No Entrudo primeiro dizem-se as verdades, às vezes zangam-se as comadres

Lazarim, Beira Alta

Caretos é a designação dos mascarados de Lazarim. Mas ali, conta mais a máscara, esculpida em amieiro, do que o fato. E, dado inesperado, nenhuma das práticas do Entrudo está vedada às mulheres... embora tenham o seu risco.
Aqui, há um testamento. O das comadres e dos compadres. Na terça-feira, um rapaz e uma rapariga fazem a leitura dos testamentos dos compadres e das comadres, versos compostos em segredo e de crítica aos jovens do sexo oposto. Mandam as regras que só os solteiros possam criticar e só eles sejam alvo de chacota. Do testamento consta a imaginária distribuição de um burro ou burra, que a imaginação divide, cabendo a cada um o órgão ou parte que mais se adequa ao "defeito" que lhe é enunciado. Todas, mesmo todas, as partes do animais são atribuídas, no meio de quadras que nem sempre dissimulam os palavrões. a festa de Lazarim termina com a queima da comadre e do compadre, logo após a leitura dos testamentos.

Podence, Trás-os-Montes

Aqui também há caretos, com máscaras de lata e vistosos fatos de coloridas franjas de lã. Tomam conta da aldeia e nunca se dão a conhecer. "O careto é poder", dizem e praticam, com alguma violência. Os costumes, agora que os caretos já são chamados a entrar nos desfiles de abertura do Carnaval da Eurodisney, ou a exibirem-se em Nice e na Expo, tiraram-lhes agressividade. Mas ai da rapariga que apanhem pelas ruas da aldeia: Onde há um rabo de saias há um careto pronto a chocalhar, designação que dão aos movimentos que obrigam os chocalhos, pendurados dos cintos, a bater nas moças menos prevenidas. Aqui há o costume de transformar vasilhas sem préstimo em arma de Carnaval. Chamam-lhes "cacadas". Podence é a única localidade de Trás-os-Montes que tem caretos no Entrudo. A tradição das máscaras existe noutras localidades, mas aparece associada à Festa dos Rapazes, que ocorre em Dezembro. Porém, nesta aldeia é no Carnaval que os caretos saem à rua. Ao careto nada é interdito. É macho e representa o demónio. Actua em grupo, embora não conheça ordem nem chefias. Aos gritos, cara escondida por uma máscara de metal e corpo coberto por um fato de coloridas franjas de lã, pulando e correndo, os caretos espalham o pânico. As vítimas são as mulheres, principalmente as solteiras e os homens com adegas na vila. Uma vez apanhados, o grupo pega-lhes ao colo e obriga-os a abrir os pipos.


Cabanas de Viriato, Beira Baixa

Aqui, a "dança dos cus" mantém viva uma tradição nascida em 1865, quando o sucesso de uma representação do grupo de teatro trouxe para a rua actores e actrizes. Ao som de uma valsa, inventaram uma marcha que percorre a vila em contradança, com os pares divididos por duas filas que esperam o repique da música para virem ao centro e provocarem o choque dos traseiros.
A Sociedade Filarmónica parece ter sido fundada a pedido: surgiu em 1872, e o regente-fundador apressou-se a compor uma dança especial, a "Valsa de Carnaval", que ainda hoje é repetidamente tocada durante as várias horas que demora o desfile. "zambombadas", uma sonora designação para não menos barulhentas sessões de bombos, fortemente percutidos durante a noite, e que começam a percorrer a vila e a anunciar o Carnaval com 15 dias de antecedência. De domingo a terça feira, nas horas deixadas livres pela dança dos cus, ouvem-se as "entrudadas", sessões de declamação de quadras populares, ditas ao ritmo dos bombos, denunciando segredos da vila. "Ouve-se então o que toda a gente já sabe, mas que algumas pessoas queriam manter em segredo"



Chamusca, Ribatejo

Um grupo de mais de uma dezena de elementos, munido de vários potes , ou quartões , transportados num burro velho, partem pela vila, parando nas tascas, adegas de amigos e cafés . Em roda, lançam o quartão de uns para os outros, e quem o deixar cair paga uma rodada.
O "enterro do galo" dá-se depois de, à meia-noite, um padre, um sacristão, uma viúva e várias carpideiras procedem ao funeral de um galo. É chegada a hora da má-língua, de passar em revista os acontecimentos do ano, compilados pelos membros do grupo, mas também sugeridos pela população. Uns dão-nos dicas de acontecimentos que coleccionam durante o ano, outros deixam envelopes anónimos com quadras. Depois o padre, o sacristão ou o galo que as digam. Para que alguns dos presentes possam corar.


Amareleja, Alentejo

Sob a direcção do mestre que conduziu os ensaios, e ao ritmo da concertina, o grupo, em regra composto por mais de uma dezena de elementos, percorre o povoado, detendo-se junto às tabernas ou à porta de algum morador que esteja pronto a recebê-lo e a oferecer o petisco. A acompanhar os versos, de má-língua, escritos com grande antecedência e afinados em sucessivos ensaios, que ocupam as três a quatro semanas anteriores ao Carnaval, anda um acordeão.
Com os elementos da estudantina dispostos em roda, as quadras são cantadas em coro. É a voz do povo. Dois ou três elementos, mascarados, ocupam o centro e vão reproduzindo as situações que as quadras relatam. À volta, o coro, vestido a rigor, calça, colete e chapéu preto, faixa à cintura e lenço ao pescoço, responde com quadras que são o julgamento da moral popular.
A indiciar que vem de longe o Entrudo da Amareleja está o nome dado aos "entrouxados", que desde o início de Fevereiro começam a aparecer pela vila. São os "entremezes", designação herdada de uma modalidade de representação pré-vicentina, profana e de crítica de costumes.