CANTIGAS DO MAIO
José Afonso


Por Ana Maria Fonseca


Foi com uma canção deste disco, proibida até então pelo regime, "Grândola vila
morena", que foi dado o sinal para o início do golpe de estado de 25 de Abril de 1974.
A música tocou na madrugada de 25 na Rádio Renascença.
Até essa data, as canções proibidas de Zeca Afonso cantavam há anos uma revolução
que tardava em acontecer. Era a canção da resistência, ouvida em segredo e cantada
em surdina durante os anos que precederam a liberdade. Uma forma de luta da qual
nasceu um fruto chamado Abril.
Catigas do Maio nasceu em 1971, com uma encenação musical inovadora. Nele
acompanharam Zeca Afonso Bóris e José Mário. À viola e guitarra tradicionais, José
Mário associou trompete, flauta, acordeão, piano e percussões diversas.
Zeca, é admirado não só pela sua música mas também pela sua personalidade e
forma de estar na vida. "Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia-a-
dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que
devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for
", dizia, antes da liberdade,
este homem solidário, movido por causas e ideais que lhe pareciam justos. Um ser
humano que vivia movido por uma utopia e que nunca parou muito tempo no mesmo
lugar.
O cantor e poeta influenciou para sempre a música e a cultura portuguesas.
Tornou-se, uma referência incontornável na música portuguesa dos últimos quarenta
anos. A sua obra musical, tantos anos após a sua morte, ainda continua a dar frutos e
a influenciar as novas gerações.