Jorge Sampaio alerta para a necessidade de se aproveitarem os fundos comunitários
Presidência aberta contra as assimetrias regionais
Jorge Sampaio questiona Governo quanto à conclusão do IP2

O Presidente da República recolheu críticas, partilhou reivindicações, entre elas a concretização do IP2, colocou de lado lamúrias e abordou temas como a saúde, economia e educação. Jorge Sampaio teve oportunidade de, na primeira pessoa, conhecer a realidade do "distrito mais pobre de Portugal".


Hélder Sequeira
NC/Urbi et Orbi


"Quanto tempo mais o eixo fundamental do IP2 vai demorar a concretizar-se?", questionou o Presidente da República (PR), em Mêda, associando-se, deste modo às reivindicações dos autarcas do distrito da Guarda, região do Interior e com difíceis acessos aos principais mercados. Jorge Sampaio falava no Posto de Turismo de Mêda, que inaugurou, segunda feira, 28, após uma visita feita à Aldeia Histórica de Marialva, que não conhecia e cuja beleza o impressionou. Neste encontro, o presidente da Câmara de Mêda, reclamou a abertura da Estrada Nacional 324 entre Marialva e Pinhel - reivindicada há mais de 20 anos e que facilitaria, na opinião de João Mourato, as ligações entre os concelhos, mas também à fronteira de Vilar Formoso e aos IP5 e IP2. De seguida foi a vez de Vila Nova de Foz Côa receber o PR, onde o edil Sotero Marques reivindicou a construção do IP2 a norte da Guarda, entre Celorico da Beira e aquela vila.
Sampaio, que com esta visita perfaz o terceiro dia de presidência aberta ao distrito guardense, dedicou o dia ao Turismo, Ambiente e Património, encontrou-se durante a tarde com o director do Parque Natural do Douro Internacional, Domingos Amaro. Figueira de Castelo Rodrigo foi o concelho que se seguiu, onde Jorge Sampaio assistiu à apresentação do programa das Aldeias Históricas e lanchou com a população.
Além das acessibilidades viárias, também as ferroviárias tiveram "momento de antena", como os autarcas de Vila Nova de Foz Côa e Figueira de Castelo Rodrigo a pedirem a intervenção do Presidente da República para reabilitar a linha férrea do Douro (Pocinho e Barca d'Alva), desactivada em 1988. "A intervenção do Presidente da República é importante para que se faça justiça aos povos do Alto Douro com a reactivação da linha, que é fundamental para o desenvolvimento económico da região, nomeadamente o turismo", afirma Armindo Pinto Lopes, presidente do município de Figueira de Castelo Rodrigo. A estada do PR foi também aproveitada para que o autarca daquele concelho solicitasse a intervenção de Jorge Sampaio para que seja dada uma solução ao edifício da antiga estação de Barca d'Alva, que a autarquia pretende aproveitar para fins turísticos e culturais.

"Aproveitar os fundos estruturais" é urgente

Manteigas também recebeu a visita do Presidente da Reública, no domingo, 27, onde este alertou os governantes e autarcas para a urgência da concretização de projectos promotores de desenvolvimento de forma a aproveitar os fundos comunitários até 2006. "Temos que aproveitar os fundos estruturais. Não vamos ter outra oportunidade como esta depois de 2006", afirma Jorge Sampaio. E prossegue: "Não tenham ilusões. Três anos é o tempo que temos para mudar o pode ser mudado, inovando e especializando".
Por seu turno, o autarca de Manteigas, além de revelar que o seu concelho "está desprezado" pelo Poder Central, criticou o actual Governo PSD/PP de não cumprir as promessas feitas durante a campanha eleitoral, exigindo a construção de uma via que ligue o município à Auto-Estrada da Beira Interior. O cicerone, que fez um esforço para não ser demasiado crítico com o Executivo, acabou por contar um episódio bem revelador da sua frustação. Lembra Biscaia que, há uns anos, estava configurada no PIDDAC - com verbas consagradas e tudo - a construção de uns túneis para a zona do Interior beirão. Os governantes foram passando, mas a execução das obras nunca chegou a acontecer. "Fala-se em discriminação positiva mas, de positivo, só cá estamos nós", ironiza o autarca.
Numa paragem durante o trajecto para Manteigas, Sampaio ouviu do presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, Jorge Patrão, as razões para a apresentação, em 2005, da candidatura do Vale Glaciário do Zêzere a Património Mundial. O Presidente da República manifestou apreço pelo esforço, considerando que a Serra da Estrela "é algo que dá vontade de os portugueses serem maiores".

Visita terminou domingo, 3 de Novembro

Na sexta feira, 1 de Novembro, Sampaio visitou o Hospital Sousa Martins, nomeadamente os serviços de Pediatria, Pneumologia e Urgência. Pelas 13 horas, Jorge Sampaio teve um encontro com o primeiro-ministro, Durão Barroso, para um almoço de trabalho, no Hotel de Turismo da cidade. Às 15 horas, o chefe de Estado seguiu para Fornos de Algodres, onde, pelas 17 horas, reuniu com todos os presidentes de Câmara Municipal do distrito. O encontro teve como principais temas o abastecimento de água e saneamento básico e acessibilidades. Sábado foi um dia dedicado à Saúde, Património, Ensino e Produto de Qualidade (Queijo da Serra da Estrela), Sampaio visitou Aguiar da Beira, Trancoso, Linhares da Beira, no concelho de Celorico da Beira, onde inaugurou o Museu da Agricultura e do Queijo. Os oito dias de presidência aberta no distrito da Guarda chegaram ao fim no domingo, 3, onde Jorge Sampaio presidiu ao lançamento da primeira pedra do Centro de Estudos Ibéricos.
O Presidente da República teve ainda oportunidade de, na terça-feira, 29, visitar o Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) da Guarda, a Gelgurte, assistido à assinatura da escritura de constituição da Plataforma Logística, viajado em camião TIR até Vilar Formoso e conhecer o concelho de Almeida. Já na quarta-feira, 30, Sampaio outro dia "cheio". Pinhel e Seia foram os concelhos que o Presidente da República visitou, onde se destacam as passagens pela fábrica de calçado ARA e Museu do Brinquedo, bem como a reunião sobre a situação do desemprego no distrito, na Biblioteca Municipal, respectivamente. Quanto a quinta feira, 31, Sampaio "voltou" aos tempos de estudante e acompanhou a viagem dos alunos do Ensino Básico, residentes em freguesias distantes, para os estabelecimentos da Guarda. O concelho do Sabugal foi o que se seguiu. Ainda nesse dia, o Presidente da República visitou o Instituto Politécnico e teve audiências, no Governo Civil, com representantes da CGTP, UGT, direcções do NERGA e da Associação Comercial da Guarda.


 



"Distrito mais pobre de Portugal" precisa de solidariedade nacional"



"Nos próximos dias irá visitar um distrito onde cada problema, cada carência, é uma dificuldade redobrada pela escassez de meios ou alternativas para a sua solução". Foi este o aviso que a presidente da Câmara Municipal da Guarda, Maria do Carmo Borges, fez ao Presidente da República, aquando a sua chegada à cidade, no sábado, 26. Jorge Sampaio dava, assim, início a mais uma presidência aberta, a qual terminou este domingo, 3 de Novembro. A autarca, depois do aviso, exigiu "igualdade de tratamento sem prejuízo de uma discriminação que se impõe pela positiva em prol do respeito pela identidade cultural, económica e social". Mas e remata Maria do Carmo Borges, "este é um território de gente resistente, indomável, na sua vontade determinada de lutar pelo progresso e pelo desenvolvimento".
Jorge Sampaio, após reconhecer a debilidade económica do distrito, aludir aos indicadores sócio-económicos que apontam a Guarda como o "distrito mais pobre de Portugal" e como consequência interrogar se o "Estado tem vindo a concretizar, nesta região, o esforço a que a solidariedade nacional exige", defendeu a necessidade de uma "cooperação solidária". Contra as "lamúrias, os desânimos, as injustiças", o chefe de Estado enalteceu a situação da Guarda em termos da utilização das novas tecnologias da informação. Na sua intervenção, Sampaio fez notar que "no panorama social do distrito nem tudo é negro", sublinhando que o índice de desenvolvimento económico e social "coloca os concelhos da Guarda a uma distância máxima de 15 por cento face à média nacional".
Jorge Sampaio recorda, no entanto, que está no distrito da Guarda em "visita de trabalho", ao mesmo tempo que diz não ser "portador de ilusões", apelando, por isso, à auto-estima.