José Carlos Venâncio

Morreu uma pessoa de saber

No passado dia 26 de Agosto fomos surpreendidos pela morte repentina do Padre Francisco Videira Pires. Foi Professor Catedrático da Universidade da Beira Interior, que lhe deve um impulso decisivo na implantação da área de Ciências Sociais e Humanas. Coube-lhe dinamizar a licenciatura de Sociologia e criar a licenciatura de Comunicação Social, hoje diversificada por várias sub-áreas.
Foi sobretudo como sociólogo e como sacerdote que o Padre Videira Pires se distinguiu. Vários foram os livros que escreveu sobre temáticas sociológicas e outros tantos que ficaram por terminar. Entre estes, a sua famosa sebenta sobre a Sociologia Brasileira, que aguarda o acerto final. O seu livro Marx e o Estado (1983, Porto, Lello) é um dos estudos mais acabados sobre teoria marxista. Nos anos 90 este trabalho proporcionou-lhe um convite da Universidade de Heidelberg, para proferir conferências sobre temática referida.
No passado dia 30 de Junho reuniu na sua terra natal um punhado 'alargado' de amigos para festejar os 50 anos do seu sacerdócio. Foi uma festa bonita. Houve ocasião para o Bispo de Bragança benzer instalações contíguas à sua residência, na Torre de D. Chama, compradas e renovadas à sua custa e, por sua vontade, destinadas à Diocese de Bragança. Seguiu-se um almoço de convívio e um concerto de música clássica. Mal sabíamos nós, os que estiveram presentes, que aquele momento era de despedida.
Uma morte, nos termos em que aconteceu a do Padre Videira Pires, deixa-nos sempre constrangidos. Mas quem o conheceu de perto não se surpreende. O Padre Videira Pires tinha de morrer de pé. Conduziu o automóvel até junto da igreja onde ia rezar missa, subiu parte da ladeira que conduzia à igreja e a meio do caminho, sentindo-se mal, sentou-se numas escadas. Quando as pessoas dele se acercaram, olhou para o lado, e morreu.
Fica-nos a saudade de quem nunca nos regateou uma ajuda, sempre pronto a disponibilizar-nos a sua paciência e o seu enorme saber. Com o seu desaparecimento, nós- amigos, colegas e ex-alunos- ficamos todos mais pobres. Resta-nos dignificar-lhe a obra.