José Geraldes

A prenda do Natal


O presépio dá-nos lições para toda a vida. O silêncio do Menino diz-nos o verdadeiro sentido da sua vinda. E renova todos os caminhos do homem

Ele aí está. Ele, o Menino-Deus que veio anunciar o mundo novo. Mundo onde o ódio devia desaparecer para dar lugar ao amor. Ele que nascido de uma Virgem chamada Maria, era esperado por toda a Humanidade. Ele que fora apresentado pelos profetas como a paz e a justiça.
Ele, que, no dizer do Símbolo de Epifânio, uma das mais antigas fórmulas cristãs da fé, sendo Deus "desceu e encarnou, ou seja, foi perfeitamente gerado. Fez-se homem, isto é, assumiu o homem perfeito, alma,corpo, inteligência e tudo o que representa o homem, excepto o pecado."
Ele que Golwiter considerou "a grande prenda de Deus aos homens."
Até Virgílio, poeta da Antiguidade, fala nos seus versos do nascimento de um menino milagroso através do qual viria ao mundo uma idade de ouro. Na própria Capela Sixtina está pintada a Sibila de Cumas a anunciar o Messias que havia de vir.
E, contraste dos contrastes, o Menino-Deus nasce numa mangedoura. Pobre e sem qualquer conforto. Pois nenhuma porta se abre para que Maria possa dar à luz numa casa.
Francisco de Assis idealiza o presépio para representar o seu nascimento. E é assim que, nas igrejas e praças, com figuras estáticas ou ao vivo, os presépios assinalam o Natal.
Artistas, escritores, poetas, crentes ou não crentes imortalizam em obras históricas este grande acontecimento.
O presépio dá-nos lições para toda a vida. O silêncio do Menino diz-nos o verdadeiro sentido da sua vinda. E renova todos os caminhos do homem.
Daí a definição de Natal dada por Alain : "Natal não é uma noite nem um fim mas uma aurora e um começo." É a nova forma de vida de que Paulo de Tarso fala ao seu amigo Tito.
Em que consiste esta nova forma de vida ? Paulo escreve : "Renunciar à impiedade e aos desejos deste mundo." Impiedade significa viver sem valores normativos. Ou seja não respeitar os valores da autoridade e da solidariedade.
Os desejos deste mundo resumem-se na submissão ao ter, ao sucesso fácil e ao eu como ídolo supremo.
A vida nova iniciada no Natal vai ainda mais longe. O apóstolo Paulo acrescenta que devemos "viver o tempo presente com sobriedade, justiça e piedade." A justiça é a raiz da paz. Viver em justiça marca a regra de todo o comportamento humano em relação aos valores, às pessoas e às situações de cada momento.
A piedade designa a intimidade com Deus e a alegria de O saber no meio de nós. É a ternura do Menino na vida quotidiana.
A sobriedade diz respeito ao uso dos bens que possuímos. Exige um controlo sobre os nossos sentidos, o nosso corpo e implica prioridades na ordem da nossa vida.
O Natal cristão é, pois, viver a paz, a justiça, a solidariedade e o sentido dos outros. Os Pais-Natais não passam de uma invenção da sociedade de consumo para desviar a atenção das crianças do Menino Jesus.
Celebrar o Natal, para além de uma data histórica, marca o início de uma vida nova em cada homem e no mundo.