Laura Sequeira
NC/Urbi et Orbi


No concelho da Covilhã já foram trocadas, entre 1993 e 2002, cerca de 10 mil seringas

Castelo Branco e Guarda não fogem à regra do resto do País. Os casos que apresentam o Síndroma da Imunodefeciência Adquirida, mais conhecida por SIDA, atingem especialmente os homens com idades compreendidas entre os 20 e os 39 anos. Os toxicodependentes com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) são os que atingem maior percentagem a nível nacional. Nos dois distritos da Beira Interior os casos de heterossexuais têm vindo a aumentar gradualmente, chegando mesmo a ultrapassar o número de casos de infecções em toxicodependentes. Para contrariar a tendência até agora apresentada, os homossexuais e bissexuais são o grupo de risco que menos percentagem de casos apresenta.
Actualmente no distrito de Castelo Branco já houve 56 notificações de SIDA entre 1983 e 2002. Quanto ao número de mortes, em igual período, anda na ordem dos 37 Na Guarda, as notificações são 39 e o número de mortes atinge os 19. Estes dados constam do Relatório "A situação em Portugal a 30 de Junho de 2002" do Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis no Instituto Nacional de Saúde de Lisboa.
Em Portugal encontram-se notificados 20526 casos de infecção com o VIH , o que não quer dizer que sejam casos de SIDA. Destes casos, 51 por cento são toxicodependentes, 30 por cento são heterossexuais e 12 por cento são homossexuais masculinos. Desde 1999 que se observa notificações de casos de SIDA com maior frequência em grupos etários superiores, dos 45 aos 54 anos.
Até agora já morreram 20 milhões de pessoas no mundo, há 10 milhões doentes e 40 milhões estão infectadas com o VIH, o vírus que causa a SIDA.
A tuberculose e outras doenças infecciosas oportunistas são as doenças que mais atingem os doentes com SIDA. É através da manifestação destas doenças que muitos descobrem que o VIH já lhes entrou no sistema imunitário. Os testes de detecção continuam a ser muito pouco procurados.
O Vírus da Imunodeficiência Humana conseguiu quebrar barreiras culturais e internacionais. É uma infecção transnacional e transcultural. A SIDA atinge todos e não está só na "porta ao lado", desde a baixa à alta sociedade, dos mais novos aos mais velhos, a doença do século lavra todos os que se inserirem num grupo de risco.

83 mil seringas trocadas no distrito

Os toxicodependentes utilizadores de drogas injectáveis são o grupo que mais risco corre. Nas cadeias, geralmente não há possibilidade para a troca de seringas, mas os próprios prisioneiros dizem que a droga por lá circula. É nestes locais que a prevenção poderia actuar de forma mais eficaz. O programa "Diz não às seringas em segunda mão" foi também implantado nalguns estabelecimentos prisionais e registou-se uma diminuição de 638 nos casos de infecções.
Este programa foi implantado em todo o País em 1993. No distrito da Guarda já foram trocadas cerca de oito mil seringas. O concelho com mais seringas trocadas foi Almeida, com uma percentagem de 73 por cento. 1997 foi o ano em que, nesse distrito, se trocaram mais.
No distrito de Castelo Branco os números atingem as 83 mil seringas trocadas, sendo o concelho de Castelo Branco aquele com maior número de trocas. A Covilhã segue-se com cerca 10 mil seringas. Neste distrito, o ano de 2000 foi o que registou mais trocas.
Vila de Rei e Vila Velha de Rodão nunca trocaram nenhuma seringa.Desde o início do programa até fins de Maio, nunca ninguém precisou de trocar uma seringa nestas localidades.
Em Portugal, os anos que registaram mais trocas foram 2000 e 2001 e a capital, Lisboa, foi, sem dúvida, a localidade com mais trocas, atingindo mesmo 50 por cento das trocas no País.





"O lema é prevenir para não ter que remediar"


 

O Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce do Vírus de VIH (CAD) de Castelo Branco tem como principal objectivo "detectar o maior número possível de portadores do Vírus de Imunodeficiência Humana, principalmente os heterossexuais, que têm medo de dar a cara", explica Rogério Paulo, médio responsável pelo CAD.
O número de heterossexuais com SIDA tem vindo a aumentar e chega mesmo a ultrapassar o número de toxicodependentes, grupo de risco que se pensava ser o mais atingido. "Muitos dizem que sabem as asneiras que fizeram e preferem fazer o mesmo que a avestruz faz: meter a cabeça na areia. Não querem reconhecer que têm medo de poderem estar infectados", refere Rogério Paulo em relação ao grupo de risco dos heterossexuais.
O CAD funciona com um médico, uma psicóloga e uma enfermeira que podem dar todo o apoio a quem quiser fazer os testes de detecção do VIH. "O teste é gratuito e completamente anónimo", garante o médico responsável. E continua: "Ninguém vem a este CAD fazer um teste sem ser previamente observado pela psicóloga. O aconselhamento pré-teste é fundamental para se saber se a pessoa está ou não preparada para fazer o teste".
A troca de seringas e a realização de testes de detecção de vírus nas prisões e a despenalização da cannabis são soluções apontadas pelo médico responsável no CAD que acha que a prevenção é essencial. "Eu sou a favor de tudo o que sirva para reduzir o número de infectados de SIDA em Portugal", conclui Rogério Paulo.