Por Línia Saraiva e Marco António Antunes


Catarina Caldeira, um rosto, uma história na luta contra a pobreza

Urbi @ Orbi - Como começou o projecto de luta contra a pobreza "Centro Histórico da Covilhã"?
Catarina Caldeira
- O projecto de luta contra a pobreza "Centro Histórico da Covilhã" começou em 1997 promovido pela Câmara Municipal da Covilhã e comparticipado pelo Comissariado Nacional de Luta contra a Pobreza. O projecto terminou no final de 1999. O anterior projecto abrangia a zona das Portas do Sol na freguesia de Santa Maria. O apoio consistiu na recuperação de casas degradadas, melhoria dos cuidados de saúde, distribuição de alimentos, oferta de roupas, viagens de estudo, convívios e festas. Ministrámos também cursos do ensino recorrente e extra-escolar.

U @ O - Quais as dificuldades na luta contra a pobreza?
CC -
Como em todos os projectos houve algumas dificuldades. A Câmara Municipal da Covilhã, presidida por Jorge Pombo, e o Comissariado Nacional de Luta contra a Pobreza criaram o projecto "Centro Histórico da Covilhã". A Câmara era a entidade gestora. Com as eleições autárquicas Carlos Pinto passou a comandar os destinos da Câmara, mas nunca vinha às actividades do projecto.

U @ O - Como se resolveu o problema?
CC -
O projecto continuou graças ao empenho de Lousa Nicolau da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã e de José Joaquim Antunes da Câmara Municipal da Covilhã. Actualmente, há uma certa incerteza devido à mudança de governo, mas temos investimentos que já estão contratualizados. Se houver dificuldades, a Santa Casa apoiará sempre os mais desfavorecidos.


"É necessário todo um apoio psicológico, social, económico e de saúde capaz de melhorar as condições de vida dos mais carenciados"


Reagir contra a pobreza

U @ O - Como surgiu o novo projecto "Reagir"?
CC -
Todas as instituições parceiras consideraram muito importante continuar a luta contra a pobreza. A Santa da Misericórdia da Covilhã criou a valência Centro Comunitário das Portas do Sol. Este centro é agora a entidade responsável pelo projecto de luta contra a pobreza. A equipa técnica do centro elaborou uma nova candidatura com o nome "Reagir", que abrange as freguesias de Santa Maria e S. Martinho. A Santa Casa da Misericórdia da Covilhã é a entidade gestora e promotora.

U @ O - Quais são as novidades do projecto "Reagir"?
CC -
O "Reagir" apresenta algumas novidades em relação ao anterior projecto. Introduzimos um clube de emprego em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O objectivo é informar os desempregados ou as pessoas à procura do primeiro emprego sobre os locais onde é possível a inserção profissional. Criámos também um atelier de tempos livres para as crianças do ensino básico. Reforçámos ainda as actividades a nível social, de saúde e educação.

U @ O - Existe cooperação entre os vários parceiros do projecto "Reagir"?
CC -
Existe cooperação de todas as entidades parceiras. Quase dez instituições reúnem-se todas as primeiras quartas-feiras de cada mês, na Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, para avaliar o projecto de luta contra a pobreza.

U @ O - Qual o apoio prestado a nível social pelo Centro Comunitário?
CC -
O apoio social é muito variado. Vai desde a inserção profissional, apoio domiciliário em géneros, roupas e limpezas, informação sobre subsídios financeiros a que as pessoas têm direito até à recuperação de casas. Nós aqui não damos dinheiro. Encaminhamos as pessoas para determinados serviços sociais como o Centro de Apoio aos Toxicodependentes (CAT), o Centro de Alcoólicos Recuperados (CAR) ou o IEFP.

U @ O - Como é feita a recuperação de casas?
CC -
O projecto de luta contra a pobreza não faz grandes recuperações habitacionais. Fazemos pequenas intervenções. Há muitas habitações que não têm casa de banho, nós instalamos. Há casas em que o telhado está em mau estado, nós arranjamos. Só fazemos recuperações em casas habitadas por pessoas com dificuldades económicas, sociais ou de saúde.

U @ O - Em que consiste o apoio educativo?
CC -
O apoio educativo consiste em cursos de alfabetização para o 1º ciclo do ensino básico e complemento de formação com o 2º ciclo do ensino básico. Este ano temos apenas a funcionar até ao 1º ciclo, porque não tínhamos alunos suficientes. Funciona também o ensino extra-escolar com cursos de bordados, cerâmica, têxteis-lar, informática e culinária.

U @ O - Qual o tipo de pessoas que frequentam o ensino recorrente e extra-escolar?
CC -
São pessoas carenciadas, com fracos recursos económicos, que recebem o rendimento mínimo. Outras pessoas estão reformadas e sozinhas. Não tiveram oportunidade de estudar e agora aproveitam para aprender. Todos têm muita vontade de aprender.

"Tirar as crianças da rua"

"O objectivo é tirar as crianças da rua e apoiar as mais carenciadas"

U @ O - Como surgiu o ateliê de tempos livres para as crianças?
CC -
No início do projecto "Reagir", alguns estudantes de Sociologia da UBI realizaram um inquérito para saber as necessidades das pessoas carenciadas. Com os dados recolhidos, verificámos que os pais não sabiam como ocupar as crianças nas férias. Como tínhamos uma sala desocupada, iniciámos as actividades de tempos livres em Julho e Agosto de 2001. O objectivo é tirar as crianças da rua e apoiar as mais carenciadas.


U @ O - Como funciona o ateliê?
CC -
Com o nosso animador sócio-cultural e as nossas técnicas de apoio social apoiamos as crianças, com jogos, passatempos, actividades desportivas e pedagógicas. Neste momento, os tempos livres estão a funcionar só ao Sábado de manhã no Oriental de S. Martinho e à tarde com actividades de informática no Cybercentro. Em Julho de 2002, vamos mudar de instalações e, nessa altura, o ateliê funcionará diariamente.

U @ O - As crianças pagam alguma quantia monetária?
CC -
Não. Por se tratarem de crianças pertencentes a famílias carenciadas, o ateliê é gratuito.

U @ O - É distribuída alimentação às crianças?
CC -
Sim. Há duas refeições ligeiras a meio da manhã e a meio da tarde. Quando o ateliê for diário, estamos a estudar a possibilidade de oferecer o almoço às crianças.

U @ O - Qual o balanço que faz dos projectos "Centro Histórico da Covilhã" e "Reagir"?
C C -
Recuperámos 35 casas no anterior projecto e agora vamos recuperar 15 casas no Bairro da Alegria, freguesia de S. Martinho. Actualmente, o "Reagir" já recuperou cinco casas na área de Santa Maria e S. Martinho. Ao nível do clube de emprego, das 19 pessoas inscritas inserimos 11 a tempo inteiro. Todos os dias apoiamos mais gente carenciada.

U @ O - Qual é a receptividade das pessoas aos vossos projectos?
CC -
É óptima. Ajudamos os mais carenciados. É necessário todo um apoio psicológico, social, económico e de saúde capaz de melhorar as condições de vida dos mais carenciados. Se um doente alcoólico vai para uma habitação degradada isso desmotiva-o e surge o perigo de uma recaída. Vêm pessoas do Dominguiso, do Refúgio, do Ferro e de outras freguesias do concelho da Covilhã, que aqui encontram uma porta aberta e um apoio mais informal e humano para os seus problemas.

U @ O - Quais são os projectos para o futuro?
CC -
Esperamos mudar para outros dois edifícios na Rua Rui Faleiro, que pertencem à Santa Casa da Misericórdia da Covilhã. Continuaremos a recuperar casas para as famílias carenciadas. Vamos alojar mais dez famílias. O ateliê de tempos livres será diário para apoiar as crianças. Gostaríamos também de ter um centro de convívio para idosos, mas para já não temos instalações disponíveis.





Perfil
 

Catarina Raquel Torrão Carloto Caldeira, 27 anos, é licenciada em Sociologia pela Universidade da Beira Interior. Solteira, natural e residente na Covilhã sublinha que "qualquer sociólogo deve estar atento às necessidades sociais e aos problemas do mundo contemporâneo". Nos tempos livres, gosta de ir ao cinema, ler, sair com os amigos e praticar esqui. A ginástica aeróbica é outra das actividades que patica.