José Geraldes

 


Acordem, senhores candidatos

A campanha para as eleições Legislativas 2002 apresenta um grande ausente: a Europa. Até agora nenhum dos partidos concorrentes se referiu à União Europeia. Como se dela não fizéssemos parte. Nem a moeda que já utilizamos na vida corrente lembra aos partidos que são as leis da União Europeia que nos vão governar.
É estranha e bizarra tal atitude. Os problemas dos estádios a construir para o Europeu 2004, monopolizam as atenções da campanha. Como se daí dependesse o nosso futuro colectivo. E até se esquece que, sem os dinheiros da União Europeia, as grandes infra-estruturas do País estariam ameaçadas. O facto assume ainda maior gravidade quando, actualmente, está reunida a Convenção que irá preparar a futura Constituição da Europa. Não se fala das propostas sobre as instituições europeias. Não se dão a conhecer as opções que deveriam ser tomadas. Não se sabe como é que o governo a sair destas eleições, vai orientar a sua política europeia. Parece que o assunto se tornou tabu.
Será que nesta matéria houve pacto de regime para não se abordarem as questões europeias? Ou estamos em face de uma verdadeira conspiração do silêncio? Depois não é de admirar que os portugueses se desinteressem da Europa. Ora, desde que a moeda única entrou na nossa vida concreta e se tornou um sinal de identidade europeia, não se pode construir Portugal sem uma referência à Europa. Trata-se de uma questão incontornável. Para o bem e para o mal, o nosso destino depende de Bruxelas. Quem governar o País, terá de negociar com a Comissão Europeia. Os fundos estruturais, sem os quais era impossível o progresso que alcançámos, são aprovados em Bruxelas. As leis que nos vão reger no quotidiano, dependerão do Parlamento Europeu.
Os candidatos das Legislativas nada dizem ao eleitorado sobre a forma como vão proceder em relação às instituições europeias. São como uns astronautas longe destas preocupações que não constam da sua agenda política. Como é possível os candidatos passarem a campanha eleitoral sem abordar uma temática que tem a ver com a nossa vida de cada dia ? E com directivas comunitárias a integrarem as leis nacionais em todas as actividades dos cidadãos desde a constituição de uma empresa aos actos comuns da vida particular? Não se compreende tal forma de proceder. Ou melhor até se compreende. Escolhem-se assuntos que dão votos no imediato. Adopta-se uma estratégia populista a explorar emoções passageiras e ignora-se o que vai cair, futuramente, sobre as nossas cabeças.
A preparação da Constituição Europeia não merecia uma palavra de esclarecimento? Os fundos estruturais que acabam em 2006 não deviam ser objecto de comícios e debates? O alargamento a 25 países é para ser evitado na praça pública? As consequências deste alargamento não terá influência no lugar de Portugal na Europa? Que há a esconder do povo português para os partidos políticos silenciarem estes assuntos? O Euro 2004 vai passar. Mas cada vez mais o nosso futuro colectivo dependerá da União Europeia e da forma como nela estaremos integrados. Por isso, daqui lançamos o nosso grito: acordem, senhores candidatos e não anestesiem o povo português!