Por Laura Sequeira


Há tradições em volta do Entrudo que ainda se mantém em certas zonas do País

"O Barrete de Guizos", uma comédia onde os ciúmes levam à loucura, é a última produção do Teatro das Beiras. A comédia coloca em palco a filosofia de uma vida. Personagens fortes, tradução própria e cenários bem conseguidos são os ingredientes desta peça.
"Abordar todos os grandes nomes do teatro" é o objectivo do grupo, afirma Rogério Bruno, director do Teatro das Beiras. Nesta lógica de ideias, não hesitou em encenar uma peça de Luigi Pirandello que nunca tinha sido apresentada em Portugal.
Gil Salgueiro Nave, encenador, confessa que a escolha da peça se deve ao facto de ter a possibilidade de promover o "encontro entre o público de hoje e esse genial criador de novelas e teatro".
Apesar de não ser uma peça actual, esta comédia tem muitos aspectos que se podem encontrar na sociedade de hoje. A mulher que comete atrocidades por ciúmes, o comissário que faz favores aos amigos e um homem que parece ser o único que não está louco. Ciampa, um escriturário a quem Alexandre Barata dá vida, transmite ao público presente a verdade dos factos. Não se deixa levar pela falta de seriedade de uma mulher que acaba doida. Seriedade, civilidade e loucura são as três premissas que Ciampa tem para se guiar.
"O Barrete de Guizos" serve perfeitamente na cabeça de Ciampa, que não tem dificuldade nenhuma em aceitar a sua loucura disfarçada. Afinal ele é o único capaz de distinguir o real do imaginário.
Consciente de que o público ainda é "preguiçoso" para assistir a teatro, Rogério Bruno mostra-se contente com a adesão ao espectáculo. "Quando as pessoas vêm ao teatro ficam realmente deslumbradas e adoram", comenta.



Luigi Pirandello

"Cada um, na realidade, cria a sua própria vida: mas infelizmente essa criação nunca é livre" (Luigi Pirandello, 1918).

Nascido em 1867, na Sicília, Luigi Pirandello cedo começou a escrever. Filho de um industrial mineiro, Pirandello estudou em Palermo e Bona, onde concluiu o doutoramento. O seu primeiro escrito para teatro data de 1892, mas só em 1921 vai alcançar a notoriedade, conseguida à custa do escândalo de "Sei persinnagi in cerca d'autore".
Um dos objectos centrais do trabalho do dramaturgo foi a peça "Os Gigantes da Montanha", já encenada em Portugal pelo Teatro Nacional de São João.
A questão da identidade, o jogo irresolúvel entre o real e o aparente, o verdadeiro e o imaginário são alguns dos temas que Luigi Pirandello aborda. A devoção que mostra pela sua mulher, leva-o a passar mais de quinze anos em contacto directo com a loucura. O dramaturgo vive ao lado da esposa e inicia uma reflexão profunda sobre a condição humana. "Barrete de Guizos" é o exemplo dessa reflexão. Uma mistura entre loucura e seriedade, onde a civilidade levada demasiado a sério pode conduzir as pessoas a erros irremediáveis.
Pirandello ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1934 e morreu em Roma a 10 de Dezembro de 1936.