Por Francisco Carvalho e Rui Castro


"Esta equipa tem sido muito solidária, muito determinada, muito profissional", diz o técnico do Sp. Covilhã

Urbi et Orbi - João Cavaleiro, a primeira volta do Campeonato está a
terminar e o Sp. Covilhã está em primeiro lugar isolado e sem derrotas. Está tudo a correr como previsto?
João Cavaleiro- Eu espero que nós consigamos terminar a primeira volta em primeiro lugar, isso era bom sinal, mas ainda falta o jogo em Torres Novas e em casa com o Odivelas. O objectivo a que a direcção se propôs no ínicio daépoca, tal como nós, foi tentarmos a subida à II Liga, e quando se está em primeiro lugar significa que as coisas estão a correr bem.

U@O- E quais foram os aspectos mais positivos da equipa até esta fase do campeonato?
J. C.- Este campeonato é muito competitivo como a própria tabela classificativa o indica, ou seja, há uma diferença de seis pontos entre as cinco primeiras equipas e esta competitividade traz acima de tudo muitas dificuldades. Aquilo que tem sido em minha perspectiva a nossa maior força é a capacidade de nos unirmos nas dificuldades que temos enfrentado, isto é, esta equipa tem sido muito solidária, muito determinada, muito profissional e uma equipa que trabalha muito e bem não só ao domingo, mas também durante a semana. Esses têm sido factores primordiais para que as coisas possam acontecer com naturalidade e que as vitórias possam ser o corolário desse trabalho.

U@O - E quanto aos aspectos mais negativos da equipa?
J. C.- Eu acho que não há aspectos negativos, porque uma equipa que em 17 jornadas sofre oitos golos e marca 23, demonstra que, se na finalização não somos os melhores, a defender somos claramente superiores aos outros. Os campeonatos conquistam-se por pontos, e esses pontos ganham-se também a atacar, mas essencialmente a defender bem. A defesa já vem de épocas transactas e é composta por jogadores que se conhecem muito bem, e por isso, quando nós temos uma coisa boa temos que a valorizar e não esquecê-la. Quer isto dizer que se esta equipa sempre defendeu bem há que continuar a fazê-lo e melhorar ligeiramente no aspecto da finalização.

U@O - Então o que é que tem faltado para a finalização não estar a corresponder?
J. C.- Não tem faltado nada, mas o futebol não é matemática e os grandes finalizadores não abundam em Portugal. Por vezes as coisas não correm como queremos.

U@O - Com a reabertura do mercado de transferências em Dezembro, ficou alguém por contratar?
J. C.- É evidente que nós fomos das equipas que menos mexemos no nosso plantel e a principal razão baseia-se essencialmente na capacidade financeira do clube. Nós tivemos interessados em alguns jogadores que acabaram por ir para os nossos concorrentes, porque o equilíbrio financeiro do clube não permitiu as suas contratações. Dentro do que era possível só conseguimos ir buscar um jogador, embora nós saibamos que a equipa necessitava de mais um ou outro reforço.

U@O - O Danilson foi uma boa contratação?
J. C.- O Danilson foi a contratação possível para uma zona do terreno em que pensamos que pode ser útil, todavia foi uma contratação que permitiu ao clube não pôr em risco o ordenado dos seus atletas no futuro.
Gostaríamos de ter um jogador com mais valor, mas o custo do seu passe seria demasiado elevado e o Covilhã não pode suportar tais custos. O Danilson veio no sentido de ajudar, nunca para resolver.


Victor Cavaleiro trabalha em Futebol desde os 14 anos

U@O - O plantel é suficientemente bom e equilibrado para aguentar o resto do campeonato e pensar na subida de divisão?
J. C.- O plantel é bom porque a maioria foi escolhida por mim, portanto tem a confiança do treinador. No entanto, sabemos que o futebol tem lesões, castigos, quebras de forma e, assim, 19 ou 20 jogadores são claramente poucos. Um dos papéis do treinador é fazer este tipo de gestão, aliás não é em vão que hoje se diz que o treinador é também um gestor de recursos e compete-nos a nós fazer o melhor possível neste capítulo.

U@O - Houve um momento na época em que o Covilhã esteve mal classificado, ao registar três empates consecutivos. Sentiu nessa altura que o seu lugar poderia estar em risco?
J. C.- Eu tenho a felicidade de ser profissional de futebol desde os catorze anos, mas graças a Deus necessitando muito do futebol essas coisas nunca me toldaram o espírito. Quando eu não estou no futebol, e em 12 anos de treinador apenas estive parado seis meses, tenho sempre a minha escola onde trabalho com afinco e amor. Percebendo perfeitamente que há pessoas que estão menos satisfeitas que outras, mantivemos sempre a nossa linha de rumo, olhámos em frente e confiámos sempre no nosso trabalho e dos jogadores. Roma e Pavia não se fizeram num dia e no futebol as coisas são pensadas de uma maneira diferente, ou seja, espera-se que a vinda de um novo treinador implique chegar, ver e vencer. Se eu conseguisse pôr todas as equipas para onde vou a ganhar desde o primeiro dia, muitos treinadores da I Liga não estavam cá e eu estaria a ocupar o lugar deles.

U@O - Como é que tem sido o apoio da direcção?
J. C.- O apoio da direcção, por aquilo de que me apercebo, tem sido total. Julgo que esta direcção não faz as coisas de ânimo leve e quando pensaram contratar-me pensaram bem no que estavam a fazer. Como não fui eu que pedi para vir para o Sporting da Covilhã, embora tenha estado por várias ocasiões para representar o clube, julgo que o fizeram maduramente e escolheram o que parecia melhor na altura.

U@O - O que é que está à espera desta segunda volta do campeonato?
J. C.- Estou à espera precisamente do mesmo da primeira volta, muita luta, as mesmas dificuldades, um campeonato a decidir-se muito perto do seu fim. É sabido que no futebol as coisas viram de uma semana para a outra, isto é, ganha-se um jogo e somos considerados quase heróis, e quando perdemos um parece que a nossa competência é levada pelo vento... Vamos continuar com um grupo que é dos melhores em termos de solidariedade e de união que eu tenho treinado, apesar de ter tido a felicidade de construir
grupos bastante fortes. Vamos tentar fazer o melhor que é honrar a tradição do clube e da cidade.

U@O - Para si quais são os candidatos à subida?
J. C.- Os candidatos são aqueles que estão nos seis primeiros lugares da tabela classificativa, sem bem que no futebol as coisas mudam com muita facilidade. No entanto, julgo que as equipas mais apetrechadas são o Ac.Viseu, o Feirense, o Sp. Pombal que é uma excelente equipa e foi a que mais apostou na subida, e o Odivelas que é uma equipas que ninguém conhecia, mas que vem de uma zona do país em que o nível de recrutamento de jogadores é enorme. Já no ano passado o Odivelas fez uma excelente temporada onde foi Campeão Nacional da III Divisão e está a confirmar a valia do seu grupo de trabalho nesta temporada.

U@O - Relativamente às arbitragens, quer fazer algum comentário?
J. C.- Quero apenas dizer que fomos um pouco penalizados no i do campeonato. No entanto, o facto de nós hoje estarmos numa melhor posição na tabela permitiu-nos beneficiar de arbitragens de bom nível. Nestas divisões, quando se anda nos primeiros lugares há o cuidado de escolher os melhores árbitros por parte de quem nomeia, ao contrário das equipas do meio da tabela em que qualquer árbitro serve.

 



"Taradinho por desporto"


João José Ferreira Cabral Cavaleiro é treinador da equipa de futebol do Sporting da Covilhã e é natural de Mangualde. Tem 44 anos, é casado e tem uma filha com 14. É um homem que concilia duas actividades, a de treinador e a de professor de ensino básico, profissão que exerce em Vouzela. Terminou o curso de Magistério Primário em 1982 e já leva quase 20 anos de serviço. João Cavaleiro exerce esta profissão simultaneamente com a de treinador e já o "fazia enquanto jogador", diz. Considera-se um "taradinho por desporto" e desde cedo praticou várias modalidades, quer em campeonatos escolares, quer a nível federado onde jogou voleibol, basquetebol e futebol. Aos 14 anos começou a sua vida no futebol como jogador e passou por clubes como o Ac. Viseu, União de Leiria, União de Coimbra, Beira-Mar e atingiu o seu auge no Sporting da Covilhã e na Académica de Coimbra ao participar na I Divisão. O ponto final da sua carreira aconteceu em Paranhos, pela equipa do Salgueiros.
O antigo ponta de lança do Sp. Covilhã mostra-se realista quanto às suas ambições ao referir que o seu tempo já passou, embora já tenha recebido convites para mais altos voos durante a sua passagem vitoriosa pelo Ac. Viseu na II Liga.
Quanto ao seu clube de eleição, João Cavaleiro afirma ser o Sporting contudo, neste momento, assume-se como um sportinguista da Covilhã.