Por Marco António Antunes


Alguns elementos que compunham a corte de D. Manuel I

Covilhã, manhã de sol. Ultimam-se os preparativos para o cortejo da feira quinhentista. O percurso é da Praça do Município até ao Jardim Público. Participam mais de mil alunos e professores do ensino pré-básico ao secundário do concelho da Covilhã. Ao som dos tambores, a aventura começa pouco depois das dez horas da manhã.
Estamos no reinado de Manuel I. El Rei veio à Covilhã assistir à feira anual. Montado num imponente cavalo, o monarca dirige o cortejo acompanhado de Sua Majestade, a Rainha. A seu lado seguem as aias e o pálio com o reverendíssimo Bispo da Guarda.
"Nesta época temos muitas guerras. Vou defender sempre o Rei e a Rainha", enfatiza o soldado peão Filipe Samuel, 12 anos. Samuel traz uma farda, um escudo, lança e capacete. Pertence às tropas da comarca da Covilhã.

Sem bênção não há feira

"Sem bênção não há graças de Deus para esta feira. Só depois da benção é que a feira pode começar. Vou recitar em latim. Espero que me entendam", sublinha Horácio Silva, Bispo da Guarda. O prelado defende que "o bispo tem um grande função, porque é o representante do Papa".
No cortejo seguem, entre outros, alquimistas, tecelões, cartomantes, bobos, taberneiros, cartógrafos, boticários, barbeiros, vendedores de animais e soldados. Todos se dirigem para a feira de Santa Maria que se realiza desde o dia 15 de Agosto de 1260.
Jardim Público. O mordomo de El Rei lê a carta de feira: "Quem agredir os homens que vêm a esta feira pague-me seis mil soldos e o dobro do que tomar ao respectivo dono e todos os que vierem a esta feira paguem a minha portagem e todos os direitos que devem pagar". O Bispo da Guarda pronuncia a bênção. Começa a venda de produtos.


O Rei, a cavalo e sem coroa



"Gostaria de ajudar os pobres"

O ambiente é de festa. A azáfama é grande. Vende-se de tudo um pouco. Produtos alimentares, tecidos, cartas de mar, caravelas etc. Ouvem-se pregões. "Comprai panos!", dizem os tecelões.
Ângela Castilho, 35 anos, é uma senhora nobre. "No século XVI, a mulher estava muito submissa ao marido. Hoje os tempos são outros. Vamos vender o máximo possível para ajudar Timor", assegura.
"Os nossos donos são muito maus. Fazem-nos trabalhar muito", lamentam os escravos que vieram de África. Esperam o dia da libertação. É uma mancha na acção de D. Manuel. A escravatura só seria abolida no século XIX.
Joel Silva, 10 anos, é frade franciscano. "Gostaria de ajudar os pobres", sublinha. Joel promete escrever uma carta para Timor.
"Ser bobo no século XVI é muito bom. Somos muito divertidos e ajudamos a divertir", explica José Rosa, 10 anos. O bobo acredita na solidariedade para com as crianças de Timor.
Ângela Cavaca, 17 anos, camponesa, deixa uma mensagem para todos os timorenses: "Com esperança tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

 



Feira Quinhentista por Laleia

Uma banca de doces onde crianças trabalham por Laleia

Laleia é uma vila de Timor Leste. A agricultura, a criação de gado e cavalos são as principais actividades económicas.
Após o referendo de 30 de Agosto de 1999, Laleia foi arrasada pelas milícias indonésias: as casas foram queimadas, o gado morto e os bens populares roubados. Neste momento, a Associação Covilhã-Laleia está a ajudar na reconstrução da vila timorense. A receita da feira quinhentista destina-se a apoiar a construção da primeira fase de um pavilhão multiusos.
"A nível da Educação, o objectivo das escolas pré-primárias, básicas e secundárias da Covilhã é ajudar Laleia com material escolar", explica Isabel Fael, responsável da Associação Covilhã-Laleia e professora na Escola Secundária Campos Melo.
Para Carlos Pinto, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, "este evento é um esforço de dedicação das escolas e a memória do passado". A Câmara já deu um subsídio à Associação Covilhã-Laleia no valor de 7481,97 euros (mil e 500 contos). E colabora no apoio logístico.