Por Ana Maria Fonseca


O local onde foram descobertas as antigas estruturas albergará, no futuro, um núcleo do Museu de Lanifícios

A descoberta foi feita no dia 26 de Novembro de 2001, por trabalhadores da obra do que será um futuro Núcleo de Industrialização do Museu de Lanifícios. Uma coincidência curiosa quando, neste espaço, foram encontrados precisamente marcos históricos do processo de industrialização na Covilhã.
São três estruturas de diferentes tipos e épocas. Foi nos anos 50, quando construíram pisos de betão armado neste local, que as estruturas antigas ficaram soterradas. As estruturas encontradas representam três fases distintas da industrialização na Covilhã.
Uma só parede virada para a ribeira é o elemento mais antigo, e o único que resta do que poderá ter sido uma construção dos finais do século XVIII. Posteriormente foi edificada uma construção em granito e depois uma estrutura em tijolo, já fabricado por processo mecânico e não manual. Os tijolos são de dois tipos, vermelhos e amarelos, e, sendo estes últimos muito resistentes ao calor, tudo indica que ali poderiam funcionar fornalhas ou caldeiras e aponta também para o uso de vapor nos processos de fabrico de tecidos de lã.
"Trata-se, com toda a certeza, de instalações fabris ligadas à indústria têxtil", garante Michael Matias, arqueólogo responsável pela intervenção arqueológica no local e docente do Departamento de Engenharia Civil.
"Em 1772 foi construída a Real Fábrica dos Panos, e, nessa altura, causou um grande impacto, tanto na cidade como em relação à evolução fabril. Pensa-se que a parede mais antiga remonte a essa altura", explica o arqueólogo.
"A datação é difícil e ainda não descobrimos a finalidade da construção em granito".


Esta estrutura construída em blocos de granito, data de finais do século XIX



Antigos processos de tratamento dos tecidos

Os blocos de granito foram furados, revestidos por uma camada fina de cimento e, nos buracos, há sinais de ferrugem, o que indica que ali estavam tubos de ferro. "Na minha opinião, esta construção tem a ver com água e com o seu uso no tratamento dos tecidos. Por aqueles tubos de ferro devia passar a água quente". Esta estrutura de granito já tapa algumas janelas da parede mais antiga.
"O valor arqueológico deste achado está no testemunho e na memória do passado", diz Michael Matias. Embora as instalações sejam mais recentes do que as presentes na Real Fábrica dos Panos (Pólo I), estas descobertas são, na opinião de Michael Matias, igualmente impressionantes.
As descobertas vêm engrandecer o valor histórico e patrimonial do edifício e serão integradas na estrutura do mesmo, que neste momento sofre alterações a nível do projecto inicial. Daqui a cerca de um ano, altura que se prevê para a conclusão das obras, ficarão também alojados o Centro de Documentação e o Arquivo Histórico do Museu.
As estruturas agora descobertas, serão integradas no projecto do museu, não só no que diz respeito à estrutura arquitectónica, mas também na própria estrutura museológica, assegura Elisa Pinheiro, directora do Museu de Lanifícios.
Os achados trouxeram atrasos nas obras e algumas alterações no projecto, mas "vale a pena, uma vez que estes novos elementos enriquecerão o trabalho do museu".

Várias fases de industrialização

A estrutura mais recente, feita em tijolo

"A escolha do edifício para albergar este equipamento foi propositada", diz Elisa Pinheiro, uma vez que conheciam o seu grande valor. A antiga Real Fábrica Veiga, local cheio de referências históricas, mesmo assim, conseguiu surpreender.
"Depois de descobertas as estruturas, iniciou-se uma intervenção arqueológica de emergência, encomendada pela UBI e autorizada pelo Instituto Português de Arqueologia, de forma a salvaguardar as estruturas".
"Está a descoberto a delimitação arquitectónica do que foi uma estrutura fabril, uma da fase da proto industrialização e outra da fase de industrialização", esclarece Elisa Pinheiro.
Agora está a ser elaborado um relatório onde se datará as estruturas encontradas e que contou com a colaboração do Centro de Documentação do Museu de Lanifícios que consultou documentos e encontrou os antigos projectos de adaptação dos anos 50, nos arquivos da Câmara Municipal da Covilhã. "A parte documental deste relatório é assegurada pelo Museu de Lanifícios", refere Michael Matias.
Em finais de Março deverá estar pronto um relatório sobre esta matéria.