Por Tânia Seabra


Manuel da Silva e Costa considera que o discurso político e social gira em torno da eficácia económica

A UBI acolheu, na passada quarta feira, 11, uma conferência sobre "Políticas organizacionais: os deuses e os demónios da eficácia", que contou com a presença de Manuel da Silva e Costa, Catedrático de Sociologia da Universidade do Minho.
"Desvendar os efeitos perversos do culto da eficácia, sobretudo quando se trata de uma referência predominante nas políticas organizacionais, e tentar mostrar que uma boa dose de utopia e referentes históricos são o que faltam à sociedade", são as palavras escolhidas pelo orador para tematizar este debate.
Para Manuel da Silva e Costa "o discurso político e social articula-se à volta da eficácia económica, da competitividade, da materialização da cultura do sucesso". Nas sociedades modernas desapareceram os referentes religiosos, os valores éticos das práticas quotidianas, restando apenas a eficácia do sucesso económico, sublinha.
O conferencista pretendia, nesta intervenção, destronar o mito de que " a eficácia é uma espécie de divindade, diante a qual todos se ajoelham e adoram". A sociedade capitalista, com os seus valores e modos de organização, foi a responsável pela implementação e generalização do culto da eficácia produtiva.
Manuel da Silva e Costa cita Adam Smith para dizer que "é improdutivo o trabalho que não se fixa nem se realiza em nenhum objecto ou coisa que se possa vender".
O orador propôs-se durante a conferência destronar três deuses. O primeiro, é o deus do progresso económico. "O sucesso da mecânica celeste de Galileu e Newton levou o homem a pensar que o futuro do universo era absolutamente previsível", referiu conferencista. Já em 1933 se encontra bem expressa a ideia demoníaca da eficácia: "A ciência descobre, a industria aplica, o homem segue".
O segundo deus é o evangelho da competição. O capitalismo tradicional assentava na ideia da liberdade e da concorrência organizada dirigida pela moral. O capitalismo ocidental está condicionado pela moral dos interesses. Novamente Adam Smith foi citado, quando diz que "a riqueza das nações não se pode fazer à custa da moral".
Por último, o mito da empresarialização da vida quotidiana. "O que resta nas relações sociais se tudo está empresarializado?", pergunta Manuel da Silva e Costa. A lógica da empresarialização é a lógica dos interesses e não dos valores.
O conferencista terminou a sua alocução defendendo que "o que falta na sociedade é libertar e converter as elites dirigentes ao novo modelo de desenvolvimento".