Anabela Gradim

Sucesso e avaliação


A UBI promove todos os anos as jornadas de auto-avaliação, um espaço e um tempo de reflexão para os agentes do processo educativo considerarem as actividades que vêm desenvolvendo. É isso que sucede nas jornadas. Mas não só.
É inevitável, até pelo omnipresente clima moral que se vive hoje, que quando se fala em avaliação e auto-avaliação se equacione a questão do sucesso escolar. Aqui, a UBI deve provavelmente ter uma das associações de estudantes mais aguerridas do País. Não está mal. Espera-se dos jovens que sejam audazes e combativos. Sucede que o sucesso escolar, especialmente no ensino superior, é responsabilidade de todos os agentes envolvidos no processo, e dessa responsabilidade uma boa parte cumpre aos alunos. Não basta apontarem-se supostas falhas pedagógicas dos docentes. É preciso, do mesmo passo em que se lhes exigem boas aulas, um compromisso para que cada um dê o seu melhor. Os beneficiados serão, obviamente, os próprios estudantes. Raras vezes na sua vida produtiva estarão numa situação destas, em que todo o esforço que despenderem na sua educação reverte a favor deles próprios. E de mais ninguém.
Depois, no meio destas novas exigências, é fácil perder de vista o essencial. Espero por isso que a confusão quanto ao papel do professor, que grassa noutros graus de ensino, não chegue às universidades nem aos politécnicos. Aos docentes do ensino superior cumpre ensinar com rigor e avaliar com justiça. Doa a quem doer. Proceder de outra forma é comprometer irremediavelmente o futuro dos alunos que têm o dever de instruir. Condescender com uma má preparação é formar maus licenciados e maus profissionais que - a este respeito não haja ilusões - o mercado se encarregará darwinianamente de seleccionar.
Auto-avaliação deveria pois ser pretexto para os professores meditarem nos procedimentos que adoptam ao longo do ano. Mas, também, ocasião para os estudantes, especialmente os que se dizem vítimas de insucesso, reflectirem sobre o tipo de alunos que são. Assíduos? Atentos nas aulas (não basta arrastar até lá o corpo, e deixar a alma algures)? Estudiosos? Acompanham equilibradamente as matérias ao longo do semestre? Procedem a um estudo avisado, e não concentrado nos dois ou três dias que antecedem a prova? Procuram o apoio do professor quando é caso disso? Quantos, face a uma reprovação, poderiam dizer, honestamente, que fizeram tudo quanto era possível para concluir a disciplina?
De um olhar honesto sobre estes temas sairiam certamente respostas para a causa do insucesso escolar. Uma questão que só pode ser resolvida satisfatoriamente se essa solução não passar por ir baixando as expectativas e o nível de exigência que um estabelecimento de ensino superior deve ter.