Por João Alves
NC/Urbi et Orbi


Alzira Serrasqueiro diz que nem só os covilhanenses conhecem a Serra da Estrela, que não se resume só à Torre

Imagine que vai à Serra da Estrela. Ao brincar na neve, cai e parte uma perna. Não sabe onde está. Sabia que, caso esteja numa zona que pertence ao concelho de Manteigas, será socorrido por bombeiros ou Protecção Civil do distrito da Guarda, mas que se o acidente acontecesse no concelho da Covilhã, teriam que ser os bombeiros ou Protecção Civil do distrito de Castelo Branco a entrar em acção. Ou seja, até ao momento, e há já alguns anos, a Serra da Estrela é abrangida por dois Planos de Emergência, um por parte da Protecção Civil do distrito da Guarda, e outro de Castelo Branco. Uma situação que tem gerado alguma confusão, pois muitas vezes, não se sabe quem deve actuar em determinado momento. "Basta uma curva para que se saia do concelho da Covilhã para o de Manteigas" salienta a Governadora Civil de Castelo Branco, Alzira Serrasqueiro. E por escassos centímetros, já não serão os bombeiros covilhanenses a actuar, mas sim os de Manteigas. Recorde-se que no ano passado, algumas corporações de bombeiros acabaram mesmo por trocar acusações sobre esta competência de funções. Uma situação que poderá terminar a breve prazo. É que na sexta-feira, 30, os dois governadores civis com responsabilidade nesta área, Alzira Serrasqueiro (Castelo Branco) e Fernando Cabral (Guarda) entregaram ao vice-presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil, Pedro Lopes, um projecto para que seja implementado, o mais rapidamente possível, um único plano de emergência para a Serra da Estrela, que poderá assim acabar com algumas das confusões que se têm registado.
"A ideia de criar um só plano de emergência não é uma medida inédita. Este Plano prevê que se possa ter aqui uma equipa conjunta da protecção civil, e numa situação em que as pessoas necessitem realmente de socorros, não tenha que se estar a pensar quem é que vem aqui, pois as pessoas já cá estão" explica Alzira Serrasqueiro. Para a Governadora Civil do distrito de Castelo Branco, não interessa quem coordena, se alguém da Guarda ou da Covilhã. "É preciso é ter um socorro pronto". Alzira Serrasqueiro afirma que o Plano será implementado brevemente, mas deixa o aviso de que quem actuar na Serra, "terá que a conhecer muito bem.

Protecção Civil pretende uma equipa de primeira intervenção em permanência no Maciço Central

Não podemos é ser bairistas e dizer que só conhecem a Serra da Estrela as pessoas da Covilhã. Isso não é verdade. A Serra é muito grande. Se calhar, a maior parte até está no distrito da Guarda. Isto, tal como estava, era uma situação ridícula. No plano diz-se quem é quem, o que deve fazer. Já o Governador Civil da Guarda, Fernando Cabral, salienta que o importante "é prestar o melhor serviço a quem necessite. Não importa quem fica à frente. É óbvio que quando se fala da Serra, se fale na Torre. Mas não nos podemos esquecer que a Serra é muito vasta, estende-se a outros concelhos".

Equipa de primeira intervenção em permanência

Para o delegado da Protecção Civil do distrito de Castelo Branco, Rui Esteves, este Plano poderá informar os turistas de qual o equipamento que terão que trazer quando vêm à Serra e criar condições para que o mesmo venha à Estrela em segurança. "Ele tem que ter condições de segurança como em qualquer parte do País. Em caso de acidente, é preciso que seja socorrido de imediato. Por isso pensamos que deve haver logo uma equipa de primeira intervenção no local. Há instalações, há vontade da GNR em ceder espaço. Para além disso, terá que se criar uma ambulância de emergência pré- hospitalar e deve haver um jipe todo-o-terreno com pessoas com formação de salvamento em montanha, para de imediato, num desaparecimento, prestar um serviço de qualidade. O acidente deu-se e passado cinco minutos está alguém para o salvamento. Não importa se da Covilhã ou Guarda. Podem até ser da China, têm é que cá estar" explica. E adianta que a maioria das corporações de bombeiros têm formação neste campo, pelo que a salvaguarda do cidadão estará assegurada. No entanto, o NC sabe que os voluntários da Covilhã, por exemplo, já acabaram com a sua equipa de primeira intervenção. Quanto à integração de equipas como a do SOS Estrela, Rui Esteves diz que "todos somos poucos e todos somos importantes. Esta equipa poderá ser até a mais importante de todo este plano. Mas integra-se como estrutura de apoio. É necessário integrá-los e alguns apoios para que possam executar a sua função, num serviço de qualidade". Este responsável adianta ainda que o Plano prevê a instalação de um repetidor de campanha, por parte de uma empresa de serviços de telecomunicações móveis, de modo a melhorar a comunicação na Serra.
Já o vice-presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil, Pedro Lopes, natural da Guarda, salienta que este Plano pretende, acima de tudo, "dar uma unidade de controlo de todos os agentes de Protecção Civil, para que o socorro funcione". Pedro Lopes garante que o mesmo será aplicado no mais pequeno espaço de tempo e que a Protecção Civil já está a preparar uma ligação com o Serviço Nacional de Bombeiros, "de forma a que os planos de intervenção dos vários agentes (GNR, bombeiros) fiquem anexos a este. Os problemas que têm surgido nos últimos anos, saber quem faz o quê e onde, penso que ficarão resolvidos".




Posto sazonal abre na Torre
GNR trabalha sem condições

 
A Guarda Nacional Republicana está a trabalhar na Torre, "sem as condições ideiais" adianta o Major-General Manuel Carvalho Figueiredo, responsável pelo Destacamento Territorial nº5-Zona Centro. Para além disso, Manuel Figueiredo afirma que a GNR poderá, daqui a algum tempo, ter mais um posto na Serra da Estrela, mais concretamente nas Penhas da Saúde, uma medida anunciada no dia em que voltou a reabrir o Posto Sazonal desta força de segurança instalado na Torre.
"Estas não são as condições ideais para trabalharmos, pois este posto é emprestado pela Força Aérea, pelo que não podemos fazer melhoramentos. Há uma proposta da Turistrela para mantermos um posto nas Penhas da Saúde. É muito melhor porque ficaremos com melhores instalações, com a vantagem que também poderemos fazer no que toca a evacuações. É que nós, aqui, também podemos ficar também isolados" explica Manuel Carvalho Figueiredo.
Quanto ao Posto Sazonal, não apresenta grandes novidades em relação ao ano passado. Vai funcionar até Maio, enquanto as condições climatéricas o exigirem, e tem como principal objectivo prevenir situações de perigo para o elevado número de pessoas que nesta altura se deslocam ao ponto mais alto de Portugal continental. " Não há novidades, será um posto territorial com as missões de segurança e patrulhamento, com especial atenção em desembaraçar trâfego" explica Manuel Figueiredo. Ao todo, estarão na Torre 20 efectivos da GNR, seis dos quais ficarão durante os cinco meses de funcionamento, sendo os restantes substituídos rotativamente. Estes estarão munidos de três jipes, duas motos, dois cães e fatos especiais para neve. Nos fins-de-semana, altura de maior afluência de turistas, o posto será reforçado com mais dez homens, um máximo de 15 quando a situação o justificar e em altura mais críticas, como o Natal, Páscoa ou Carnaval, o número de efectivos poderá ascender a 35.
Instado a comentar o facto da Serra poder vir a ter um único Plano de Emergência, Manuel Figueiredo salienta que essa medida " vem ajudar o trabalho da GNR. Às vezes temos um acontecimento qualquer e ficamos na dúvida sobre quem devemos accionar, os bombeiros da Covilhã ou de Seia. Se houver alguém a coordenar será mais simples. Com a Protecção Civil, não há parcerias, mas sim um complemento de acção".
Já o comandante da GNR da Covilhã, Albino Tavares, considera que os meios são suficientes, mas que "as instalações são as mínimas para dar resposta às necessidades. O posto nas Penhas efectivo e permanente iria facilitar as nossas tarefas, pois poderíamos ter pessoal especializado para actuar. Para além de salvamentos, temos muitas dificuldades no escoamento de trânsito , pois na Serra faltam estacionamentos".