Francisco Paiva

PARKURBIS



A Beira Serra carece de infra-estruturas destinadas ao desenvolvimento de investigação que, consequentemente, logrem aumentar o número de postos de trabalho, de serviços e de comunicações. Estas não podem ser simples parques industriais (PI). Têm de competir com outros empreendimentos do País, mas também com os da vizinha Extremadura (a espanhola) no que concerne à capacidade de fixação de quadros superiores, envolvendo e obrigando à qualificação dos técnicos, dos equipamentos físicos e de todo um conjunto de aparentes pormenores, que contribuem para uma "entourage" aliciante: alojamento, equipamentos e serviços colectivos, bancos, correios, restauração, creches, instalações desportivas e de ócio, depuração de resíduos, gás natural, redes de telecomunicações.
Assim, convém advertir para que a tónica do Parkurbis não pode ser especulativa, nem enfermar da falta de regulação dos actuais PI, que depreciam o projecto empresarial concreto e legitimam, amiúde, lógicas de acumulação de lotes para arrendamento, que oneram a comunidade tanto pela indevida utilização do solo como pela inexploração de potencial.

Há algum tempo, escrevi aqui sobre as "eco-lógicas" que levam a plantar élices geradoras de electricidade em cerros ermos. O argumento contra a forma do negócio e contra as características dos engenhos é, sobretudo, um exemplo de revolta ante a importação acrítica de tecnologia. Neste como noutros domínios, formamos quadros (com tempo e esforço dos próprios e recursos do erário) que depois desautorizamos. Ler que Castilla e Léon, investe 2 mil e 500 milhões de euros num projecto de desenvolvimento -não de compra- de energias alternativas a ser desenvolvido no Parque Tecnológico de Valladolid, leva-me a concluir que o nosso deficit, é tão só consequência da falta de bom-senso, passa pela desvalorização do neurónio e acaba nas finanças.

Pensar em desenvolver soft e hardware, laboratórios químicos, físicos, de mecânica, de design e produto industrial, de edição e restauro de arte, ou consultorias jurídicas e financeiras, há muito sediadas na orla mediterrânica da Península, exige alto grau de compromisso dos associados, capacidade investigadora da Universidade da Beira Interior e apoio político, que deve revelar-se na afectação de fundos regionais, nacionais e europeus (FEDER e SPRINT), garantido a sua operacionalidade.
Um "ninho de empresas" pode oferecer condições aos recém-licenciados pela UBI, para estruturarem, antes de auto-financiarem, a sua actividade, contribuindo para a criação de postos de trabalho e de serviços de qualidade, mas também para a fixação de pessoas - reivindicação que talvez seja mais profícuo fito para os estudantes do que a invenção de polémicas académicas gratuitas.
Desenvolver projectos altamente especializados, no conceito e nos âmbitos pré e pós-industrial, só é possível com a colaboração entre entidades à escala internacional. A chave da eficiência operativa da I&D está no factor humano, na integração de promotores e investigadores qualificados (doutorados, licenciados contratados ou bolseiros) que lhe definam um perfil de exigência, excelência e de vanguarda.