As luzes que anunciam o Centro Comercial estão fundidas

Centro "pouco" Comercial na cidade
"Muita gente nem sabe que existimos"
-diz Ana Paula Carvalho, dona da tabacaria

O Centro Comercial da Covilhã está aberto há 15 anos. Das 28 lojas que possui, somente 14 estão abertas. Os tempos "áureos" já passaram. Os clientes, esses, são cada vez menos. Mas há ainda quem "resista" e acredite que as coisas podem mudar.


Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


Tem uma loja de produtos naturais e já há mais de 15 anos que os vende no Centro Comercial da Covilhã. Não tem do que se queixar. Os clientes são fiéis. O queixume, esse, é dirigido ao "comodismo das pessoas" que não "estão para andar a pé" e por isso não frequentam o Centro Comercial. Maria de Lurdes Carvalho é das lojistas mais antigas e ainda que reconheça que o Centro tem assistido a uma grande quebra, quer de clientes, quer dos próprios lojistas, que se mudam para outros locais, resiste. "Não tenho razão de queixa, mas se tivesse já me tinha ido embora", conta. Questionada sobre o que tem levado muitos comerciantes a abandonarem o Centro Comercial, Maria de Lurdes diz que a situação que aqui se passa é idêntica noutros sectores. "Isto é como o comércio de rua. As pessoas vão quando têm necessidade". Mas existe uma outra razão para que a proprietária da loja de produtos naturais não abandone o Centro. É o sentimento de família que une os que, tal como ela, mantêm as portas abertas. "Entendemo-nos muito bem e somos bastante unidos", afirma. Um sentimento partilhado por Ana Paula Carvalho e Amélia Cunha. A primeira tem uma tabacaria, a segunda uma loja de abajours.
As escadas levam-nos para outro piso. A maioria das lojas estão fechadas. O papel colado nos vidros mostra o abandono a que foram votadas. Com uma espreitadela, dá para ver o correio amontoado. Esperam que alguém decida abri-las de novo. O bulício de outros locais não invade o Centro Comercial da Covilhã. Reina a calma. "Este Centro não é para passear", diz Maria de Lurdes Carvalho.
O rés-do-chão é mais movimentado. Quem entra vai comprar o jornal ou a revista à tabacaria de Ana Paula. Resolveu apostar neste negócio e no Centro Comercial porque a renda não é elevada. Recorda com alguma nostalgia os tempos em que "este Centro era o melhor de todos". Mas depressa corrige o que diz. "Também era o único que existia".

Centro Comercial do Sporting: principal concorrente

Os anos foram passando. Outras grandes superfícies, mais modernas e apelativas, abriram na cidade. "Muita gente nem sabe que existimos", confessa Ana Paula. A seu lado está Amélia Cunha, que acena um sim. "Estamos um pouco à margem", concorda a proprietária da loja de abajours.
Mas pelos vistos, já nem os alugueres acessíveis conseguem "segurar" os comerciantes. José Dias Nicolau teve, durante 12 anos, uma loja no Centro Comercial da Covilhã. Ainda lá está, mas encerrada. Mudou-se, há cerca de três anos e meio, para o Shopping do Sporting. "Temos que procurar o centro da cidade e o melhor local para vender", diz, acrescentando que aqui "há mais juventude". Muitos outros seguiram o exemplo de José Nicolau.
"Sairam daqui muitas pessoas que abriram lojas no Centro Comercial do Sporting", declara Ana Paula, apontando esta como a principal razão de os clientes se terem retirado. Assumem que não têm as melhores condições e que "à vista" o Centro Comercial da Covilhã não é tão apelativo como outros. É que os olhos também "comem". Mas Carlos Alberto Santos, dono de uma barbearia, acredita que "isto ainda vai mudar". É que a esperança é a última a morrer.
Cai a noite. As luzes do "reclame" do Centro Comercial da Covilhã deviam acender. Mas não. Estão estragadas. Esperam um orçamento para voltarem a ser ligadas. Sentem-se um pouco à margem, mas nem por isso desistem. Amanhã é um novo dia. A "anunciada morte" ainda está longe. Quanto ao futuro do Centro, esse, segundo a maioria dos comerciantes, está em lojas de escritórios e consultórios médicos.