Por Ana Maria Fonseca



O debate abordou vários temas relativos ao jornalismo on line, desde a sua ligação com os meios tradicionais, até aos weblogs

Dos inúmeros temas que estiveram em debate durante as Jornadas de Jornalismo On line resultaram poucas conclusões e muitas ideias.
As potencialidades e o futuro de um ainda recente meio de comunicação, proporcionaram um debate saudável em torno de questões como a morte dos media tradicionais, o fim do jornalismo como hoje o concebemos e o papel dos weblogs na circulação da informação da actualidade.
Em comparação com os media tradicionais, o arquivo é considerado uma das mais valias do on line, que permite aceder a conteúdos relacionados com o que estamos a ler num determinado momento. Esta é uma inovação relativamente aos outros media que, tal como a imediatividade e velocidade não conhecem paralelo. No entanto, se o on line tem estas mais valias, também se debateu o possível desaparecimento dos media numa fusão operada pela internet, concluindo-se que cada um ocupa o seu lugar. O on line ocupa, por enquanto, uma função que ainda não tem uma definição específica, uma vez que continua preso às formas de jornalismo tradicionais.
"Neste momento ainda somos todos muito o decalque do que já se faz nos outros meios", diz Paulo Bastos, da TVI on line. O jornalista defende que ainda não existe uma especificidade da internet. "Os jornais que aparecem on line têm cara de jornais de imprensa, as rádios têm cara de rádios, mas online, e o mesmo acontece com as televisões. Não temos internet on line, é basicamente o que falta", defende Pulo Bastos.
Agora que finalmente é possível não ter de tirar um curso para navegar, será possível começar a dar a volta ao texto e inventar formas de comunicação que sejam específicas da internet", acrescenta o jornalista.

"Jornalismo on line ainda está a dar os primeiros passos"


Um estudo feito por dois investigadores americanos revela que nove por cento dos leitores já procura a internet como meio privilegiado de procurar notícias. Em Portugal o jornalismo on line ainda não tem o peso que parece ter para os americanos.
Num País onde a utilização da internet ainda não é para todos, jornais, rádios e televisão on line continuam a ser para minorias.
Apesar de o jornalismo on line permitir o acesso a conteúdos e a informações de forma muito mais imediata do que acontece nos outros meios, António Granado, jornalista do jornal Público, acredita que "o jornalismo on line está ainda a dar os primeiros passos".
Até à chegada da internet, o serviço noticioso mais imediato era dado pelas agências. Agora, os sites noticiosos actualizam constantemente a informação. "O on line permite que a qualquer momento se possam saber as notícias de última hora", refere o jornalista.
A possibilidade de aceder à notícias quando se quer é considerada uma das valias mais importantes do on line.
A par da velocidade, o arquivo é também apontado como uma das grandes qualidades dos meios on line. Os links associados à memória e ao arquivo, permitem ao leitor procurar mais sobre um determinado assunto, em qualquer altura. Uma noção nova de temporalidade que também não existe nos meios tradicionais.
" Quando lemos uma notícia podemos ao mesmo tempo, ao lado da página, ter acesso ao que foi dito nos últimos dias sobre o assunto, a outros assuntos relacionados, a imagens, que é algo que nenhum dos outros meios tem", afirma António Granado. "A rádio não tem uma memória que seja controlada pelo ouvinte, o telespectaor a mesma coisa e o leitor de jornal também. Se ele diz "tenho impressão que já ouvi falar sobre este assunto", não tem hipótese de consultar o arquivo. Muitos jornais on line já têm uma caixa de pesquisa, ou um arquivo, e isso é uma grande potencialidade que a internet vem abrir, a pessoa poder contextualizar a notícia com muito mais facilidade", refere.
Quanto ao papel dos jornalistas, será sempre essencial, como fonte de credibilidade da notícia. "Não é qualquer pessoa que, só por ter acesso e colocar informação na internet se torna um jornalista. Pelo contrário, nos meios de comunicação, a organização tradicional de informação, da redacção, da edição, da notícia que se encontram nos vários meios, seja na televisão, na imprensa ou na rádio, também continuam a valer para os órgãos jornalísticos on line", defende António Fidalgo.

 




Uma das mesas de discussão, durante a intervenção do jornalista da TVI Paulo Bastos



Weblogs, uma nova forma de jornalismo?



Os weblogs foram um dos temas mais acesos de discussão.
Se uns acreditam que este é um novo meio que pode subverter os outros, nomeadamente o jornalismo on line, outros acreditam que crescerá à parte, com as suas próprias características e potencialidades.
Muitos leitores hoje tendem a transformam-se em jornalistas, através da colocação e comentário de notícias em sites como o peer to peer da UBI, o Akademia, onde qualquer pessoa pode publicar uma notícia, mediante a passagem por um moderador.
Estará a profissão de jornalista em risco?, chegou a questionar-se.
Mesmo que todos continuem a publicar, há uma selecção da parte de quem lê, para escolher as fontes mais credíveis.
No entanto, os weblogs são cada vez mais procurados. Para isso, diz Catarina Moura, mestranda na Universidade Nova de Lisboa, muito contribuíram os acontecimentos do 11 de Setembro. Se antes existiam cerca de 200 mil weblogs, depois desta data passara a existir 800 mil, nos sites de acolhimento principais.
As opiniões dividem-se. Se uns acham que os weblogs se podem tornar uma nova forma de jornalismo, outros apontam-nos como vultos da cultura do instantâneo e da informação imediata em que vivemos, onde todos têm algo a dizer sendo, por isso um forma à parte de informação que não possui, antes de mais, fontes credíveis.
A discussão em torno desta questão foi das mais acesas, mas também das mais inconclusivas. Uma nova função que está ainda no início, é preciso esperar para ver a sua evolução.