Catarina Moura

a.U. / d.U.

O meu canto da teia global está algures entre este portátil sobrecarregado de música, filmes e quinquilharia electrónica que tenho aqui em Madrid e um pequeno nicho de computadores espalhados aqui e ali em Portugal. É verdade que a Internet faz parte da minha vida há já alguns anos, mas foi nos últimos meses que assumiu o protagonismo. Como a água (ok ok, os que me conhecem sabem que seria o cappuccino.......) e o pão, a minha ligação ADSL (sim, porque nós "os adictos" deliciamo-nos nestes pequenos refinamentos...) é indiscutivelmente um bem essencial. O dia começa com o passeio pelas contas de e-mail e um salto rápido ao messenger, para dar os bons dias a quem esteja. Ao longo da manhã e da tarde, perco a conta aos w's e @'s que escrevo, na ânsia de ler o que há de novo neste ou naquele jornal português, de visitar / revisitar uma ou outra nova página e, claro, de ver quem me escreve e a quem escrever. E à noite, ao chegar a casa, ligo o messenger como quem acende a lareira e, recostada no meu cadeirão, vou conversando com os meus amigos portugueses, com os quais falo tanto ou mais agora que antes, porque nos damos tempo e porque o messenger tem essa fabulosa magia de permitir que os silêncios não pesem e que tudo pareça poder ser dito. O último refinamento veio com o professor Fidalgo - um microfone, uma boa ligação e já está, temos uma conversa, tal como a entendemos tradicionalmente, tal qual como se estivéssemos ao telefone! E assim, a quilómetros de distância, até mesmo em fusos horários diferentes (eheh uma hora mas....... que charme poder dizer isto!!), discutimos ideias, falamos de trabalho e da vida, enviamos textos e fotos em tempo real, sentindo nesta peculiar experiência e partilha uma proximidade aldeã que me transporta para a tal utopia Macluhaniana que se tem vindo a concretizar no meu quotidiano. E a "culpa" é do Urbi. Sim, o meu calendário também tem um antes e um depois - a.U. e d.U.! Antes do Urbi, via os computadores como o passo a seguir na evolução da máquina de escrever electrónica: tinha ecrã e uma palavra mal escrita não me arruinava uma folha nem me obrigava a pintalgá-la com corrector ("stresses" pré-históricos)! Com o Urbi saí da caverna e as assustadoras sombras transformaram-se neste apaixonante território que ainda hoje continuo a explorar. As coordenadas da minha actualidade são dadas pelo on e off do computador, uma vez que é com ele que trabalho e comunico à distância. E foi também com ele que deixei de temer a distância, que o próprio sentido de distância se transmutou em algo completamente diferente, abstracto até. Depois do Urbi, quebrada a incógnita cibernética, toda a minha evolução, pessoal mas sobretudo profissional, se moldou a esses novos conhecimentos. Os três anos que agora completa o Urbi dão-me a percepção temporal da minha própria evolução. E olhar para o que ele é hoje, e para o que eu sou hoje, revela-me uma verdade muito simples: nunca serei "apenas uma leitora" do Urbi. Embora tenha sido sua chefe de redacção durante os seus primeiros meses na rede, acompanhei de muito perto, espacialmente falando, a sua evolução durante os anos seguintes. Estava na mesma sala e, todas as segundas feiras, revia nas minhas fantásticas "sucessoras" a mesma luta, a mesma dedicação, o mesmo desespero por vezes, e aquela familiar satisfação de, fosse a que horas fosse, colocar uma nova edição online. Quando, três anos passados, fiz as malas e me mudei para Madrid, pensei que tudo ía mudar mas, como disse, foi o entendimento que tinha de distância que mudou. Continuo a ler o Urbi, mas não sou uma leitora qualquer. Porque sei o que é o Urbi. E sobretudo porque o Urbi é parte de mim.

Parabéns à nova Catarina do Urbi, à Dra. Anabela, que teve mais um menino, ao meu mano, que cumpriu os 18, e ao Prof. Fidalgo, o nosso "pai galinha", porque com ele, além de muitas outras coisas, aprendemos que trabalhando podemos transformar ideias em fortes e duradouras realidades.