A sedutora face negra da "pop"





helium sunset





Warner | 2002

 

Por Alexandre Silva


"Longa se torna a espera" cantavam os Xutos e Pontapés num tema com o mesmo

nome. E a espera foi, efectivamente, longa. Depois da obra prima "Mud Stories", de

1999, o primeiro álbum de originais da pianista belga An Pierlé, "Helium Sunset", o seu

segundo trabalho, surge três "penosos" anos depois.

Lançado em Fevereiro último com a etiqueta da Warner Music Benelux, o disco perdeu

a inocência do primeiro e os "duelos" íntimos travados, à vez, com o piano, o órgão ou

o acordeão. Aliás, os únicos instrumentos utilizados, então, para além da voz, pela

cantora-compositora. Mas alegrem-se os fãs que nem tudo está perdido. A

irreverência da adolescente que nunca gostou da sua educação clássica e que chocou

os professores dos melhores conservatórios belgas continua imaculada por debaixo de

uma maquilhagem pop que realça apenas o essencial.

Mais melódico e instrumentalizado, "Helium Sunset" acaba por ser a evolução natural

de um processo de maturidade da autora que não deixa, todavia, de injectar, em

grande parte das 12 faixas que compõem o álbum, uma dose de agressividade

psicológica muito própria, a fazer lembrar capítulos de "Mud Stories" como "God in a

Cage", "Mad Dog Watch" ou "Nebraska".