alunos que reprovam de ano, mas os estudantes que têm dificuldades de aprendizagem, embora passem de ano, também se podem considerar como sem êxito na escola. Para a nova acção da Casa do Menino Jesus, apenas contam os primeiros. Entre as escolas, públicas e privadas da cidade da Covilhã e da vila da Boidobra que aderiram a esta iniciativa, os dados mostram que 183 alunos estão nessa situação.
As causas possíveis do insucesso não são apenas intrínsecas ao carácter do aluno. O ambiente familiar, e deficiências auditivas ou visuais podem ser duas razões para que uma criança ou adolescente não progrida como o esperado para a sua idade. Este é o público-alvo do Centro de Intervenção Social e Psicopedagógica ( C.I.S.P. ), desde que os utentes ainda estejam dentro da escolaridade obrigatória.
Para tentar resolver estes casos existe um gabinete de psicologia, de assistência social e de formadores. O contacto com os alunos e pais começa esta semana. As crianças têm de vir acompanhadas sempre pelos pais, já que o problema pode passar por eles, como afirmou Paulo Lopes, director da Casa do Menino Jesus. "As famílias não esperam muito delas, e elas respondem de uma maneira equivalente.".
Este Centro "pretende combater a exclusão social, combatendo uma das suas vertentes que é o insucesso escolar". Para tal candidatou-se ao programa "Ser Criança" do Instituto para o Desenvolvimento Social, cuja percentagem de financiamento é de 80 por cento. Os outros 20 por cento, cerca de 10 mil contos repartidos por três anos, ficam a cargo da Casa do Menino Jesus.
O projecto foi elaborado no ano passado, tendo a equipa do C.I.S.P. trabalhado provisoriamente na "Casa-Mãe" entre o mês de Junho e Outubro do corrente ano. Agora, já nas instalações definitivas da Rua da Barbacan, passam da teoria à prática. Cinco formadores têm ao seu dispor duas salas equipadas de modo a ter em simultâneo pelo menos dois grupos de seis a oito crianças a trabalhar os conhecimentos e conceitos essenciais que não adquiriram na escola.
A inauguração está marcada para as 17 horas do dia 30 de Novembro. As expectativas de que os objectivos do projecto sejam concretizados são muitas e de toda a equipa. Paulo Lopes não deixa passar a oportunidade e agradece ao Centro Regional o grande apoio que lhes deu, bem como à Câmara Municipal da Covilhã a sensibilização perante estes casos.

 




Rita Tenrinho, a psicóloga de serviço no Centro de Intervenção Social e Psicopedagógica




"Todas as escolas deviam ter um psicólogo"
 
O Instituto Superior de Psicologia Aplicada ( I.S.P.A. ), em Lisboa, ensinou a Rita Tenrinho tudo o que hoje aplica no trabalho que faz no C.I.S.P., como a avaliação e acompanhamento das crianças que têm essa necessidade.
Entrou para o projecto através de um convite anterior à entrevista que lhe garantiu o seu primeiro trabalho. Psicologia Clínica foi o ramo que escolheu no seu curso, mas sabe que o mercado está saturado. "Os concursos abrem, mas demoram muito tempo", afirma.
A vertente que permite encontrar um trabalho mais rapidamente é a das organizações, inclusive Rita Tenrinho diz que "a Psicologia Organizacional é a que tem mais saídas com sucesso, a Clínica é por conhecimento de A, B ou C.". Mas para que se tenha alguma espécie de contacto com o meio, trabalhar no voluntariado em paralelo ao curso é uma boa opção. Esta nova psicóloga teve esse tipo de experiência, estando em contacto com as crianças doentes do Hospital de Dona Estefânia.
Quando questionada acerca do trabalho da psicologia nas escolas, respondeu que pouco sabe sobre o assunto, mas reconhece que "todas as escolas deviam ter um psicólogo", embora esse profissional não seja suficiente para tantas crianças e adiantou que "este projecto, mesmo que houvesse psicólogos a trabalhar efectivamente nas escolas, não deixava de ser necessário".
Ser psicóloga dá muitas alegrias, mas tem momentos em que a tristeza é grande. Contudo esses laços não podem ser transparentes. Uma relação próxima e positiva é obrigatória, mas não é fácil estabelecer os limites, ou seja, não se envolver. "Então com pouca prática, mais difícil se torna não chegar triste a casa com uma situação ou outra", diz-nos a psicóloga da C.I.S.P. que deixou o Alentejo para viver sete anos em Lisboa e subir mais 300 quilómetros até à Covilhã.
Saiu do reboliço da capital para a serena Cidade Neve. Foi uma mudança radical. "Às vezes, preciso da agitação das grandes cidades", confessa-nos. A sua constipação é a prova que também sentiu a diferença de temperatura, embora diga que como alentejana já está habituada ao frio. Apesar de ser a primeira vez que veio à região da Beira Interior, o balanço da sua estada na Covilhã não é negativo, até porque vai aproveitando as iniciativas culturais que a cidade oferece e o tempo assim passa mais rápido e com melhor qualidade.