Victor Hugo e "Os Miseráveis"

Por Mariana Morais


Victor Hugo, o escritor francês que marcou o Século XIX e se projectou no Século XX, teria completado 200 anos de vida no dia 26 de Fevereiro se os homens não estivessem condenados a uma existência tão curta. No entanto, se for justo fazer o balanço dos 83 anos da sua vida, poder-se-á dizer que Victor Hugo viveu da maneira mais inteligente e lúcida a que um ser humano pode aspirar. Não ficou preso a ideias cristalizadas, observou a sociedade do Século XIX e participou nela de forma activa, não só como o grande escritor que foi, mas também insurgindo-se e fazendo-se ouvir, sempre em defesa dos direitos dos pobres e humilhados.
Hoje, no início do Século XXI, e a propósito de um dos seus romances mais célebres, "Os Miseráveis", livro que marcou gerações de pessoas em todo o mundo e também de portugueses, é justo recordar a sua poderosa voz ao dizer:
" (...)Declaro que haverá sempre infelizes mas é possível deixar de haver miseráveis". Neste livro, Victor Hugo, criou uma galeria de personagens ainda hoje actuais, apesar de assumirem formas diferentes. O seu Jean Valjean, preso e condenado a trabalhos forçados por roubar um pão, não está tão distante de nós como desejaríamos. É só abrir os olhos e ver.
O grande romancista e poeta francês influenciou os intelectuais portugueses do seu tempo, especialmente a geração de 70 que desencadeou a Questão Coimbrã, a polémica Bom Senso e Bom Gosto e promoveu as Conferências Democráticas do Casino.
Talvez interesse também referir que Victor Hugo esteve ligado aos jornalistas portugueses através do Diário de Notícias. Há um trecho da sua célebre Carta ao Director, publicada a 10 de Julho de 1867e em que saúda Portugal por ser o primeiro país da Europa a abolir a pena de morte que não pode deixar de ser recordado:" (...) Abolir a morte legal deixando à morte divina todo o seu direito, todo o seu mistério, é um progresso augusto entre todos. Felicito o vosso parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e filósofos! Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfruta de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à Guerra! Ódio ao ódio. Viva a vida! A liberdade é uma cidade imensa, da qual todos somos cidadãos."
Nestes tempos tão conturbados de maniqueísmos e "eixos do mal", em que parece só contar o olho por olho e dente por dente, talvez seja bom reflectir nas palavras de um escritor que nasceu há 200 anos.