Paulo Esperança analisou os benefícios do novo modelo de gestão hospitalar
Gestão Hospitalar
Mais liberdade para os hospitais

Professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Paulo Esperança tem estudado o novo regime de gestão hospitalar. Este investigador mostra-se solidário com a adopção desta medida.



Por Eduardo Alves


Uma conferência subordinada ao tema "Remuneração e incentivos no sector da saúde", foi apresentada por Paulo Esperança, no passado dia 10. Analisar os benefícios e as contrapartidas deste método foi um dos objectivos deste encontro que teve lugar na Universidade da Beira Interior (UBI).
O docente está também a estudar as formas de como os profissionais da saúde são remunerados, quer em unidades públicas quer em privadas. Um assunto "complicado e polémico", refere. Isto porque, numa função tradicional, o produto do trabalho pode ser facilmente medido e a partir daí, calcular-se a remuneração correspondente a quem o produziu. Na saúde, "tal como na educação", lembra Paulo Esperança, é muito difícil encontrar o balanço entre a qualidade e a quantidade de tarefas desempenhadas por cada funcionário. Para exemplificar esta tese, o orador recordou o caso dos cirurgiões. Um profissional que execute cinco operações num dia "pode ser tanto ou melhor cirurgião que um seu colega que realiza dez", afirma o docente do ISCTE. O problema fundamental está na forma como são avaliadas as performances de quem desempenha estas tarefas.
O modelo de saúde americano tem alguns exemplos das contradições deste sistema remunerativo. Os gestores e profissionais das unidades hospitalares privadas têm remunerações mais elevadas que os seus congéneres do sector público. O que nem sempre se traduz em melhores resultados. Em grande parte dos casos, estes sistemas funcionam com percentagens de bonificação sobre o trabalho realizado. Quem produzir mais, irá ter uma maior remuneração. "A qualidade tende a ficar esquecida em virtude da quantidade", refere Paulo Esperança.
No caso português, o orador afirmou que "o controlo geral da Função Pública não é adequado ao regime hospitalar". O docente refere que o novo modelo de gestão dos hospitais, onde podem ser aplicados sistemas de remuneração e incentivos, "vem dar uma maior liberdade, mas também responsabilidade, a estas instituições". Na opinião do docente, este é o método mais apropriado.
Num colóquio onde esteve presente Miguel Castelo Branco, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira, foram também referidas duas condições essenciais para que o sistema de remuneração e incentivos na saúde resulte. Na óptica de Paulo Esperança, "a socialização do lugar de trabalho e o espírito de equipa", são condições essenciais para o bom funcionamento das unidades hospitalares. Com estas duas medidas, os funcionários são motivados a prestarem um melhor serviço. O hospital e os doentes ganham em quantidade e qualidade. As remunerações e incentivos devem, segundo o docente do ISCTE, "ser aplicadas de forma geral". O resultado de "ordenados per si, cria falsas propostas e reduz a eficácia", afirma Esperança". Em sua opinião, este sistema "é perfeitamente seguro, se forem tomadas em conta certas medidas", lembra o docente.

Participar na discussão das questões

Mário Raposo, vice-reitor e docente do Departamento de Gestão e Economia da UBI, foi um dos promotores deste evento, integrado no ciclo mensal de conferências, organizadas por aquela unidade científica. Esta palestra destinou-se também aos alunos do mestrado em Gestão de Unidades de Saúde. Já na sua segunda edição, conta com 22 alunos. O próximo mês de Junho é a data prevista para a sua conclusão. Raposo salientou que é cada vez mais importante para uma universidade como a UBI, que tem uma faculdade de Medicina, "promover este tipo de debates e a investigação destas questões".